O espetáculo ”Razão social” mescla samba e política para mostrar a vida de personagens em meio ao golpe que lançou o Brasil em uma ditadura militar de 21 anos
Na madrugada do dia 31 de março para 1º de abril de 1964, enquanto as tropas militares tomavam as ruas do Rio de Janeiro, o operário Sabino (Gero Camilo) e o estudante Jucelino (Victor Mendes) fogem da polícia e encontram abrigo no Zicartola, antigo restaurante administrado pelo casal Dona Zica (Fabiana Cozza) e Cartola (Adolfo Moura). Tomados pelos medos e tensões do novo regime político que estava prestes a se instaurar no Brasil, os dois personagens se juntam a sambistas icônicos da época numa reflexão sobre o seu tempo e também sobre a trajetória do samba, gênero musical de resistência e engajamento político que comemora seu centenário em 2016. Esse é o roteiro do espetáculo Razão social, que estreia dia 18 de novembro, sexta-feira, às 21 horas, no teatro do Sesc Bom Retiro. Conversamos com os diretores da peça, os atores Gero Camilo e Victor Mendes.
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Trip. Qual o conceito do espetáculo?
Victor. A peça nasce a partir de um desejo de entrar no mundo do samba, mas antes de sabermos que era seu centenário. Misturamos política e música, ditadura e resistência, branco e preto. Falamos de contradições, como sermos o país do samba e ao mesmo tempo marginalizarmos nossos sambistas. No espetáculo, o elenco canta músicas de Cartola, Noel Rosa, Carlos Cachaça, Nelson Cavaquinho, Zé Ketti, Clementina de Jesus. Tudo para celebrarmos e ao mesmo tempo olharmos para um passado recente do Brasil e suas feridas abertas.
Como foi o processo de criação da história?
Gero. Razão social é um texto escrito e dirigido por nós dois, misturando vontades e estudos sobre os sambas, a história dos sambistas, a relação do espaço do Zicartola e a sua importância social no Rio de Janeiro, a história do Brasil a partir de 1964. No entanto, é uma obra de ficção. Foi um processo de dez meses de escrita do texto, e nos deu espaço para mergulhar nesse passado poético/trágico.
Qual a relação de vocês com o samba?
Gero. Tenho dois CDs gravados: Canções de invento e Megatamainho. Em cada um o samba se faz presente. Gosto do samba sem me sentir unicamente sambista.
Victor. O samba é meu gênero musical favorito, escuto desde pequeno e vou em rodas de samba há muitos anos. Sofro e comemoro com samba, sou apaixonado pelos grandes sambistas do nosso Brasil.
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