por Paulo Lima
Trip #235

Esta edição procura lançar um olhar solto e elevado para as manifestações do poder

Estamos bem no meio da batalha para conceber e compilar o conteúdo desta Trip, com a missão de levantar a discussão sobre as formas, condições e contextos aparentemente mutantes daquilo que se convencionou chamar de poder. Uma surpresa interessante e inspiradora brota no meio da enxurrada incontrolável de e-mails que, indiferente a todas as barragens e eclusas que se possa inventar, aumenta seu caudaloso volume em regime de progressão geométrica. A mensagem é curta e simpática, e vem assinada pelo nosso colaborador de muitos anos, o fotógrafo André Andrade. Ele nos felicita pela menção à Trip num artigo do professor de ética e filosofia política da Universidade de São Paulo e pensador reputado Renato Janine Ribeiro.

Curiosamente, o artigo publicado dia 17 de junho no jornal Valor Econômico tratava exatamente do poder. A pretexto de analisar as reações dos principais candidatos às eleições presidenciais aos coros de xingamentos dirigidos a Dilma Rousseff durante jogos da Copa do Mundo, Janine faz uma original associação de ideias que leva o leitor diretamente ao seu ponto: como os candidatos àquela que, pelo menos em princípio, é a mais poderosa das cadeiras de um país, encontram-se distantes, cegos, surdos e alheios às verdadeiras e fundamentais novas pautas que se apresentam em sociedades como a nossa hoje. Temas que vão bem além das evidentes e não menos relevantes carências ligadas a saúde, moradia, mobilidade e educação, que se revezam em debates e plataformas de eleições em todos os níveis há décadas, sem que muita coisa de fato seja transformada, diga-se de passagem.

Vejamos alguns trechos extraídos do artigo, que deixam ainda mais clara a tese do autor:

“... A primeira exigência para quem quer governar o Brasil é identificar os sinais do novo. O maior deles, no período recente, esteve nas manifestações de 2013, rompendo com a política tradicional”.

“... O episódio [da reação dos candidatos Aécio e Eduardo aos xingamentos a Dilma, que Janine avalia como questionável e equivocada] revela a pouca sensibilidade dos candidatos homens à renovação dos costumes. Essa nova sensibilidade não se confunde com a direita ou esquerda tradicionais. Aparece no El País, no New York Times, no Guardian, na revista Trip. Repudia o preconceito contra negros, mulheres e homossexuais. Detesta a opressão e a corrupção...”

“... Temos duas agendas distintas na dimensão política da vida social. Uma é centralmente política, enfeixando metas sociais e em meios econômicos. Sobre esta, nossos três candidatos têm muito a dizer. Outra é dos costumes, agenda essa forte especialmente no Brasil: combate preconceitos, opressão e corrupção. É esta agenda que dá o tom do novo, dos jovens – embora não agrade a nenhum dos três candidatos, afeiçoados a uma visão tradicional da política...”

“... Para terminar, esta não é uma questão que possa ser brifada por um assessor. Um candidato pode ter gurus sobre a economia, a energia, transportes, saúde, até mesmo educação – mas precisa entender de política, de sociedade, do movimento do mundo. Gurus são para matérias técnicas, os valores são com o líder. Se ele não capta o espírito do tempo, dará problema”.

Recortar partes de um todo complexo como o artigo de um pensador de alta patente é sempre algo delicado. Felizmente a tecnologia permite reparar qualquer possível dano involuntário, publicando aqui o link para a íntegra da peça em questão: http://goo.gl/60lqjY

No artigo completo, o leitor poderá conhecer em detalhes a análise desenhada pelo autor sobre cada ponto forte e fraco nos movimentos e nas posturas até aquele momento de cada um dos três principais postulantes ao cargo maior da administração pública brasileira. Mas, destacando as ideias acima, não só compartilhamos com você a satisfação de ver a Trip alinhada a poucas e boas publicações que gozam de enorme respeito em âmbito mundial, mas, muito especialmente, porque a menção nos estimula a fortalecer nossa trajetória em busca de crenças, teses, perguntas e visões que, bem além de gerar apenas resultados materiais, possam de fato contribuir para o amadurecimento de uma nação tão duramente judiada como a nossa.

Aqui, em suas mãos, nesta edição que procura lançar um olhar solto e elevado para as velhas e novas manifestações do poder, você verá mais uma genuína tentativa.

Paulo lima, editor

P.S. Alguns dias depois, Renato Janine publicou no jornal O Estado de S.Paulo outro interessante artigo com nova menção à Trip como fonte crível onde se podem ler os anseios de liberdade da sociedade brasileira que, a seu ver, escapam aos candidatos e a uma parte importante da população: http://goo.gl/iVt7Xo

P.S. 2 Na mesma semana de agosto em que comemoramos a exibição do décimo episódio do nosso recém-nascido programa de televisão, o Trip FM, versão radiofônica da Trip, celebra seu 30º aniversário. Trinta anos de muita alegria...

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