Paulo Lima: Felizmente acho que não sei exatamente o que a Trip é. Mas é exatamente isso que a mantém sexy, contemporânea e pulsando energizada três décadas depois
Escrevo este editorial sob o efeito inebriante da cerimônia de entrega da décima edição do Prêmio Trip Transformadores, no último dia 8 de novembro. É uma noite que tem um estranho e mágico poder: ela consegue tirar todos nós do turbilhão maluco que nos draga todos os dias na correria desembestada atrás de metas, dinheiro, prazos, conquistas e pequenos prazeres. De verdade. E quem já esteve numa dessas dez celebrações sabe do que eu estou falando, essa noite tem esse poder.
Ao mesmo tempo em que comemoramos o décimo ano do prêmio, celebramos também os 30 anos da Trip. Vou pedir licença então pra falar um pouco sobre isso.
Num país como o Brasil, celebrar 30 anos de uma empresa não ligada a nenhuma estrutura de capital e independente (ou interdependente, como talvez seja mais adequado definir) já é por si só motivo de muita comemoração. Se essa empresa tiver como objetivo propor reflexão de qualidade e trabalhar com todos os fundamentos e significados da cultura, podemos dizer que a façanha é ainda maior.
Uma das coisas que nos fizeram chegar aqui com alguma coerência e sentindo orgulho genuíno do que fazemos é o fato de que a Trip sempre soube se transformar. Acho que somos um experimento permanente que nunca perdeu contato com aquilo que realmente nos move, que é a vontade de produzir boa reflexão sobre a vida e contribuir, ainda que modestamente, para a evolução de cada um de nós, do país e, por que não, do mundo.
Uma coisa certamente não mudou. Continuamos sendo um grupo difícil de definir e de descrever. Se em 1986 tínhamos uma revista que nem o mercado nem a gente mesmo conseguia fazer caber numa das prateleiras existentes ou em algum rótulo conhecido, hoje, 30 anos depois, e agora numa dimensão significativamente mais robusta, continuamos sendo uma porção de coisas difíceis de definir.
Pois é, felizmente acho que não sei exatamente o que a Trip é. Mas é exatamente isso que a mantém sexy, contemporânea e pulsando energizada 30 anos depois...
Estava pensando e acho que começamos como uma marca que queria ser lida pelas pessoas e ao longo do tempo descobrimos que o nosso negócio na verdade é ler as pessoas.
No fim e ao cabo é isso que a gente realmente gosta de fazer. Seja nas centenas de vídeos que produzimos, nos canais digitais que nos levam a milhões de pessoas, nos eventos que encantam, no rádio, na TV, nas intervenções na comunicação estratégica de algumas das maiores empresas do Brasil e do mundo ou nas revistas que editamos.
E é isso também o que nos mantém num nível seguro de distanciamento do rodamoinho do tal turbilhão que dragou e draga tanta gente boa. Esta edição é dedicada a este tema. E tudo o que fazemos é voltado ao nobre objetivo de não deixar que nos afoguemos no fosso da mediocridade. Ou, para citar outra vez o que disse Oscar Niemeyer algumas décadas atrás em nossas Páginas Negras, para que nos livremos da terrível possibilidade de, ao fim dos nossos dias, descobrirmos que tivemos “uma vida merda”...