Obrigado, Millôr

por Luiz Filipe Tavares

Escritor, cartunista e tradutor morre aos 88 anos deixando grande legado para o humor

Morreu ontem à noite (27) o icônico cartunista, escritor, tradutor e símbolo do humor nacional, Millôr Fernandes. Fundador do histórico jornal O Pasquim, que manteve por anos ao lado de Ziraldo, Jaguar e companhia, o autor faleceu em sua casa, na zona sul do Rio de Janeiro, por volta das 21h da última terça feira, vítima de uma falência múltipla dos orgãos. O velório deste multi-homem que foi por anos símbolo da luta contra a repressão e a censura acontece na quinta (29), das 10h as 15h, no cemitério Memorial do Carmo, no bairro do Caju, Zona Portuária do Rio. 

Nascido no Méier, zona norte da Cidade Maravilhosa, em 1923, Millôr emergiu na imprensa muito jovem. Seu primeiro cartum foi publicado pelo O Jornal do Rio de Janeiro em 1933, quando ele ainda tinha 10 anos de idade. Em 38 entrou para a equipe da revista O Cruzeiro, periódico que viria a dirigir anos depois. Em 1957 foi um dos primeiros cartunistas a ganhar exposição solo no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro. Sua escalada veloz o levou ao Pasquim, onde fez fama internacional com seu humor afiado e contestador. Ali ficou bem no olho do furacão, enfrentando com papel e caneta os anos de chumbo da Ditadura Militar. 

Publicou 50 livros de prosa, poesia e desenho. Escreveu 22 peças de teatro. Traduziu 100 obras de gene como Shakespeare, Cervantes, Moliére e Samuel Beckett. Inventou o frescobol e foi vice-campeão de pesca ao atum no Canadá.

Em 2005, a Trip foi até o ateliê do guru do Méier para descobrir como um humorista octagenário conseguia ser mais contundente que a dita imprensa séria e mais transgressor do que a juventude. O resultado foi um papo sobre religião, política, sexo, drogas, felicidade e idiotices, que você pode ler na íntegra aqui.

Como o próprio dizia, "quem é nostálgico não tem futuro". Mas Millôr vai deixar saudades.

FRASES (PER)FEITAS

A argamassa da obra de Millôr é feita de pensamentos soltos, textos curtos e frases. As melhores são como cacos de algo que nunca se quebrou - sua genialidade é tão profunda quanto rasteira e tão séria quanto humorística. Abaixo, o guru do Méier em seus melhores momentos.

"Nunca deixe de fazer amanhã o que pode deixar de fazer hoje"

"Celebridade é um idiota qualquer que apareceu na televisão"

"Quem se curva aos opressores mostra a bunda aos oprimidos"

"A alma enruga antes da pele"

"Os pássaros voam porque não têm ideologia"

"Todo homem nasce original e morre plágio"

"Divagar e sempre"

"A beleza é a inteligência à flor da pele"

"Deus é bom. Está é muito mal cercado"

"A coisa mais ridícula é todo mundo"

"Nossa vida é um dramalhão, que os outros, naturalmente, assistem como comédia" 

Vai lá: www2.uol.com.br/millor

fechar