Henrique Fogaça e seu instituto em prol da maconha medicinal

por Nathalia Zaccaro

Batizado com nome de sua filha, Olívia, o projeto vai trabalhar para facilitar acesso de famílias ao CBD

"O canabidiol está trazendo a percepção do mundo para minha filha", diz o chef Henrique Fogaça, pai de Olívia, de 13 anos. Há cerca de dois anos, o óleo de CBD entrou na rotina de tratamentos da garota, que lida com uma doença ainda sem diagnóstico fechado, mas que a impossibilita de realizar tarefas básicas, como falar e andar. 

Depois de testemunhar as melhoras que o óleo de CBD promoveu na vida da filha, Fogaça se prepara para fundar o Instituto Olívia, que irá trabalhar para facilitar o acesso ao óleo a famílias que precisam do medicamento, incentivar a pesquisa científica e, no futuro, cultivar a planta. "Esse remédio mudou a expressão dela, o rosto dela. Ela está mais feliz, reage mais rápido. Quando eu chego e falo com ela, ela olha e dá um sorriso. Isso não acontecia antes", conta. Trocamos uma ideia com o chef sobre CBD, tabus e culinária canábica. Vem ler:

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Trip. Qual o diagnóstico da Olívia? Quais dificuldades ela enfrenta na rotina?

Henrique Fogaça. Ela não tem um diagnóstico claro. Durante os dois primeiros anos de sua vida, a gente pesquisou em vários hospitais com o pessoal que trabalha com genética, mas ninguém nunca conseguiu dar um diagnóstico completo. Ela tem hipotonia, falta de tônus muscular. Ela não fala e nem anda sozinha.  

Quando o CBD surgiu como uma opção? Há dois anos o pessoal de uma empresa chamada Hempmeds, de San Diego, nos Estados Unidos, viram que eu postava a Olívia e entraram em contato falando da medicação. Ela passou por exames com um médico que fica aqui no hospital Albert Einstein, em São Paulo, e que trabalha com essa empresa, e a gente começou a dar o CBD.

Quais avanços você já sentiu? Mudou a expressão dela, o rosto dela. Ela está mais feliz, reage mais rápido. Quando eu chego e falo com ela, ela olha e dá um sorriso. Isso não acontecia antes, ela estava sempre com cabeça baixa, sem expressão. O canabidiol está trazendo a percepção do mundo para minha filha.

Como foi a repercussão do tratamento entre familiares e conhecidos? As pessoas estranham, ficam curiosas? A repercussão foi ótima.  A medicina alternativa é muito cabível nos dias de hoje. Às vezes alguém que é leigo fala: 'Nossa, vem da maconha, não sabia que existia esse óleo''. Mas as pessoas se surpreendem positivamente.

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Como é o tratamento? Como ela recebe o CBD? Ela toma duas doses diárias, de acordo com a prescrição do médico, através de uma sonda que tem na barriga. Quando ela tomava direto na boca não gostava do gosto porque é amargo, mas na sonda é tranquilo.

Qual a parte mais difícil para ter acesso ao tratamento? O processo no Brasil é mais burocrático para conseguir, mas teve bastante avanço, o leque está se abrindo. O mais difícil é a falta de informação, fica tudo mais obscuro. Mas dia após dia a situação está melhorando. 

Você já postou sobre um omelete canábico. Dá para cozinhar com o óleo? Eu fiz um omelete com uma folha de cannabis, ficou muito gostoso, mas não tem fim medicinal. Foi mais um experimento mesmo. Mas em vários países já tem restaurantes que só trabalham com cannabis, fazendo bolos, panquecas, várias coisas. Em breve, se Deus quiser, tudo vai dar certo e vamos ter culinária canabinóide no Brasil também.

Por que você acha que ainda existe tanto tabu em torno do assunto? Existe tabu porque, no passado, a sociedade impôs que a maconha tem relação com facções criminosas. Mas tenho certeza que com o tempo isso vai ser quebrado em prol dos fins medicinais.

Você espera que, ao compartilhar os progressos da Olívia, posso contribuir para facilitar o acesso do remédio a outras famílias? Sim. Estou montando o Instituto Olívia pra gente poder ajudar mais e mais famílias que necessitam do canabinoide. Daqui a alguns meses já começaremos a funcionar. 

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