Entrevistado nas Páginas Negras, Francisco Bosco responde duas perguntas especiais, uma enviada por Tati Bernardi e a outra, por Anderson França
O papo de Milly Lacombe com Francisco Bosco, publicado nas Páginas Negras da Trip #274, contou ainda com duas perguntas especiais, enviadas pela escritora Tati Bernardi e pelo escritor Anderson França. Os dois são cronistas que, em seu trabalho e engajamento, tocam em diversos temas abordados por Bosco. Abaixo, a pergunta de cada um e mais um pouco das ideias defendidas pelo filósofo.
Anderson França. Há uma tentativa de dialogar no seu trabalho, de discernir movimentos feministas e de minoria ou apenas no sentido de "exposição" do modus operandi dessas pessoas?
Francisco Bosco. Acho que não. Há sem dúvida uma tentativa de diálogo. Eu procuro ocupar e expandir um espaço político com esse livro, é um pouco aquilo que eu estava chamando de centro. Eu tentei colocar esse livro num espaço que não é nem das pessoas conservadoras que desqualificam as lutas identitárias sumariamente, categoricamente, muitas vezes sobre a expressão pejorativa do "politicamente correto". Mas, por outro lado, sem me alinhar incondicionalmente a esses movimentos, justamente porque eu percebo neles métodos, premissas e estratégias que são problemáticas. Como tudo na experiência social brasileira presente também em relação a esse campo, falta ocupar esse espaço. Esse espaço me parece mais correto do ponto de vista da interpretação da experiência social e mais produtivo do ponto de vista das suas consequências políticas. Então sim, há uma tentativa de dialogar com esse movimento e principalmente com as pessoas que estão que sendo apresentadas a eles, né.
Tati Bernardi. Ir contra o discurso mais radical do feminismo, aquele que não abre brecha para discussões mais psicanalíticas e apenas impõem certezas com cara de slogan, não lhe dá nenhum gostinho extra por ser polêmico? E, com isso, tornar seus pensamentos mais divulgados e comentados...
Francisco Bosco. Não. É engraçado porque... Outro dia eu tive com a Bela Gil, que é comadre da minha companheira atual, então a gente está sempre junto. E eu me sinto um pouco parecido com a Bela Gil, eu não tenho nenhuma vocação pra "treteiro", eu tenho um temperamento mais diplomático. Eu tô sempre tentando procurar os denominadores comuns, o reconhecimento da posição do outro. Mas, ao mesmo tempo, eu tenho o dever de intelectualizar o público, que é o de tocar nos pontos que são delicados, né. Esse livro eu escrevi contra um movimento íntimo meu, porque eu sabia que eu ia ter que entrar numa intensidade de antagonismo que eu não tenho prazer em entrar. Portanto a resposta pra Tati é: eu não tenho nenhum prazer nisso, eu faço por dever. Agora, eu sou um pouco assim também, dou um boi pra não entrar numa briga e dou uma boiada pra não sair dela. Entrei, vou até o fim e quem quiser chamar pra conversar, eu vou conversar.