Como uma pequena decisão pessoal tomada por uma adolescente afetou a vida de uma comunidade
Aquele parecia apenas mais um fim de tarde de verão californiano quando Meg Roh saiu da água com seu pranchão e pensou que, se conseguisse voltar por mais dez dias para pegar onda, então completaria cem dias seguidos surfando. A noção de que havia surfado pelos últimos cem dias do verão sem perder um fim de tarde sequer a animou. “E se eu conseguisse surfar mil dias seguidos?”, pensou enquanto jogava um pouco de água doce na cabeça perto do carro esperando sua mãe e seu padrasto, que também surfam, saírem da água.
Antes mesmo de chegar em casa a ideia já havia ganhado contornos reais. Mais ainda quando foi incentivada pelos pais – ou “por meus três pais”, como ela se refere à mãe, ao pai e ao padrasto.
Meg Roh nasceu e mora em Dana Point, cidade litorânea de 30 mil habitantes no sul da Califórnia. Ainda muito pequena foi levada pelos pais à praia e colocada sobre um pranchão. “Eu estava com medo, mas assim que senti meu corpo deslizando com a onda eu sabia que tinha me apaixonado”, contou Meg à Tpm.
Desde então, não parou mais. Mas quando, aos 12 anos, teve a ideia de surfar todos os dias, a despeito de condições climáticas, de provas na escola, de gripes e resfriados, o nome dela começou a circular pela comunidade surfista de Dana Point.
Ao completar um ano seguido surfando todos os dias, amigos fizeram um adesivo que dizia “Meg Would Go” (ou Meg iria), em referência ao famoso Eddie Would Go, competição realizada em memória do havaiano Eddie Aikau, primeiro salva-vidas de Waimea Bay – uma das praias que recebe as maiores ondas do mundo. Enquanto Eddie trabalhou por lá, nunca houve um afogamento fatal. Aos 31 anos, já respeitado por toda a comunidade, ele morreu no mar, enquanto tentava ajudar uma equipe de velejadores que havia ficado à deriva. O adesivo passou a ser visto pelos carros de Dana Point. “Meg Would Go” virou então um estado de espírito na pequena região. Como em: “Tá chovendo muito, não vamos sair para uma corrida”. “Ah, vamos sim, a Meg iria.”
Sem tempo ruim
Essa fama começou a ser construída quando surfistas locais chegavam à praia às 6 da manhã e não conseguiam sair do carro por causa do frio, da chuva, do mar quebrado ou de qualquer condição que inviabilizasse o surf, mas viam dentro da água alguém que, desafiando todos os contratempos, surfava. Rapidamente souberam que na água não estava um marmanjo, mas uma menina de 13 anos. E a fama de Meg alçou voo. “Todos os dias de surf são bons, não importa em que condição o mar ou o vento estejam”, ela diz. É o famoso “não tem tempo ruim”, versão Meg Roh, ou “o verão é a gente que faz”.
“Eu acordo, coloco a roupa de borracha, surfo, tomo banho e vou para a aula”, diz. O fato de ser uma aluna que tira apenas A ajuda a família a apoiar. “Eles me incentivam em tudo. De verdade, eu não sei se conseguiria sem eles”, diz. “Um dia perfeito”, ela explica, “não é necessariamente de boas ondas, sol e água quente, mas um dia em que meu padrasto, minha mãe, minha irmã e eu surfamos juntos.”
Para o futuro próximo, ela espera terminar o ensino médio e conseguir entrar em alguma faculdade. Não precisa necessariamente ser perto de casa, apenas perto de alguma praia, ela diz. Depois, quem sabe, se tornar surfista profissional.
Aos 15 anos, Meg segue sua jornada de surfar diariamente. Em 1º de junho foram completados os mil dias – três anos surfando todos os dias. Quando pergunto o que ela conquistou depois de mil dias, ela responde: “Confiança, porque entendi que posso fazer qualquer coisa desde que coloque minha cabeça nisso”.