II Valongo Festival Internacional da Imagem ocupa zona portuária de Santos com reflexões sobre crise e transformação
As paredes encardidas do bairro do Valongo, no centro de Santos, escondem o passado glorioso da região. No início do século 20, eram as mais prósperas famílias da cidade que habitavam os casarões que depois testemunharam a decadência que se abateu sobre a zona portuária. Foi exatamente essa carga histórica do Valongo que atraiu o interesse dos fotógrafos Iatã Cannabrava e Thamyres Matarozzi, idealizadores do Valongo Festival Internacional da Imagem, que ocupará a região entre os dias 4 e 8 de outubro.
“O mundo se comunica por portos e aeroportos, mas os portos são muito mais cheios de história. O Valongo tem uma representatividade mítica, foi um cais de navios negreiros”, diz Iatã, que ressalta também a importância de criar mais intimidade entre a população da cidade e a região portuária, tão isolada do dia a dia dos cidadãos.
O lema desta edição do festival será “aberto para obras” e a proposta dos curadores é que os artistas busquem explorar projetos de construção de identidade nacional em tempos de crise moral e econômica. “O Brasil está simbolicamente fechado para reformas, estagnado de medo. Queremos abrir para novas discussões, daí veio essa ideia de estarmos abertos para obras”, explica Iatã.
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A fotógrafa espanhola Cristina de Middel é umas das convidadas para participar da reflexão proposta por Iatã. Em parceria com Bruno Morais, ela apresenta o projeto Excessocenus, em que trata sobre como os excessos e desperdícios tão marcantes na maneira como vivemos podem impactar o futuro. “Partindo do tema proposto por ela, estamos trabalhando para montar a exposição usando material de sobras, sem gastar mais matéria prima, dando ainda mais sentido à crítica ambientalista”, conta o fotógrafo.
O festival recebe ainda o trabalho do português Antonio Julio Duarte, uma representação da riqueza chinesa, e a obra de Patricia Almeida, que traz um retrato da indignação tanto na esfera privada quanto na pública. “Todos os trabalhos dialogam de alguma maneira com a problemática brasileira que estamos enfrentando”, explica Iatã. Entrevistas e workshops completam a programação do festival. Todas as atividades serão gratuitas. “Um indivíduo que frequenta festivais de arte aprende códigos de convívio, faz bem para todo mundo, faz bem para o país”, finaliza.
Créditos
Imagem principal: Cristina de Middel e Bruno Morais