Tpm

por Redação
Tpm #72

Em meio à ala masculina que invadiu as paredes paulistanas da galeria Choque Cultural está Camille Rose Garcia, uma artista para ver e entender

por Fernanda Paola e Stephanie Kohn

A exposição “Made in America”, que faz parte do intercâmbio cultural entre as galerias Choque Cultural, de São Paulo, e Jonathan LeVine Gallery, de Nova York, procura promover um encontro entre importantes nomes da arte contemporânea, como Andrew Brandou, Gary Baseman e Camille Rose Garcia – única representante feminina do grupo. Artista plástica, pintora, filha de artistas e dona de uma identidade única em seus trabalhos, Camille, 37, nasceu em Los Angeles e chegou a largar a escola de arte para se dedicar a uma banda punk. Mas, inspirada por artistas da época, voltou com tudo para o mundo da street art e desde então vem representando a nova safra de jovens artistas. A sua criatividade vai do design de bonecas nada convencionais a pinturas sangrentas envoltas num conto de fadas. Seu estilo tem uma atmosfera profunda e obscura que, segundo ela, foi o jeito que achou para mostrar ao mundo o que realmente está acontecendo. “Eu sinto que existem muitos problemas no mundo, mas as pessoas que estão no poder querem afastar a massa de descobrir algo”, diz. Na entrevista a seguir, Camille conta de onde surgem suas inspirações, quais são suas visões de mundo e um pouco mais sobre a disseminação da street art.

Tpm – Sua primeira exibição individual foi no San Jose Museum of Art, em 2007. Nos últimos anos, artistas de rua, designers e artistas populares em geral estão conquistando espaço nas galerias e museus e, conseqüentemente, trazendo pessoas novas para essa área. Como você vê esse movimento?
Camille Rose Garcia – Eu acho ótimo que museus e instituições estão prestando atenção na arte que é “para pessoas”, não somente para acadêmicos em torres de marfim. Por causa da internet, pessoas de toda parte do mundo têm conhecido mais artistas e se tornando grandes fãs, criando, assim, uma atmosfera mais excitante no mundo.

Você acredita que essa recente conquista de espaço dos artistas de rua em museus tem alguma coisa a ver com a estagnação da arte acadêmica?
Sim, a street art tem uma prontidão e uma paixão que se comunicam diretamente com pessoas de todas as tribos. É extremamente acessível, diferente de muitas artes acadêmicas que são mais cerebrais, clínicas e que têm a ver com teorias antiquadas, que ninguém realmente se importa.

O que te inspira a criar?
O processo de criação é quase que imediato para mim. Eu sou inspirada por coisas que acho bonitas e também por coisas que odeio. Isso me deixa brava, então eu tento incorporar os dois [o feio e o bonito] em meu trabalho, tento fazer coisas bonitas a partir de coisas horríveis.

Você produz uma arte profunda e obscura. É assim que enxerga o mundo?
Eu sinto que vejo o mundo como ele é, e tento olhar além do feitiço em que a maioria dos americanos está contida. Eu sinto que existem muitos problemas no mundo, mas as pessoas que estão no poder querem afastar a massa de descobrir algo. Eu sinto que esse é meu trabalho, lembrar as pessoas agora e sempre do que está acontecendo, do que pode acontecer e pelo que nós somos particularmente responsáveis.






Você não pôde vir ao Brasil, mas tem vontade? Você conhece a arte brasileira? Gosta?
Infelizmente, por causa de problemas de horário, eu não pude ir desta vez, mas adoraria ir por pelo menos um mês ou mais. Eu não gosto de ir para outros países apenas por alguns dias, realmente gosto de me aprofundar e não ir com pressa. Então, irei em breve! Eu amo a arte de rua brasileira que tenho visto ultimamente. Realmente gosto muito do que fazem com os pincéis e não somente com o spray. Gosto de ver a expressividade das marcas.

Você acredita que a arte pode mudar a mente das pessoas?
Sim, arte, música e escrita são um mundo mágico capaz de inspirar coisas boas nas pessoas.


Vai lá:
Made in America - Choque Cultural até o fim de fevereiro. Rua João Moura, 997, em Pinheiros, de segunda a sábado, das 12 às 19h. www.choquecultural.com.br
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