A economista ficou 2 meses na UTI, recebeu um novo coração aos 30 anos, virou atleta campeã e acaba de lançar um livro sobre sua trajetória
Assim como a notícia do transplante de coração do apresentador Faustão parou o Brasil no mês passado, a história da economista Patrícia Fonseca também ganhou destaque nacional, em 2015. Na época, ela chegou às capas de revista por se tratar de uma das primeiras transplantadas de coração do mundo a se tornar triatleta. “Eu dou valor a ficar em pé, a andar. Na minha família a gente tem o conceito do ‘problema bom’: estourar um cano, bater um carro é problema bom, problema de quem está vivo. A vida é isso, é errar, aprender e descobrir”, diz. Hoje, Patrícia batalha para desmistificar os equívocos que cercam esse tipo de cirurgia e encorajar mais pessoas a optarem pela doação de órgãos. Ela acaba de lançar o livro “Coração de Atleta”, em que narra sua jornada.
Em entrevista ao Trip FM, ela compartilha suas experiências, relembrando a angústia de aguardar na UTI por um coração compatível, as dificuldades enfrentadas durante a infância devido às complicações cardíacas e os medos após a cirurgia. A entrevista fica disponível no Spotify e aqui no site da Trip.
Trip. O que você sentiu quando já estava internada esperando por um coração?
Patrícia Fonseca. Eu fiquei cinco meses na espera por um coração, dois deles na UTI dependendo dos aparelhos para bombear o meu sangue. É um período de muita angústia porque a sua vida depende da escolha de outra pessoa, que não te conhece e vai decidir se salva você ou não. Pode chegar dali um dia ou não chegar nunca. Você começa a se perguntar se é o fim, mas na mesma medida é uma alegria enorme quando o coração chega. E que alegria que chegou para Faustão – e que chegou logo. Já vi coração chegar em uma hora e já vi rico morrer na fila da espera também. A nossa luta é para que as pessoas esperem cada vez menos nas filas.
Antes disso, do ponto de vista psicológico, como você enfrentou todas as limitações que sua saúde impunha? Eu nunca olhei para o lado me comparando ao outro. Em um primeiro momento, precisei entender o que poderia fazer de melhor com aquela vida que eu tinha. Tem tanta coisa boa para fazer que a gente não pode escolher ficar bitolada num objetivo só, ou em um sonho ou pessoa qualquer. Eu não podia dançar, que era o que eu mais gostava, mas eu podia ler, a segunda coisa que eu mais gostava na vida. A questão cardíaca nunca me definiu.
Hoje, olhando para trás, dá para tirar algo de positivo de tudo o que aconteceu? É muito duro com a Patrícia do passado falar isso, mas eu não mudaria a minha história. Foi muito difícil, mas isso me faz ter uma clareza do mundo que está à minha volta que eu não teria de outra maneira. Eu dou valor a ficar em pé, a andar. Tudo vira uma brincadeira. Na minha família a gente tem o conceito do problema bom: estourar um cano, bater um carro é 'problema bom', problema de quem está vivo. A vida é isso, é errar, aprender e descobrir.
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