”O nu nada mais é que a liberdade”, diz a atriz Roberta Rodrigues, uma das mais de 180 pessoas fotografadas para o livro Pele, de Marcelo Feitosa e Brunno Rangel
Sentir na pele é sentir de verdade. É entrar em contato com o que temos de mais íntimo. “Por baixo da roupa, somos todos pele”, diz Marcelo Feitosa, que, ao lado do fotógrafo Brunno Rangel, despiu mais de 180 pessoas que toparam explorar a força de seus corpos nus em um série de retratos que deu origem ao livro Pele, que será lançado em dezembro.
“Por muito tempo, achei que meu corpo não era aceitável. Perdi 40 quilos e, mesmo assim, demorei para me aceitar. Esse projeto me colocou de frente com meus complexos e mudou minha forma de ver o belo”, diz Brunno. Em janeiro de 2017, ele e Marcelo, casados há quatro anos, começaram a investigar temas como amor próprio, beleza, sensualidade e liberdade através de ensaios fotográficos.
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“Para os retratos, as pessoas se vestem da própria personalidade, de como ela se vê e como deixa o outro vê-la”, define Marcelo. Uma das peles que somam força ao projeto é a de Amanda Carvalho. Em 2014, ela tentou impedir que seu pai ateasse fogo em sua mãe, que não sobreviveu ao ataque. Amanda teve 57% do corpo queimado. “Essas cicatrizes me mostram o quão forte sou e que nada pode me parar. Nem o medo. Me olhei naquelas fotos e foi importante ver minha pele. Me sinto especial porque sou diferente”, conta.
A atriz Roberta Rodrigues viveu no Pele um reencontro com seu corpo depois da gravidez. “Foi a primeira vez que me expus depois dessa transformação. O nu nada mais é que a liberdade. Amar o próprio corpo transforma a vida. Amo a textura, a cor da minha pele negra, brilhosa e iluminada”, diz.
Passaram pelas lentes de Brunno, sempre com direção criativa de Marcelo, outras personalidades, como Reynaldo Gianecchini, Agatha Moreira e Fernanda Paes Leme. Primeira atriz trans do elenco da série Malhação, da TV Globo, Gabriela Loran carrega em seu corpo a luta pelo direito de ser como é. “Esse projeto apareceu em um momento muito importante da minha transformação pessoal, estava superando uma depressão e ali recomecei”, conta.
O servidor público Felipe Lima já tinha visto na internet algumas das fotos de Brunno e Marcelo quando sacou que existia ali um enorme gatilho de autoaceitação. Ele se propôs a participar e acabou clicado para o livro. “Meu corpo me fez sofrer a maior mudança da minha vida. Quando menos esperava, aos 25 anos, tive uma infecção vascular que levou a amputação das duas pernas abaixo do joelho. Foi uma tragédia, mas agora posso dizer que vivo a melhor fase de toda minha vida. O ensaio foi libertador porque me despertou um olhar mais amável para meu corpo”, conta.
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O afeto é revolucionário e é ainda mais poderoso quando conseguimos ser afetuosos com nossa própria existência. Pele é contato, é carinho, é força bruta. “É dali que vem aqueles arrepios, aqueles toques que esquentam o corpo. Adoro isso!”, diz a atriz Juliana Caldas, que confessou ter tomado meia garrafa de vinho antes de tirar a roupa para Brunno e Marcelo. Se entregar pra si mesmo é o tipo de aventura que só pode dar certo. Jorge Aragão sabia o que dizia quando escreveu aquele samba: “Podemos sorrir, nada mais nos impede, não dá pra fugir dessa coisa de pele”.
Créditos
Imagem principal: Marcelo Feitosa e Brunno Rangel
Fotos Marcelo Feitosa e Brunno Rangel