A busca desenfreada pela fama infantil é uma das piores formas de exploração da meninada
Todos os dias, centenas de crianças saem de casa em busca da fama e voltam aos seus lares chupando o frio pirulito da desilusão. Como berrava o cronista da Tijuca: "Onde está a polícia que não vê uma coisa dessas?!".
Atenção senhores pais: os picaretas estão soltos por aí, e a nova fábula não é mais a da cigarra e da formiga. Esopo foi parar no Procon. Reparem o que conta a garotinha F. em um depoimento colhido nas pastas do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor): "Com 8 anos fui vítima dessa porcaria chamada Talentos Brilhantes, sonhei noites com o meu sucesso e isso só resultou em ilusão e gastos para meus pais. Desisti de me iludir".
A Talentos Brilhantes, agência campeã de anúncios em programas de auditórios da TV, lidera também o ranking das reclamações do gênero. Já fez um estrago enorme de norte a sul, mas alega ser tão inocente quanto as crianças embaladas pelo seu continho do vigário...
Atenção senhores pais: chega dessa síndrome de Sasha. Agora, fala a própria Xuxa, em depoimento na Carinhas: "Ela já nasceu pública". Ora, que graça! O um-sete-unzinho das agências que exploram crianças começa com lindos anúncios ? às vezes com galãs globais - convocando meninos e meninas para concursos que selecionarão os novíssimos artistas de novelas, passarelas e propagandas.
Os pais, mães, tios engordam a conta dos truqueiros com uma taxa inicial entre R$ 50 e R$ 100. Mais cenzinho para fazer um "book", mais taxa disso, taxa daquilo... e ainda a obrigação de vender uma cota de ingressos a cada desfile. No catatau de reclamações do Idec, várias famílias pobres ou de classe média baixa revelam que perderam até R$ 960 em investimentos em seus pimpolhos. Ilusões perdidas, como narra a menina F.
Em muitas cidades do interior, as agências picaretas chegam com suas caravanas, prometem celebrizar toda a humanidade, passam o chapéu e zarpam com o circo antes que notem o cheiro de podridão no ar. O máximo que realizam é um desfile de araque em um shopping, um barulho numa praça com ajuda de uma rádio local - e adiós los niños queridos.
Entre os já famosos, o crime começa na barriga da mãe. O herdeiro é obrigado a estrear ainda no exame de ultra-som. Um feto no TV Fama! Dias depois já desfila no Baixo Bebê, área do Leblon onde os peixinhos cariocas debutam para a futilidade e a glória vã ainda no colo das suas invisíveis babás.
Eles já nasceram públicos, como diz a Xuxa. Por falar na Rainha dos Baixinhos, onde andará aquela criança que ela comeu viva no filme Amor Estranho Amor, de 1982? Arde no fogo do anonimato? Quem souber o paradeiro, favor escrever para este cronista.