por: Marfrig

Um diálogo urgente

apresentado por Marfrig

O economista Paulo Pianez trocou o mercado financeiro
pela área de sustentabilidade há 12 anos. Hoje, diretor
da Marfrig, ele trabalha para transformar o sensível mercado da pecuária

Não há setor hoje no Brasil em que não se discuta a sustentabilidade, ainda que exista um longo caminho a ser percorrido. As razões são fáceis de listar – aquecimento global, contaminação das águas, extinção de espécies... –, tão presentes que estão em nossa rotina as conversas sobre as urgências ambientais. No Brasil, um país conhecido por sua vegetação nativa e pela abundância de suas águas, esses embates se fazem mais intensos e o foco se volta em grande parte para a atuação da grande indústria. “Está perto de 9% do PIB. A gente está falando de 215 milhões de cabeças de gado no Brasil, temos mais bois do que pessoas. São 2,5 milhões de propriedades rurais que têm algum tipo de pecuária, nos três níveis: na cria, na recria e na engorda”, detalha o diretor de sustentabilidade da Marfrig, Paulo Pianez.

Paulo faz questão de começar pelos números as discussões sobre a importância e os desafios da sustentabilidade para o setor, que ele considera fundamental diante do desafio de alimentar a crescente população mundial. “Se hoje a gente está em 7 bilhões, daqui a pouco serão 10 bilhões. O desafio de alimentar essas pessoas vai ser muito maior, a pressão que a gente vai ter vai ser muito maior. Quais saídas a gente tem? Tecnificação e tecnologia aplicada”, diz ele, chegando ao cerne do que hoje tem sido sua atuação no comando das iniciativas sustentáveis da gigante da pecuária: o incremento tecnológico.

Do monitoramento às técnicas de produção, ele explica que tem sido este o foco do investimento: pensar em saber de onde se originam todos os insumos que consumimos – do produtor do boi aos recursos naturais –, de modo que seja possível criar carnes que tenham o máximo de seu impacto ambiental e social mitigados.

Paulo, hoje com 53 anos, chegou ao cargo faz menos de um ano, como sequência de uma jornada profissional em sustentabilidade que não havia sido planejada. O economista, pós-graduado em estatística, ingressou no segmento há 12 anos, quando trabalhava no varejo, depois de uma carreira pautada por muito tempo no mercado financeiro.

Os caminhos que o levaram a entrar no setor podem não ter sido planejados, mas hoje ele tenta levar para tudo que está em sua rotina. “Não vou ser o eco-chato de plantão, mas, se ouço alguém falando sobre sem conhecimento a causa, sou daqueles que não aguenta ficar quieto, tenho que me segurar. É um assunto recorrente, nas minhas relações pessoais, inclusive”, conta, fazendo questão de frisar, no entanto, que não é adepto de nenhum radicalismo. “Acho importante ouvir o contraditório, todas as partes que estão envolvidas. Tenho um grau de proximidade enorme com as entidades da sociedade civil, desde aquelas que estão no extremo do ativismo àquelas que estão numa relação de composição.”

Em seu trabalho, Paulo diz que a busca deve ser pela eficiência, o que ele considera possível apenas se aliar aos meios de produção o máximo de recursos tecnológicos. E é sobre isso que mais conversamos.

Vivemos um momento de emergências ambientais, aquecimento global, então, é uma necessidade repensar nossas práticas para um caminho sustentável. São muitos desafios, principalmente no que diz respeito a emissões de gases e ocupação da terra, dois assuntos sensíveis. Como é possível lidar com essas questões na pecuária? Eu diria que o conjunto de ações necessárias para que a atividade pecuária seja mais sustentável, conservando os biomas e reduzindo emissões, está muito relacionado com a tecnificação. Com ela, é possível intensificar essa produção e fazer com que haja o maior número de cabeças por hectare, dentro das áreas que hoje já são consolidadas. Combater fortemente a ilegalidade, porque a gente sabe que grande parte do desmatamento que acontece no Brasil tem caráter especulativo e está muito vinculado à ilegalidade. A indústria mais formal, com todo o controle que já vem fazendo nesse últimos dez anos, contribuiu enormemente para prevenir impactos ambientais na sua cadeia de suprimentos, em especial evitar o desmatamento na Amazônia. Porém, todo esse controle esteve muito centrado na exclusão de fornecedores e acreditamos que agora, além da manutenção desse controle, caminhamos para a adoção de um processo que visa incluir esses produtores, desde que estes assumam e pratiquem a legislação em vigor e os compromissos públicos pelo desmatamento zero na Amazônia. Isso é importante, pois esse produtor [excluído pela grande indústria] vai continuar no mercado vendendo esse gado – eu deixo de comprar dele, mas isso não resolve o problema porque provavelmente o produtor vai vender para algum outro frigorífico. Tem um nível de conscientização importante também dentro do mercado, que é o próprio consumidor, lá na ponta, que deve saber aquilo que ele está consumindo, quem está fazendo, como está sendo produzido, que ele possa rastrear. Hoje, pelo código de barras de qualquer corte de carne da Marfrig, se você for lá no site, você tem a história dela.

Mudou bastante o comportamento do consumidor. A gente vê claramente no mundo que o consumidor está muito mais atento ao que ele consome, que quer saber em que condições foram produzidos esses alimentos. Ele quer saber qual impacto tem na saúde dele e também no meio ambiente. E estão crescendo questões que têm a ver com o bem-estar animal, não por acaso o número de vegetarianos aumenta, já são mais de 30 milhões de pessoas, é um nicho de mercado importante. Inclusive, a própria Marfrig vem atuando fortemente nas proteínas vegetais, a “carne vegetal”.

Como funciona o sistema que fornece os dados desse "caminho da carne" que o consumidor consegue rastrear? Em todas as plantas da Marfrig, a gente tem um núcleo de monitoramento via satélite e essa ferramenta é integrada ao sistema de gestão da planta [local onde é feito o abate] e gestão de compra. Usamos esse sistema sempre que vamos fazer uma compra nova de gado. A propriedade tem suas coordenadas, que têm um determinado perímetro. Esse perímetro vai ser cruzado com os dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), para a gente ver se tem algum tipo de problema relacionado ao desmatamento. Se tiver, o próprio sistema automaticamente bloqueia.

Toda a produção da Marfrig já é monitorada? Sim. Hoje, quando a gente fala do fornecedor direto, é 100% controlado sob critérios definidos: desmatamento zero, não pode ter sido produzido em área indígena, não pode ser proveniente de uma unidade de conservação, não pode estar na lista de áreas embargadas pelo Ibama e também, obviamente, não pode estar na lista de trabalho escravo. E a gente está desenvolvendo uma ferramenta que vai ser um mitigador de risco importante, que vai identificar e definir áreas de risco sob a ótica ambiental, abrangendo da cria à engorda, que é o momento em que ele vai ser abatido aqui.

A tecnologia é um conhecimento indissociável da pecuária para ela se tornar sustentável. Eu diria, resumindo a ópera toda, que, para fazer uma pecuária mais sustentável, a gente não precisa mais derrubar uma árvore sequer. Para isso, precisa de tecnologia aplicada, para que se possa intensificar essa produção nas áreas já existentes, produzir um animal de qualidade superior, para que se possa ter uma produção de baixo carbono e livre de desmatamento.

Como é o perfil dos profissionais que trabalham com sustentabilidade na Marfrig? É supervariado. Eu sou formado em economia. O corpo técnico tem muitos veterinários e zootecnistas, principalmente os que estão atrelados ao bem-estar animal. Tem um corpo técnico voltado para a informática e a computação, que é o pessoal que trabalha com o geomonitoramento – o líder é um cientista da computação. Muitos engenheiros do meio ambiente; nas plantas, eu tenho os engenheiros ambientais e florestais, que estão mais focados nisso. São cerca de 170 pessoas na minha equipe voltadas ao tema de sustentabilidade.

 

Como foi a sua entrada no tema sustentabilidade? Eu fui quase autodidata, nunca fiz nenhum curso de sustentabilidade, nem daqueles de 24 horas. Aprendi basicamente indo a fóruns, conversando com especialistas do setor. Acho importante ouvir o contraditório, todas as partes que estão envolvidas. Tenho um grau de proximidade enorme com as entidades da sociedade civil, desde aquelas que estão no extremo do ativismo àquelas que estão numa relação de composição. Acho que disso a gente consegue tirar determinado conhecimento e essa tem sido a minha formação dentro da área.

Você consegue trazer pessoas desse universo mais militante para as discussões dentro da empresa? Sim. A gente vem trabalhando com o WWF em um importante projeto, que ainda vai ser concluído, uma entidade com a qual a gente tem uma proximidade muito grande. Eu mantenho conversas com muitas entidades da sociedade civil, participo de fóruns em que essas entidades estão presentes, mantenho muita conversa com o Ministério Público Federal. Eu diria que a atividade da sustentabilidade é também de relacionamento institucional.

A carne, mesmo com todas essas medidas, é bastante questionada hoje. Como lidam com isso? A gente tem uma população que vai crescer muito ainda. Se hoje estamos em 7 bilhões, daqui a pouco serão 10 bilhões de pessoas. O desafio da alimentação vai ser muito maior, a pressão que a gente vai ter vai ser muito maior. Quais saídas temos? Tecnificação e tecnologia aplicada. E vai caber tudo, a produção orgânica pra quem quer consumir orgânicos, a convencional, desde que atendidos todos os preceitos de saúde e ambientais também. É possível produzir proteína animal de uma maneira sustentável.

Créditos

Imagem principal: Agência Ophelia

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