Somos jovens bobinhos para eles, que são piratas e exploradores milenares, mas não diferimos muito quando somos vistos de perto

Quando penso na China, me ocorrem dois países diferentes. Penso na China milenar de Confúcio e Lao-Tsé, da inteligência multissecular, das terríveis dinastias, dos impérios gigantescos, da Muralha e daqueles enormes guerreiros, que nada tinham de heróicos, mas sim de exploradores do sofrimento humano. Algo bem parecido com o que foi a Idade Média aqui no Ocidente.

E penso também no que o país, hoje tão moderno e tecnológico, representa no contexto atual, sendo a segunda maior economia do mundo, e no caminho de superar os Estados Unidos em um breve período.

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A tendência é que a China continue a ascender, e os americanos terão que tolerar. E não é só por conta das bombas atômicas que ambos possuem.

“ É uma nação que vive de sua produção e produzir é praticamente uma cultura de sobrevivência”
Luiz Alberto Mendes

Os chineses são confucianos e, como era Confúcio, extremamente pragmáticos. Assim como são os americanos, que seguem o pragmatismo norte-americano, popularizado por William James, o primeiro a usar este termo para nomear a corrente filosófica dos EUA do fim do século 19.

Para exportação

Os chineses formam mais de 400 mil engenheiros por ano e os exportam para o mundo todo. Para se pensar: são tantos graduados nessa área, mas quantos se formam em outras carreiras fundamentais, só que mais humanas, ou menos pragmáticas?

É uma nação sempre em fase de aprendizado e a nação com a maior quantidade de gente no mundo. Somos jovens bobinhos para eles, que são piratas e exploradores milenares, mas não diferimos muito quando somos vistos de perto.

A emoção que levamos para tudo, porém, eles não conseguem entender. Os chineses às vezes parecem apenas querer negociar e negociar, em busca de terem a maior cota do mundo. Seria um pensamento tacanho, do tipo “quando ninguém tiver, só eu terei e sobreviverei”?

Mas é a parte cultural a mais complicada e distante. Gostaria que houvesse um intercâmbio maior. Escolas que ensinam inglês ou francês existem aos montes. Raro é encontrar uma de cantonês ou mandarim. E eles têm muito a nos ensinar. Esqueça a política. Mas lembrem das lições sobre o domínio da terra e outros conhecimentos filosóficos que nem compreendemos a grandiosidade. Imaginem alimentar tanta gente.

Conheço mais os japoneses do que os chineses (e não devemos nunca confundi-los: eles se detestam), mas sei que as cidades da China estão se ocidentalizando rapidamente, particularmente os jovens, que querem sempre coisas novas. Globalização.

A própria produção da indústria chinesa mudou; estive preso por 31 anos e a percepção sobre o que vem de lá agora é outra. A qualidade das mercadorias, que antes eram ruins, melhorou.

Hoje, embora continuem a alimentar o mundo de quinquilharias, vendem e criam também tecnologia de ponta, em todas as áreas. Empresas sérias e gigantes se levantaram e as vendas também cresceram. Seus enormes navios entregam de tudo, em cada vez mais quantidade, em qualquer porto do mundo. É uma nação que vive de sua produção e produzir é praticamente uma cultura de sobrevivência. Não importa como, sempre consegue produzir mais – e parece que conseguirá sempre.

Créditos

Imagem principal: © Beijing Silvermine / Thomas Sauvin

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