Dez livros escritos por mulheres sobre mulheres
Margaret Atwood, Bell Hooks, Fernanda Young e a vencedora do Nobel Olga Tokarczuk estão entre as autoras para você ler sem pressa, nesta virada de ano
Por Redação
em 21 de dezembro de 2019
Selecionamos dez livros lançados em 2019, escritos por mulheres e sobre mulheres, para você ler sem pressa, enquanto o tempo passa bem devagar:
Pequenas felicidades trans, de Alice Pereira

O livro foi escrito com a naturalidade de uma mulher trans dando voz à sua própria narrativa. Desenhado com simplicidade, Pequenas Felicidades mostra as dificuldades e as belezas de se encontrar num corpo trans e parte do primeiro contato de Alice, ainda criança, com a palavra “transexual”. Seu diário é usado como fio condutor da narrativa, com a ajuda do LGBT Nerd, um programa fictício em que o apresentador entrevista a autora sobre sua trajetória. Depois de Alice passar pelo processo de transição, a publicação se divide em duas partes, “Coisa que a gente escuta” (frases como “Você nem se comporta como travesti!” e “Você é operada?”) e o apêndice, “Pequeno dicionário trans”, que esclarece termos como “cis” e “binder”, para os leitores leigos. (LETÍCIA PUGLIESI)
Expedição oriente – 812 dias de uma volta ao mundo, Heloisa Schurmann

Velejadora, Heloísa Shurmann vive pelo mar há 35 anos. Ao lado do marido e seus três filhos, eles se tornaram a primeira família brasileira a dar a volta ao mundo em um veleiro. Em Expedição oriente, ela conta sobre a terceira volta ao mundo dos Shurmann, que incluiu seus netos. Depois de três anos de preparações, a família refez a rota descrita pelo oficial da marinha britânica Gavin Menzies em 1421: O ano em que a China descobriu o mundo, lançado em 2002. Por três anos e dois meses, a família reproduziu à bordo do veleiro Kat o caminho percorrido pelos chineses em juncos 70 anos antes dos conhecidos descobrimentos europeus, entre o século 15 e 17. (LP)
Enfrentando o dragão – O Despertar do feminismo na China, Leta Hong Fincher

Na véspera do Dia Internacional da Mulher em 2015, o governo chinês prendeu por 37 dias cinco ativistas feministas. O caso acabou tomando proporções mundiais e a hashtag #freethefive inundou as redes sociais. Escrito pela jornalista Leta Hong Fincher, o livro parte do episódio para mostrar como o movimento encabeçado pelas mulheres chinesas é um dos maiores obstáculos encontrados hoje pelo governo do país. Por meio de entrevistas com as cinco feministas e outras ativistas importantes, a autora esclarece os desafios que elas encontram, traça o surgimento de uma nova consciência feminista e descreve como o regime comunista suprimiu a história de suas lutas e conquistas. (DANDARA FONSECA)
E eu não sou uma mulher?, Bell Hooks

Quase 40 anos depois de sua primeira publicação, a editora Rosa dos Tempos relança o livro, um dos mais importantes de Bell Hooks, aclamada teórica e feminista negra norte-americana. Em 1951, Sojourner Trurh, mulher negra que havia sido escravizada e se tornou oradora após liberta, mostrou na Convenção Nacional de Direitos da Mulher como o ativismo das sufragistas e abolicionistas brancas e ricas excluíam mulheres negras e pobres. A partir do discurso, que ficou conhecido como “Ain’t I a Woman”, Hooks discute o racismo e o sexismo presentes no feminismo, desde o sufrágio até os anos 1970. (DF)
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Incidentes na vida de uma menina escrava, Harriet Ann Jacobs

No livro, Harriet Ann Jacobs faz, a partir de sua história de vida, um dos mais poderosos relatos da escravidão norte-americana. Aos 6 anos, após a morte de sua mãe, ela é enviada para a Casa Grande da fazenda e, depois da morte da proprietária, é deixada com outro fazendeiro. É onde Harriet passa por várias experiências de maus tratos, como os assédios sexuais de seu senhor. Para contê-los, ela se relaciona com seu vizinho, um homem branco, com quem tem dois filhos. Publicado em 1861 com o pseudônimo de Linda Brent, o livro foi considerado por mais de um século um artifício para defender a causa abolicionista e comprovado como uma autobiografia apenas nos anos 1980. (DF)
Sobre Os Ossos dos Mortos, Olga Tokarczuk

Protagonizado por Janina Dusheiko, uma excêntrica e solitária idosa cujo hobby é fazer mapas astrais e dar nomes peculiares para seus vizinhos, a história se desenrola a partir da decisão da narradora de denunciar a caça ilegal no condado em que mora. O livro aborda o especismo, ou seja, o ponto de vista de que uma espécie, no caso a humana, tem todo o direito de explorar, escravizar e matar as demais espécies senscientes por considerá-las inferiores. A autora foi reconhecida por toda essa imaginação narrativa com o Nobel de Literatura de 2018, que só recebeu um ano depois, já que a premiação havia sido suspensa por conta de denúncias de assédio envolvendo um membro ligado à academia. (NATALIA GUARATTO).
Maternidade, Sheila Heti

Procriar ou não procriar é a questão central de Maternidade. O livro dá voz a um tipo de mulher que até agora foi pouco representada na ficção: a que decide não ter filhos. A história é um mergulho nas questões de uma escritora casada, beirando os 40 anos. Movida pela senso comum de que “uma mulher precisa ter filhos porque precisa estar ocupada e há algo de ameaçador em uma mulher que não está ocupada com filhos”, a narradora embarca em uma complexa jornada de perguntas e respostas em busca de uma explicação racional para o seu desejo de não engravidar (NG).
Ela Disse – Os bastidores da reportagem que impulsionou o #MeToo, Jodi Kantor e Megan Twohey

Logo no prefácio do livro, as autoras lembram que quando começaram sua investigação sobre Harvey Weinstein para o New York Times, em 2017, as mulheres tinham mais poder que nunca, mas continuavam a sofrer assédio sexual sem que ninguém fosse punido. A própria Megan já havia publicado reportagens sobre as denúncias envolvendo Donald Trump. Ela Disse traz um relato detalhado sobre esta apuração, que revelou a rede de advogados que acobertava os assédios de Weinstein, comprando o silêncio das vítimas. Além de dar o Prêmio Pulitzer de 2018 às autoras, o trabalho fez com que o #Metoo ecoasse fundo naquele ano e encorajando um grande número de mulheres a dividirem seus relatos. (BRUNA BITTENCOURT)
Posso pedir perdão, só não posso deixar de pecar, Fernanda Young

Pouco antes de morrer, em agosto de 2019, a escritora, roteirista, apresentadora e atriz Fernanda Young entregou à editora Leya Brasil o romance Posso pedir perdão, só não posso deixar de pecar. Escrito quando ela tinha 17 anos, é seu primeiro livro e traz a história de uma jovem que passa a ver o mundo de outra forma após menstruar. A protagonista trata de sua revolta frente à religião da família e fala sobre seu desejo de ser uma mulher livre. A obra conta com colaborações de duas de seus quatro filhos: as gêmeas Cecília e Estela, que assinam, respectivamente, o prefácio e a ilustração da capa. (LUISA ALCANTARA E SILVA)
Os Testamentos, Margaret Atwood

“Uma pergunta a respeito de O Conto da Aia que sempre retornava era: como foi a queda de Gilead? Os testamentos foi escrito para responder a essa pergunta”, escreve Margaret Atwood nos agradecimentos de seu novo livro. Lançado mais de 30 anos depois da publicação de O Conto de Aia, que ganhou popularidade nos últimos anos com a série de TV homônima, Testamentos se passa 15 anos após os acontecimentos do primeiro livro e traz três narradoras, entre elas tia Lydia, que ajuda a sustentar todas as perversidades da sociedade totalitária de Gilead, em que as mulheres são meras reprodutoras. O romance distópico de Atwood — mas que dialoga muito com a realidade atual — levou neste ano o Booker Prize, enquanto Atwood, 80 anos, segue uma forte candidata ao Nobel. (BB)
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