Vida e Arte
O trabalho divide as pessoas em empregados e desempregados. O primeiro grupo parece estar em paz com Deus. Distancia-se. Empregados correm de desempregados. Até batem três vezes na madeira quando os encontra. Desempregado dá azar. Representa aproximação do perigo.
Mesmo por isso, Tento caminhar com arte, em busca da impossível elegância. Busco despojamento, sem exigências ou cobranças. O trabalho resultou de meu esforço quando iniciei a invenção de uma história pessoal. Quando percebi, havia construído novas ferramentas. (Marx estava certo) O trabalho me instrumentalizava para que me encaixasse socialmente, sem maiores dificuldades.
Escrever, aulas, projetos sociais, trouxeram-me relacionamentos com pessoas voltadas para o social. Isso enriqueceu minha existência de tesouro de valor incalculável. Amei-os profundamente. Dai para frente só me cabia Indagar, pesquisar, estudar a arriscar tudo na invenção de um novo futuro junto com eles.
Reconhecer o trabalho como meio e o resultado como fim, marcou minha vida. Caminhei consciente que se tudo resultasse errado, trabalhando faria dar certo. Não há nada que integre mais o homem às suas relações. Quase todas minhas amizades foram formadas dentro do ambiente de trabalho. Não separo o que faço de minha consciência, escolhas ou objetivos.
Foi o trabalho que me destacou do limbo existencial a que fui condenado. Exatamente por isso meu trabalho não esta hipotecado a servidões, cooptações, ou alienações. Ele me dá certezas que me sustentam: tudo o que é, ainda não é tudo. Sem essa fé, estaria perdido. Porque para mim o que é, só merece ser ultrapassado.
O meu passado embora sujo, constitui-se de nobres degraus. Eles me dotaram do que há em mim de mais verdadeiro: A suprema emoção de saber que as pessoas gostam de mim no geral e que algumas até me amam, no particular.
A princípio pareceu estranho que me amassem. Não sentia valor em mim. Isso me forçou à autocrítica. Tenho trabalhado permanentemente para me tornar merecedor. Meus amigos são indulgentes e generosos por gostarem de mim. Por isso eu os amo com a multiplicidade de todos meus possíveis.
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Luiz Mendes
07/11/2011.