Dez livros escritos por mulheres sobre mulheres

por Redação

Margaret Atwood, Bell Hooks, Fernanda Young e a vencedora do Nobel Olga Tokarczuk estão entre as autoras para você ler sem pressa, nesta virada de ano

Selecionamos dez livros lançados em 2019, escritos por mulheres e sobre mulheres, para você ler sem pressa, enquanto o tempo passa bem devagar:

Pequenas felicidades trans, de Alice Pereira

O livro foi escrito com a naturalidade de uma mulher trans dando voz à sua própria narrativa. Desenhado com simplicidade, Pequenas Felicidades mostra as dificuldades e as belezas de se encontrar num corpo trans e parte do primeiro contato de Alice, ainda criança, com a palavra "transexual". Seu diário é usado como fio condutor da narrativa, com a ajuda do LGBT Nerd, um programa fictício em que o apresentador entrevista a autora sobre sua trajetória. Depois de Alice passar pelo processo de transição, a publicação se divide em duas partes, “Coisa que a gente escuta" (frases como "Você nem se comporta como travesti!" e "Você é operada?") e o apêndice, "Pequeno dicionário trans", que esclarece termos como “cis” e “binder”, para os leitores leigos. (LETÍCIA PUGLIESI) 

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Expedição oriente - 812 dias de uma volta ao mundo, Heloisa Schurmann

Velejadora, Heloísa Shurmann vive pelo mar há 35 anos. Ao lado do marido e seus três filhos, eles se tornaram a primeira família brasileira a dar a volta ao mundo em um veleiro. Em Expedição oriente, ela conta sobre a terceira volta ao mundo dos Shurmann, que incluiu seus netos. Depois de três anos de preparações, a família refez a rota descrita pelo oficial da marinha britânica Gavin Menzies em 1421: O ano em que a China descobriu o mundo, lançado em 2002. Por três anos e dois meses, a família reproduziu à bordo do veleiro Kat o caminho percorrido pelos chineses em juncos 70 anos antes dos conhecidos descobrimentos europeus, entre o século 15 e 17. (LP)

Enfrentando o dragão - O Despertar do feminismo na China, Leta Hong Fincher 

Na véspera do Dia Internacional da Mulher em 2015, o governo chinês prendeu por 37 dias cinco ativistas feministas. O caso acabou tomando proporções mundiais e a hashtag #freethefive inundou as redes sociais. Escrito pela jornalista Leta Hong Fincher, o livro parte do episódio para mostrar como o movimento encabeçado pelas mulheres chinesas é um dos maiores obstáculos encontrados hoje pelo governo do país. Por meio de entrevistas com as cinco feministas e outras ativistas importantes, a autora esclarece os desafios que elas encontram, traça o surgimento de uma nova consciência feminista e descreve como o regime comunista suprimiu a história de suas lutas e conquistas. (DANDARA FONSECA)

E eu não sou uma mulher?, Bell Hooks 

Quase 40 anos depois de sua primeira publicação, a editora Rosa dos Tempos relança o livro, um dos mais importantes de Bell Hooks, aclamada teórica e feminista negra norte-americana. Em 1951, Sojourner Trurh, mulher negra que havia sido escravizada e se tornou oradora após liberta, mostrou na Convenção Nacional de Direitos da Mulher como o ativismo das sufragistas e abolicionistas brancas e ricas excluíam mulheres negras e pobres. A partir do discurso, que ficou conhecido como "Ain't I a Woman", Hooks discute o racismo e o sexismo presentes no feminismo, desde o sufrágio até os anos 1970. (DF)

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Incidentes na vida de uma menina escrava, Harriet Ann Jacobs

No livro, Harriet Ann Jacobs faz, a partir de sua história de vida, um dos mais poderosos relatos da escravidão norte-americana. Aos 6 anos, após a morte de sua mãe, ela é enviada para a Casa Grande da fazenda e, depois da morte da proprietária, é deixada com outro fazendeiro. É onde Harriet passa por várias experiências de maus tratos, como os assédios sexuais de seu senhor. Para contê-los, ela se relaciona com seu vizinho, um homem branco, com quem tem dois filhos. Publicado em 1861 com o pseudônimo de Linda Brent, o livro foi considerado por mais de um século um artifício para defender a causa abolicionista e comprovado como uma autobiografia apenas nos anos 1980. (DF)

Sobre Os Ossos dos Mortos, Olga Tokarczuk

Protagonizado por Janina Dusheiko, uma excêntrica e solitária idosa cujo hobby é fazer mapas astrais e dar nomes peculiares para seus vizinhos, a história se desenrola a partir da decisão da narradora de denunciar a caça ilegal no condado em que mora. O livro aborda o especismo, ou seja, o ponto de vista de que uma espécie, no caso a humana, tem todo o direito de explorar, escravizar e matar as demais espécies senscientes por considerá-las inferiores. A autora foi reconhecida por toda essa imaginação narrativa com o Nobel de Literatura de 2018, que só recebeu um ano depois, já que a premiação havia sido suspensa por conta de denúncias de assédio envolvendo um membro ligado à academia. (NATALIA GUARATTO). 

Maternidade, Sheila Heti 

Procriar ou não procriar é a questão central de Maternidade. O livro dá voz a um tipo de mulher que até agora foi pouco representada na ficção: a que decide não ter filhos. A história é um mergulho nas questões de uma escritora casada, beirando os 40 anos. Movida pela senso comum de que “uma mulher precisa ter filhos porque precisa estar ocupada e há algo de ameaçador em uma mulher que não está ocupada com filhos”, a narradora embarca em uma complexa jornada de perguntas e respostas em busca de uma explicação racional para o seu desejo de não engravidar (NG).  

Ela Disse - Os bastidores da reportagem que impulsionou o #MeToo,  Jodi Kantor e Megan Twohey

Logo no prefácio do livro, as autoras lembram que quando começaram sua investigação sobre Harvey Weinstein para o New York Times, em 2017, as mulheres tinham mais poder que nunca, mas continuavam a sofrer assédio sexual sem que ninguém fosse punido. A própria Megan já havia publicado reportagens sobre as denúncias envolvendo Donald Trump. Ela Disse traz um relato detalhado sobre esta apuração, que revelou a rede de advogados que acobertava os assédios de Weinstein, comprando o silêncio das vítimas. Além de dar o Prêmio Pulitzer de 2018 às autoras, o trabalho fez com que o #Metoo ecoasse fundo naquele ano e encorajando um grande número de mulheres a dividirem seus relatos. (BRUNA BITTENCOURT)

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Posso pedir perdão, só não posso deixar de pecar, Fernanda Young

Pouco antes de morrer, em agosto de 2019, a escritora, roteirista, apresentadora e atriz Fernanda Young entregou à editora Leya Brasil o romance Posso pedir perdão, só não posso deixar de pecar. Escrito quando ela tinha 17 anos, é seu primeiro livro e traz a história de uma jovem que passa a ver o mundo de outra forma após menstruar. A protagonista trata de sua revolta frente à religião da família e fala sobre seu desejo de ser uma mulher livre. A obra conta com colaborações de duas de seus quatro filhos: as gêmeas Cecília e Estela, que assinam, respectivamente, o prefácio e a ilustração da capa. (LUISA ALCANTARA E SILVA)

Os Testamentos, Margaret Atwood

“Uma pergunta a respeito de O Conto da Aia que sempre retornava era: como foi a queda de Gilead? Os testamentos foi escrito para responder a essa pergunta”, escreve Margaret Atwood nos agradecimentos de seu novo livro. Lançado mais de 30 anos depois da publicação de O Conto de Aia, que ganhou popularidade nos últimos anos com a série de TV homônima, Testamentos se passa 15 anos após os acontecimentos do primeiro livro e traz três narradoras, entre elas tia Lydia, que ajuda a sustentar todas as perversidades da sociedade totalitária de Gilead, em que as mulheres são meras reprodutoras. O romance distópico de Atwood —  mas que dialoga muito com a realidade atual — levou neste ano o Booker Prize, enquanto Atwood, 80 anos, segue uma forte candidata ao Nobel. (BB)

 

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