O Poeta Sergio Vaz
Para que serve museu? Para guardar a memória, evidentemente, diriam os sabidos de plantão. Mas memória de quem e para quem? Porque o povo se entedia nos museus. Dirão que é falta de cultura. Até concordo que haja imensa falta de cultura. Tanta que mesmo por isso, torna-se conveniente aos sabidos de plantão que dominam o panorama cultural nacional.
Porque aquilo não tem nada a ver com a história deles, o povo não vai aos museus e quando vai, não volta fácil. Ir ao museu do Ipiranga não tem o menor sentido para a cultura do povo de onde provenho. Ali esta a memória dos poderosos e não a nossa. Dos poderosos que viveram à custa do tráfico e do trabalho de seres humanos escravizados à força.
Memória daqueles que viveram vidas que nada tem a ver com a vida de cada um de nós. Que glória pode haver em um museu assim para alguém que more na favela e gaste sua vida a troco de salário mínimo? Além do que, ao que consta, aquela história esta toda mal contada. É a versão dos vencedores, exatamente aquela que prevalece.
A memória popular é a dos oprimidos. Daqueles tornados e mantidos escravos pelos opressores. Museu devia ser do Índio, esse nosso nobre irmão por máxima brasilidade. Museu do homem escravizado, do favelado, do retirante, do sem-terra, do trabalhador, do camponês, das fábricas e seus horrores... Então haveria identificação, conhecimento e todo sentido do povo ir a museus. O museu nos livraria de muitos de nossos erros e desarmaria as armadilhas ainda dispostas no caminho.
Não sou contra museus. Há um pensamento afirmando que povo sem memória é povo sem identidade. Mas se esses museus, tais como são, estão ai para nos dar memória, então porque o povo esta tão sem identidade?
Porque os nossos heróis são da periferia. Quase anônimos. Trabalham em silêncio. Quando a gente vai ver, estão promovendo a mais importante manifestação cultural da atualidade. A Cooperifa é exemplo vibrante disso. E quando dia 5 p.p. o fundador da Cooperifa, Sergio Vaz, lança seu sétimo livro pela Editora Global no CEMUR, “Literatura, Pão e Poesia”, no centro de Taboão da Serra, não é de se estranhar que tanta gente tenha comparecido. Havia muito mais que centenas de pessoas. Muitos só vieram prestar sua homenagem ao grande amigo e poeta e acabaram ficando, como é meu caso.
Sergio Vaz é cultura viva do povo, sua poesia é lúcida, clara e eu diria para qualquer pessoa, até para os sabidos de plantão.
**
Luiz Mendes
08/08/2011.