por Diogo Rodriguez

O cultuado livro Cartas a um jovem poeta, de Rainer Maria Rilke, é adaptado para o teatro

A peça Cartas a um jovem poeta - que estreia nesta quarta, dia 3 de março - é uma adaptação do livro de mesmo nome e outros textos do poeta tcheco Rainer Maria Rilke, contemporâneo de grandes nomes da cultura européia como Sigmund Freud, Friederich Nietszche e Auguste Rodin (de quem o poeta foi secretário). A peça surgiu depois que o ator Ivo Müller descobriu exemplares intocados de Cartas, clássico do aconselhamento literário, na biblioteca da escola em que lecionava teatro - indício de que Rilke não era lido pelos jovens.

Ele tomou um daqueles exemplares emprestado e começou a trabalhar na adaptação, plano que já tinha em mente há alguns anos. Durante a pesquisa, mergulhou no universo do poeta e descobriu que na internet existe um verdadeiro culto a Rilke, o que o torna, segundo Müller, um poeta "pop".

Como começou a idéia de adaptar o livro Cartas a um jovem poeta para o teatro?
Eu já tinha vontade de montar esse livro há cinco anos. Em 2007 eu dava aula de teatro numa escola pública em São Bernardo do Campo e encontrei mais ou menos dez desses livros na biblioteca. Estavam todos novos. Vi que não saíam para empréstimo e resolvi pegar um emprestado para fazer a adaptação.

Por que é relevante encenar um texto tão antigo?
Porque apesar de ter sido escrito há 100 anos, o livro fala sobre a questão da natureza, por exemplo. Talvez seja o tema mais atual por causa da convenção de Copenhague. Resolvemos colocar na arte da peça um cartaz que foi feito por um artista alemão com que o Rilke conviveu, que era integrante de um grupo de artistas que se isolava no norte da Alemanha para criar longe dos ateliês urbanos. Essa árvore também está ligada a um poema no qual ele fala da árvore da vida. Esse tema está ainda mais atual porque no filme Avatar, tem a árvore da vida, que é uma metáfora do grande poder que ela tem: quanto mais profunda é a raiz, mais tempo ela consegue sobreviver, mais nutrientes ela consegue puxar da terra. O outro ponto é a obra das pessoas que conviveram com Rilke. Ele foi amigo e amante de Lou Andreas-Salomé, que também foi colaboradora de Freud e Nietzsche. Toda a obra desses autores, incluindo Rilke e Salomé, já caiu ou vai cair em domínio público agora. Qual o impacto disso? A montagem de Cartas a um jovem poeta é uma maneira de retomar essas discussões cem anos depois, justamente quando a obra está caindo em domínio público.

Rilke é um autor lido no Brasil? Você contou que os livros na biblioteca estavam novos
Ele é bastante lido, sim, o que acontece é que a maior parte das traduções é considerada difícil. O texto também é considerado difícil porque em alemão ele tinha uma formalidade grande. As traduções talvez afastem os adolescentes. Na pesquisa que a gente fez na internet, vimos que ele é pop. Pop mesmo. O que você encontra de site, blog, em homegem ao Rilke... E a maior parte, pelo o que vi, é feita por adolescente e jovens com 25 anos, no máximo. Ele tem um apelo muito grande para essa turma. É muito lido e admirado lá fora, mas no Brasil ele é lido, não tanto quanto deveria ser. Espero que a peça faça com que ele seja mais lido.


Na sua adaptação você procurou amenizar a formalidade ou foi fiel ao texto?

Fizemos esse trabalho de amenizar, apesar de a formalidade ser mais clara na poesia. Nas cartas, em especial em Cartas a um jovem poeta, ele se liberta da formalidade do verso alemão. O que tem de formalidade são coisas da época: começar uma carta chamando o menino de "caro senhor". A montagem tem um pouco disso, mas o foco é a comunicação e a profundidade e simplicidade dela.

Cartas a um jovem poeta
Quando: Quartas e quintas às 19 (até 25 de março)
Onde: Sesc Paulista (Av. Paulista, 119, São Paulo; telefone: 3179-3700)
Quanto: R$ 20 (inteira)

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