Margot Rittscher, primeira mulher a surfar no Brasil entre 1936 e 38, se despede do mar
“Formidável” era o adjetivo usado por Margot Rittscher para definir a liberdade que sentia ao surfar. Foi o que ela, a primeira mulher no Brasil a encarar o mar sobre uma prancha, contou nas Páginas Vermelhas da Tpm #74, em 2008 (em 2002, ela foi perfilada na revista pela primeira vez). Mas formidável mesmo é a história de Margot.
Nascida em Nova York, na década de 1910, aos 15 anos se mudou com a família para Santos, litoral paulista. Foi lá, ao lado de Thomas, seu único irmão, que descobriu a ciência de “andar sobre as águas”. Pelo menos era o que dizia quem os observava se equilibrando nas pranchas construídas artesanalmente por ele, inspirado num passo a passo da revista americana Popular Mechanics. “Eles eram pessoas evoluídas, estavam muito além de seu tempo”, comenta Monica Rittscher, filha de Thomas. “Minha tia se emocionava demais quando era reconhecida pelo pioneirismo no surf.”
Margot praticou o esporte regularmente até os anos 60: era uma forma de escapar da puxada rotina como executiva de uma companhia de navegação – ela se tornou a primeira mulher do Porto de Santos a cuidar do carregamento e da estivagem de café numa época em que nem contêiner existia. Vaidosa e sempre ocupada, ela nunca se casou. Tampouco saiu de perto do mar, sua única paixão: assim que acordava, contemplava-o da janela do seu apartamento, no Canal 5 de Santos. Fez isso até a última manhã de vida, no dia 26 de julho, quando faleceu em casa, aos 96 anos, em virtude de um infarto fulminante. “Ela pediu que jogássemos suas cinzas no mar, em frente à janela do apartamento”, conta Monica. O derradeiro encontro da “alma entranhada pelo surf” de Margot com o mar ocorreria no dia 1º de setembro, em cerimônia para familiares e amigos.