Pra dançar juntinho

por Carol Ito

Mariana Aydar sempre esteve ligada ao forró. Agora, ela decidiu puxar um bloco de carnaval em homenagem à música nordestina

Mariana Aydar resolveu se entregar de vez ao forró. Com quase 11 anos de carreira, ela está pronta (e com frio na barriga) para comandar o bloco Forrozin no carnaval paulistano. Em parceria com a Associação Acadêmicos do Baixo Augusta, o bloco sai no dia 12 de fevereiro, no emblemático encontro entre as avenidas Ipiranga e São João.

No repertório estão canções de Geraldo Azevedo, Dominguinhos, Edson Duarte, entre outros, celebrando não só o forró, mas toda a música nordestina. O baiano Gilberto Gil fará uma participação especial e nomes como Gaby Amarantos, Zeca Baleiro e Otto estão sendo cotados, mas ainda sem confirmação.

Mesmo gostando de passear por vários estilos da música brasileira, o forró sempre esteve presente no repertório. Não é para menos. A cantora conviveu com Luiz Gonzaga desde a infância porque sua mãe, Bia Aydar, era empresária do Rei do Baião.

Enquanto Gonzagão foi a porta de entrada, Dominguinhos se tornou a grande paixão. A versão da cantora de “Te faço um cafuné”, composta por Zezum e imortalizada na voz de Dominguinhos, virou single e trilha sonora de novela. Em 2014, ela lançou o documentário Dominguinhos, Volta e Meia, em homenagem ao cantor, que está disponível no Youtube no formato de websérie.

Carnavalesca por natureza, Mariana Aydar contou à Trip sobre os preparativos para o bloco Forrozin e os motivos para festejar, diante de um momento tão conturbado do país.

Trip. Você sempre transitou pela MPB e pelo samba. Por que decidiu se jogar no forró? Mariana Aydar. Todos os meus discos têm um forr

ó ou um xote. Samba e forró são muito juntos, né? O samba é meio que pai de todo mundo. Agora, vou fazer um forró mais sambado, mais eletrizado. Na banda, a gente já tá colocando um baixo, começando a dar uma eletrizada. Minha intenção é continuar testando, brincando com esse ritmo. Com certeza vai sair um disco com essa vertente e com as minhas composições que já estão nascendo desse jeito.

Como surgiu o bloco Forrozin? Eu já tinha essa ideia há algum tempo e fui visitar o Alê Youssef, do Baixo Augusta. Tinha a ideia mas faltava alguém que tivesse o know-how de carnaval, para entender como colocar esse bloco na rua. A gente começou a conversar e fez essa parceria maravilhosa, junto com o Acadêmicos que tá aí desde 2009. Existem muitos blocos de forró, o do Falamansa, o do Canto da Ema, mas a gente queria trazer a música nordestina, em geral, com guitarrada. Chamar Gaby Amarantos, Zeca Baleiro, Otto, trazer a comunidade nordestina de várias vertentes. Os nomes ainda não foram enlaçados mas estão sendo articulados.

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Quem é seu ídolo no forró? Dominguinhos é meu ídolo, com certeza. Eu digo que Luiz Gonzaga foi a porta, mas Dominguinhos é minha paixão, porque ele criou um jeito dele. Ele harmonizou tudo diferente, fez discos nos anos 70 que nunca mais foram feitos no Brasil. Ele mexeu com o forró e trouxe essa tristeza, esse lamento. É essa coisa inexplicável da música, que entra sem pedir licença, chega no seu coração rasgando. Por essa paixão que eu resolvi fazer o documentário sobre ele, até de uma forma muito ingênua, porque eu era muito nova. Foi lançado em 2014 mas demorou 9 anos pra ser feito.

Tem vontade de voltar a dirigir? Nem pensar! É muita loucura, fiz só por amor. Hoje em dia se eu fizesse algo assim seria sobre minha filha. Só com muito amor, mesmo.

Tem alguma memória incrível de carnaval? Dos meus 15 aos 20 anos passei o carnaval na Bahia. Atrás do trio elétrico da Daniela Mercury, Araketu, toda uma história. Eu trabalhei um tempo de back vocal da Daniela também, então, meu carnaval tá muito ligado à pipoca, carnaval de rua, tudo a ver com o que eu vou fazer agora. Mas nunca puxei um trio antes, dá um friozinho na barriga.

Qual o lugar do forró no carnaval paulistano? Em São Paulo tem a maior comunidade nordestina do Brasil, né? Toda a minha formação de forró, quando eu saía pra dançar, foi em São Paulo. Eu frequento o Remelexo, o Canto da Ema, ainda danço toda segunda-feira. Em 2000 teve um boom de forró universitário e depois continuou para os amantes como eu. Eu fico muito feliz de trazer isso à tona de novo.

O que o forró tem de tão especial? É muito louco como as músicas são cantadas e recantadas. Recentemente ensaiei uma música que nunca tinha cantado, mas como ela era viva! Tem esse afeto, essa coisa de dançar juntinho, é uma música que tá no imaginário coletivo. Além disso, forró é muito rock’n’roll, é pop. É um power trio, com uma sanfona, uma zabumba e um triângulo, que fazem um som que todo mundo dança. Como é que pode? Eu acredito muito nessa força pop do forró.

2018 chegou com o país dividido e expectativas não muito otimistas. Ainda assim, dá pra festejar? A gente tem que festejar sempre. Espero que esse seja um carnaval que a gente tenha voz, que não seja pão e circo, mas que seja voz, que tenha democracia. O tema do Acadêmicos é “é proibido proibir”, então, a gente está falando sobre política no carnaval, de uma maneira super brasileira. É a festa como forma de resistência e de alegria também. Tem a coisa de você juntar todo mundo num mesmo espaço, de olhar no olho, ao invés de andar pela rua olhando o Instagram. As pessoas se olham, se beijam, se abraçam, dançam juntas, cantam... é uma forma de comunhão social. A gente pode ver tudo isso que tá acontecendo e mudar alguma coisa, a gente é muito mal agradecido na vida, esse é um problema do ser humano. Tem uma música do forró que é maravilhosa, chama “O homem da perna de pau”. Conta a história de um cara que ia no forró e perdeu a perna num acidente. Depois disso, ele voltou a dançar, só que bem melhor. É isso. 

Créditos

Imagem principal: Frâncio de Holanda / Divulgação

Aislan Romeu

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