Soulboy, o filme

por Flávia Durante

Filme com obscura cena northern soul como pano de fundo estreia em setembro na Inglaterra

Estreia em setembro na Inglaterra o filme que tem tudo pra ser a nova sensação entre os fãs de música e cultura da noite, assim como 24 Hour Party People - A Festa Nunca Termina, Party Monster e ControlSoulboy gira em torno de Joe (Martin Compston), um jovem entediado com a sua vidinha de proletário e dividido entre duas mulheres, a sexy Jane (Nichola Burley) e a artista Mandy (Felicity Jones). Com a ajuda de Jane, ele encontra na música e na dança um jeito de esquecer dos seus problemas.

O enredo é um romance como tantos outros, mas o palco para esses conflitos é nada menos do que o Wigan Casino, lendária casa noturna onde despontou o Northern Soul, subgênero da soul music. A cena que leva o nome da região onde era tocada e não onde foi criada, surgiu da classe trabalhadora do norte da Inglaterra que cultuava discos obscuros de soul e passos elaborados de dança. Foi uma das primeiras culturas de clube britânicas e ajudou a moldar o chamado madchester e a cena rave.

De produção independente, com um elenco de novatos e diretor desconhecido, Shimmy Marcus, o vigoroso trailer de Soulboy chama a atenção por reproduzir com fidelidade o Wigan Casino, os passos de dança de seus frequentadores e pela trilha sonora repleta de pérolas. O filme estreia em setembro na Inglaterra e ainda não há previsão para as telonas brasileiras. É torcer pra que ele seja exibido na Mostra de São Paulo ou no Festival do Rio.

 

 

Pra você entender na prática o que é a northern soul, dois especialistas no assunto, Roberto Iwai e Raphael Morone, do Coletivo Action, prepararam um super Top 10 de faixas antigas e contemporâneas.

 

 

01. Major Lance - I Wanna Make Up (Before We Break Up)
Para começar, nada melhor que entender o clima que rolava nos all nighters da época. Em 1972, Major Lance viajava para Stoke on Trent, lar de outra mecca do Northern Soul, o “The Torch”, para gravar um disco ao vivo. Um deus para o público da região e esquecido pelo grande público graças a sua fracassada tentativa de estourar pela Motown, Live at the Torch é uma uma gema subestimada. Na canção "I Wanna Make Up (Before We Break Up)", que chegou a ser um single pela Stax, todo o espírito do Northern Soul é captado para a o disco. Emociona escutar a platéia inteira cantando junto com Major Lance, em um dos seus números mais dançantes.

02. The Flirtations - Nothing But A Heartache
As Flirtations foram talvez o mais famoso girl group do mundo Northern Soul. Em "Nothing But a Heartache", as garotas adicionam a doçura das suas vozes na batida funkeada e com metais em ataque da canção que chegou a ganhar um bonito clipe na época. Virou hit nas pistas do Twisted Wheel, uma das excelências em casas noturnas do gênero, e referência para quando se fala de clássicos do Northern Soul.

03. Dobie Gray - Out On The Floor
Dobie Gray foi um artista que já experimentou o gosto do sucesso. Chegou a assinar contrato com a Decca e teve algumas canções nas paradas americanas. Seu maior sucesso foi um dos hinos dos mods nos anos 60, o poderoso soul “The 'In' Crowd”. Mas foi só com "Out On The Floor" que Dobie ganhou reconhecimento de lenda: uptempo e com um piano ditando a velocidade da batida, a faixa é um verdadeiro hino ao dançarino de Northern Soul, vejam só: "When I'm out on the floor, it makes me feel like a king/Everybody here, don't you know what I mean”.

04. Maxine Brown - It's Torture
Favorita de muitos DJs de Northern Soul, a maravilhosa Maxine Brown inova em "It's Torture". Ninguém imaginaria que o pedal fuzz, usado pelas bandas garageiras e psicodélicas, combinaria tanto em uma canção de soul. Simplesmente mágico.

05. The M.V.P.'s- Turning My Heartbeat Up
Com sabor de Modern Soul em alguns momentos, ainda que seja de 1971, "Turning My Heartbeat Up" tem baixo envolvente e um vocal que em certos momentos intercala uma voz suave, com gritos praticamente libertadores no refrão. Um dos elementos instrumentais mais icônicos do northern soul, o vibrafone, marca presença. A letra, mais uma vez, traduz perfeitamente o espírito dos frequentadores dos all nighters. Não tinha como não dar certo entre os dançarinos e DJs da cultura.

06. Lee David - Temptation Is Calling My Name
Palmas, piano, backing vocals e vocais soulful: A receita de bolo do Northern Soul. "Temptation Is Calling My Name" difere das canções uptempo pela levada bem mais suave que possui. A canção perfeita para quebrar o ritmo alucinante dos dançarinos, sem perder o clima de um all nighter.

07. Ocean Colour Scene - All Up
Nos anos 90 e ano 2000 o Northern Soul ganhou uma revalorização por parte dos herdeiros das mais díspares culturas jovens da Inglaterra: comemorando 25 anos de existência entre mods, skinheads, scooteristas e britpoppers, estes voltavam suas atenções para o gênero e tudo que ele representa e significa. Videoclipes como “Familiar Feeling” do Moloko, “Mercy” de Duffy e “Travellers Tune” e “July” do Ocean Colour Scene fazem menções visuais do gênero. Justamente esta última banda citada, que tinha entre seus membros Steve Cradock, um dos maiores entusiastas e frequentadores da nova geração dos all nighters, gravou o que seria a síntese de uma moderna visão do Northern Soul, a faixa instrumental “All Up”, do disco Marchin' Already, de 1997. Batidas hipnotizantes, pianos sincopados no auge do amor da banda pelo Northern Soul, “All Up” é o retrato de época da contemporaneidade do Britpop não virando as costas para a história da classe jovem trabalhadora britânica, que tudo tinham a ver.

08. Al Supersonic & The Teenagers - I Don't Know (Where's My Girl)
O Northern Soul rompeu fronteiras e chegou a Granada, Espanha, graças aos The Teenagers. O grupo, que já foi banda de apoio de Dean Parrish – um dos grandes nomes do gênero - e da bela P.P. Arnold, é uma das boas novidades da cena soulie atual. “I Don't Know (Where's My Girl)” tem uma levada cadenciada, emoldurando o vocal grave e melodramático de Al Supersonic, vocalista e líder da banda. Notadamente influenciados pelo estilo, animam vários all nighters pela região da Andaluzia.

09. Andy Lewis & Paul Weller - Are You Trying To Be Lonely?
Produtor, músico e DJ fanático por Northern Soul, Andy Lewis ganhou portas abertas da gravadora Acid Jazz para lançar seus trabalhos imersos nas influências do gênero. Escudado por Eddie Piller, dono da Acid Jazz e um dos mais importantes revitalizadores dos all nighters Inglaterra afora, bastou um encontro com Paul Weller para sintetizar uma das maiores pérolas Northern Soul que se tem notícia no ano 2000. “Are You Trying To Be Lonely?” coloca em prática os anos de pesquisa e modernismo de Weller frente ao The Jam e ao The Style Council junto com o amor de ambos Weller e Lewis pela sonoridade, marcando mais uma inspirada fase na carreira do modfather, e fazendo com que Andy Lewis fosse recrutado como baixista da nova formação da banda de Weller.

10. Lord Large featuring Paul Weller – Left, Right & Centre
Apenas a história por trás de “Left, Right & Centre” já pode ser considerada histórica pelos amantes do Northern Soul: a faixa foi encontrada em meio a uma demo gravada por um Paul Weller nos seus 15 anos de idade, e esquecida até meados de 2005. Parando nas mãos do produtor da banda Lord Large através do DJ e fundador da Wigan Casino Russ Winstanley, na hora foi considerada ser regravada pela banda, sendo Dean Parrish indicação pessoal de Weller. A notícia do lançamento do single causou tanto alvoroço em grupos de discussões de membros de Northern Soul que seu lançamento teve de ser antecipado devido ao grande apoio e pedidos dos fãs do gênero. Dean Parrish é responsável pelo compacto de Northern Soul mais vendido da Inglaterra – da música “I'm On My Way” – e todo esse entusiasmo em meio ao lançamento de “Left, Right & Centre” apenas prova que a cultura do Northern Soul está muito longe de enfraquecer sua chama.

Vai lá
Site www.soulboythefilm.com
www.facebook.com/SoulBoyFilm

fechar