Conversamos com a DJ que vai representar o Brasil num dos maiores concursos da categoria
No começo de setembro, Cinara Martins será avaliada por um dos maiores ícones do hip hop mundial: Jazzy Jeff. Embora seja mais conhecido no Brasil pela sua atuação ao lado de Will Smith na série Um Maluco no Pedaço, “Jazz” produziu incontáveis mixtapes e participou de dezenas de álbuns da música negra norte-americana. Ele será um dos jurados do Red Bull Three Styles, concurso mundial que premia os melhores DJs de acordo com o repertório, a criatividade e a técnica utilizadas. E Cinara será a representante do Brasil na disputa, além de única mulher no páreo.
Figura tarimbada no circuito de festas black e clubes de destaque do Brasil, como o D-Edge, Cinara seguiu um caminho alternativo dentro do hip hop. Em vez de fazer parte de uma cena local, ela é uma das representantes da primeira geração que transitou entre a internet e a TV para conhecer nomes como TLC, Dr. Dre e Aaliyah — de quem ela é fã. “Eu cheguei a baixar música pelo Napster, tinha mania de escutar música nas lojas de CDs de shopping e gravava clipes da MTV em fitas VHS”, conta ela.
Do finado canal de música, Cinara lembra do Yo, programa de rap que teve KL Jay, do Racionais MC’s, como apresentador. Hoje, ele e o DJ Cia, do RZO, são parceiros de Cinara na festa Segunda Brava. “O KL Jay me viu tocando bem no final de uma festa e veio falar comigo, disse que o hip hop aqui precisava de gente como eu”, lembra a moça, que nunca nem teve uma picápe na sua casa. “Me sinto estranha ao tocar sem público, só agora parei para treinar em casa, por causa do concurso”, conta.
No início da carreira, em 2004, ela contou com o patrocínio de um tio para comprar um computador usado nas apresentações. “Ele tinha uma ventilação que não podia ser vedada nunca, senão desligava, e, até eu descobrir isso, ele desligou muitas vezes!”, lembra. Enquanto os erros de começo não representaram grandes problemas, o preconceito, ao contrário, já foi. Além de ser branca discotecando um estilo nascido em comunidades negras, Cinara é mulher em meio a uma cena repleta de homens. “Sinto machismo em momentos como esse, quando estou em evidência”, diz.
Embora não concorde, a DJ entende que há razões para que uma mulher seja vista com outros olhos nas picápes. “Tem muitas modelos que só apertam o play. Eu não gosto de quem finge que está tocando. É igual fingir que está cantando. O valor do DJ se perde aí”, conta. Estudante de produção fonográfica na FATEC, Cinara já teve de ouvir piadas até nas aulas da faculdade.
Não faz mal. Trancou o curso para se dedicar ao campeonato e, no fim de agosto, ruma aos confins da Eurásia para botar fogo nos toca-discos -- e tentar transformar o que se pensa sobre uma DJ. “Esse campeonato é uma maneira maravilhosa de mudar essa ideia porque tem um telão e as pessoas vão me ver tocando”, diz ela, pouco antes de começar mais um treino com os DJs Zegon e Nedu.