Estreia em janeiro o documentário que mostra as apresentações intensas de Cássia Eller
A intérprete explosiva, a tímida, a roqueira escrachada, a lésbica, a mãe, a insegura, a vaidosa, a cantora, a mulher. O documentário Cássia, que estreia nos cinemas dia 22 de janeiro, busca mostrar todos esses lados de Cássia Eller, cantora que morreu em 2001 com apenas 39 anos. Para isso, o diretor Paulo Henrique Fontenelle – que dirigiu Loki: Arnaldo Baptista (2008) e Dossiê Jango (2013) – passou quase quatro anos pesquisando material de arquivo, com vídeos de apresentações desde o começo da carreira de Cássia em Brasília, filmagens caseiras, entrevistas e muitas fotos.
Nos depoimentos surgem histórias de parceiros (como Nando Reis, Zélia Duncan e Lan Lan), empresários, família e principalmente Maria Eugênia Martins, companheira da cantora durante anos. O filme não foge de temas polêmicos (um pedido da própria Eugênia ao diretor): estão lá o uso de drogas, as relações com outras mulheres e o sensacionalismo que cercou a morte de Cássia, na época noticiada como sendo por overdose (e mais tarde esclarecida por laudos médicos: foi infarto do miocárdio). O documentário ainda trata da briga judicial pela guarda do filho de Cássia, Francisco Eller, o Chicão – conquistada por Eugênia em uma decisão inédita para os direitos homossexuais. A seguir, um depoimento da própria Eugênia sobre o filme, que ela recomenda muitíssimo.
UMA SAUDADE GOSTOSA
“O Paulo Fontenelle me procurou há uns quatro anos e eu não estava autorizando muita coisa sobre a Cássia. O Chicão era muito novo, 16 anos, e a gente já tinha tido umas experiências chatas com trabalhos que não foram legais. Fiquei gato escaldado, com medo de fazerem coisas apelativas, pra ganhar dinheiro. A gente queria uma homenagem à altura da Cássia. O Paulo é muito simpático, e eu tinha gostado do filme Loki. O que me convenceu foi esse olhar sensível dele, uma maneira doce de olhar para as coisas. Nas conversas iniciais eu disse: 'quero que façam um filme verdadeiro, não quero que transformem a Cássia em uma santa'. Queria contar a história dessa pessoa maravilhosa que ela foi, mas sem santificar. Queria que mostrassem a real. A questão com as drogas, a coisa inquieta dela com as relações amorosas, todas as mulheres... mas com um olhar carinhoso.
Hoje falo da Cássia com muita tranquilidade, sinto uma saudade que é gostosa. Gosto de falar sobre ela, de lembrar, de ouvir as músicas, de ver ela falando. Pra mim é uma experiência prazerosa. Teve uma época em que foi difícil, mas esse período que passou já foi suficiente pra digerir tudo e ficar em paz. Acho que o filme foi maravilhoso pro Chicão. É como se a história dele fosse passada a limpo. Quando ela morreu, ele tinha oito anos. Ele tem muitas lembranças, mas também tem muita coisa que ouviu falar, que conheceu pela televisão, pela internet. Ele saiu da exibição com uma carinha muito boa. Eu adorei o filme. A Cássia está ali, muito bem representada. Não só a Cássia Eller, que todo mundo conhece, mas a Cássia. Por isso o nome também é bastante apropriado: o que está ali é a Cássia, a pessoa, o ser humano, a cantora, a mulher. Eu gosto muito”.