por Endrigo Chiri Braz

Em cartaz na livraria Pop com a exposição Formol, Sesper fala da vital trilogia arte de rua, skate e hardcore

Pelo batismo ele é o Alexandre Cruz. No skate e no hardcore é conhecido por Farofa. Nas artes plásticas assina como Sesper. Aos 34 anos, ele está pronto para unificar todas suas atividades sob o nome que consta no Registro Geral. Até porque tudo vem do mesmo lugar: o cérebro e o coração de Alexandre Cruz. Skate, arte de rua e hardcore colados juntos. Ele está em cartaz na galeria de arte da Livraria Pop com a exposição Formol, composta por 15 trabalhos de colagem. Lá, Sesper recorta e cola seus mais de 20 anos de skate, os 17 anos como vocalista da banda Garage Fuzz, e outros tantos anos de arte urbana.

Qual a diferença dessa exposição para as anteriores?

Nas outras exposições eu usava adesivo, tela de silkscreen, caneta marcador, era um suporte mais bagunçado. Dessa vez organizei melhor o processo, trabalhei com suportes que usava no começo, lá nos anos 90. Nessa exposição não tem spray, não tem caneta marcador, e a colagem é bem variada, tem tecido, papéis de várias gramaturas e texturas. Usei matéria-prima que estava guardando há quase 20 anos, muitas revistas dos anos 80. Um dia olhei para aquele monte de material e resolvi fazer colagem.

E como foi o processo?

Fui separando material para textura, para fundo, para iconografia, para detalhes. Separei três tipo de papel para trabalhar. Comecei a produzir a exposição no começo de 2008 e, ao longo desse tempo, produzi mais de 60 trabalhos. Quinze deles foram vendidos nos primeiros dois meses. Como o espaço de exposição é pequeno, fiz três tipos de obras. Os primeiros trabalhos foram em tamanho A3, mais fácil de trabalhar porque podia levar nas viagens, trabalhar em outros lugares. Depois passei para um suporte de um metro e meio, e a dinâmica mudou. E tem também tem o cinético, que são composições de dois ou três trabalhos juntos. Monto as obras separadas e depois junto tudo.

E o nome Formol vem de onde?

O nome é porque no ano passado tinha parado de desenhar, fiquei um tempo sem fazer nada, fazendo no máximo ilustração digital. Foi legal voltar a produzir, e num processo com a ajuda do William e do Herbert Baglione, do Tinho... Eles me deram um auxílio. Eu ia produzindo e mostrando para eles. Os primeiros trabalhos eram bem limpos, tinha colagem, mas era bem mais pastel, em tons mais claros, e conforme eles foram aumentando de tamanho, ficaram mais pesados pela textura de camadas e pelo uso de cores mais escuras.

E como é trabalhar com colagem [papel, tesoura, cola] em meio a uma revolução tecnológica?

É preciso largar um pouco o mouse. Na verdade é bom ter os dois lados. Fiz um trabalho agora para o Bomb the Bass... O cara viu meu trabalho de colagem, se interessou e me convidou para fazer umas colagens para as capas dos singles. Quando ele percebeu que eu entendia também da parte tecnológica, aí encomendou o trabalho todo... as capas, camisetas, tudo. O primeiro single vai ser lançado agora em setembro. Ontem mesmo estava falando disso... Tem tanto computador que a galera acha que o manual ficou obsoleto, mas tem coisas que ficam muito artificiais no computador. Claro que tem quem saiba fazer uma parada legal, mas no computador é diferente. A relação da tinta com o papel, o corte mal feito da tesoura, isso tudo influencia no resultado final. Pelo computador fica um pouco frio. A vantagem da tecnologia é que eu e o Tim Simenon fizemos o trabalho todo em uma semana e via skype. Inclusive, uma parte legal da capa do primeiro single, a ser lançado em setembro, já está no myspace dele. myspace.com/bombthebass

E tem mais algum trabalho encaminhado lá fora?

Em fevereiro do ano que vem tem uma exposição em Los Angeles, na Carmichael Gallery. Eu participei da coletiva Os Brasileiros lá, eles venderam 10 obras minhas, pediram mais cinco, e agora armaram essa exposição comigo e mais dois artistas dos EUA. Também estou em contato com o skatista Andy Howell, que tem o site Artsprojetk.com e faz exposições virtuais. Está eu e o Flavio Samelo nesse lance. Meu trabalho funciona melhor na Califórnia, a galera de lá abraça mais, isso por causa do skate também. Muitos trabalhos meus têm coisas relacionadas a discos, músicas e skate. Tem um quadro que é o Stevie Willians [skatista profissional nos EUA] como uma puta, tem um do Wu-Tang Clan. Na Europa acho que seria uma pegada mais política e tal, e meu trabalho é um lance mais subversivo. Não vejo muito Brasil no meu trampo. Até a fachada da Pop que eu pintei pra exposição é meio uma tirada com isso, da galera que dá uma forçada em estilo e coisas daqui. Hoje em dia tem artistas fazendo um lance Brasil para ser aceito. Acho que a gente tem que assumir as influências que existem de verdade, e não ficar focando o trabalho para o mercado.

Os skatistas que depois viraram artistas plásticos, como por exemplo o Ed Templenton, o Chris Pastras e o próprio Mark Gonzales, serviram de inspiração pra você?

Quando eu trabalhava na revista 100% Skate, no meio dos anos 90, trouxeram da Alemanha um zine que tinha trampos de todos os caras do skate, o Gonz, o Thomas Campbell, o Natas Kaupas... Era um zine grandão com desenhos de scketchbook desses caras. Quando vi, pensei que poderia também fazer algum trampo porque eram trabalhos muito simples. O Rich Jacobs é um cara que quando conheci o trabalho serviu de start para eu começar a fazer arte. O Sheppard Farey é a referencia para um monte de coisa que fiz. As pessoas em geral quando começam na arte já procuram logo o lado mais acadêmico, uns caras que eu nem flagro. Isso deixa os caras das galerias de arte mais conservadoras loucos. Eles gostam do meu trabalho, começam a conversar e quando percebem que estou em outro mundo, ficam com raiva. Só comprei um livro sobre a Bauhauss agora... Ultimamente, estou buscando estudar mais para acrescentar no meu trampo. Comprei muito livro de artistas de colagem. Quando você é autodidata, chega uma hora que fica sem rumo.

E o Garage Fuzz, segue firme e forte... Estamos juntos há 17 anos e naquelas de vamos até onde der. Hoje em dia todo mundo já tem trabalho fixo, filhos, então a banda já não funciona mais no mesmo formato. Recentemente, fomos para o Nordeste e fizemos quatro shows em 36 horas. E semestre que vem vamos de novo pro Nordeste. A gente montou um formato em que conseguimos manter a banda funcionando sem estresse. Está funcionando.

Créditos

Imagem principal: Fernando Banzi

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