Renata Simões estreia ”Modos de Mina” no YouTube, que discute as mudanças no comportamento feminino através do tempo. Assista com exclusividade ao primeiro episódio
"Tenha modos!". Essa foi uma frase recorrente na infância da jornalista e apresentadora Renata Simões, 39 anos. Criada pelo pai desde os 10 anos, ela ganhava de suas tias conselhos como: "não respira dentro do copo quando bebe água" e "senta direito". Deslumbrada com as orientações, resolveu comprar um manual de etiqueta. "Achava lindo aquelas meninas que pareciam deslizar enquanto eu tropeçava", diz ela que no começo do ano encontrou em casa um manual de etiqueta fechado. "Agora já estou com quatro e um sobre 'como ser um gentleman moderno'. As regras não parecem ter sido escritas por mulheres, mesmo quando o guia é de etiqueta para garotas. Muitas vezes não são referência de educação e sim de manutenção do discurso vigente sobre o lugar da mulher na sociedade".
Em uma conversa de bar com as amigas sobre o assunto, Renata percebeu que tinha um material legal ali pra discutir o comportamento feminino através do tempo. Foi a premissa para o Modos de Mina, canal no YouTube que discute as mudanças no comportamento feminino através do tempo, tendo como ponto de partida trechos de manuais de etiqueta, confeccionados a partir dos anos 50. O programa mistura imagens célebres da cultura pop, entrevistas com pessoas ligadas ao tema e um debate entre mulheres de diferentes perfis e idades. O debate acontece em uma mesa de bar, onde o garçom é um homem convidado para servir e, com sorte, palpitar. Ao final de cada episódio, a regra de etiqueta é revista e reescrita, mesmo que seja para concluir que não existe regra nenhuma. "Além disso, fazemos uma pequena entrevista com alguém que se relacione com o tema debatido. Sem distinção de gênero, credo, posicionamento político, cor. Pode ser cis, pode ser trans", diz Renata.
Os assuntos abordados abrangem todas as áreas do cotidiano, de sexo a dinheiro, de amor a tabu. "Pra não abrir demais o guarda-chuva partimos sempre de alguma regra de algum manual. Na primeira fomos para 'o que você deixou de fazer por ser mulher', 'quem paga a conta ainda é uma questão' e acabamos falando também de política, depilação e segurança", conta ela. "Por exemplo, no manual de 79 diz que uma mulher jamais deve servir álcool numa festa, apenas o café. E até hoje há lugares em que não é aconselhável uma mulher estar em um bar sozinha. Estamos no meio de uma revolução de comportamento provocada também pela maneira que nos comunicamos, mais rápido, mais direto. Os novos modos estão sendo construídos, e passam pela abolição de todas as regras do que uma mulher deve fazer e esbarram na Escola de Princesas, que evoca esse manual, querendo de alguma maneira dizer que mulher tem que saber determinadas coisas para 'ser mulher'. Gosto muito da ideia de saber as regras para desobedecê-las", afirma a apresentadora.
Se você já está se perguntando se é um programa feminista, acertou. Segundo Renata, o feminismo é primariamente a defesa de que as mulheres são gente capaz de decidir o seu futuro sem intervenção de pai, Estado ou Igreja. "A decisão é nossa de escolher entre ser do lar, do bar, do mar ou de nenhum lugar. Agora, pra ficar tranquila mesmo com essa resposta, gostaria de ter lido mais sobre o assunto para saber se tem alguma regra que eu deveria seguir e não estou seguindo (ironia, rs). O que eu tenho é a minha vivência, que é aquela criação brasileira média machista-liberal, e com a qual eu luto internamente todos os dias."
Na primeira temporada, participam da mesa Taciana Barros, Bela Figueiredo e Lay Dirty. No bar, como garçom, João Paulo Cuenca. Na segunda temporada, as convidadas são Ana Fadigas, Mari Messias e Sue Nhamandu. Servindo as moças, Wilson Eliodório. "Nesse momento em que o debate sobre direitos é aprofundado, não dá para o cara estar em pé de igualdade com a gente porque ele nunca esteve. Um homem não sabe o que é pegar um táxi e se sentir inseguro por ser mulher, não sabe o que é ser cerceado em relação a sexualidade, nunca ouviu que não tem modos. O garçom é essa figura que está presente na discussão de bar mas não está, ouve mais e fala menos, e o que aconteceu nas duas mesas foram situações em que os homens que estiveram ali participaram menos dando opinião e mais perguntando, debatendo, refletindo sobre essa condição que não é sua, com curiosidade. Isso me deixou bastante feliz", diz Renata.
O Modos de Mina não fica limitado ao YouTube. "Na página do Facebook há posts sobre comportamento e mulher, mulheres que amamos, entram as pílulas – ou assuntinhos – que fugiram do tema inicial e renderam um papo nem por isso menos divertido ou importante. Teaser apresentando quem está na mesa do bar e atrás do balcão. Também há planos de fazer playlists misturando nossos vídeos com outros que conversem conosco. Cada mesa que gravamos vira uma espécie de temporada com aquecimento, tema central, spin off. Queremos entender quem vê o que em que canal – tem gente que vê vídeo no celular, tem quem conecte o YT na TV".
Assista com exclusividade ao primeiro episódio.
Créditos
Imagem principal: Gustavo Vargas