Aplicativo da Anistia Internacional mapeia tiroteios no Rio de Janeiro e estima-se aumento de casos com as Olimpíadas
Troca de tiros e balas perdidas não são novidade pra ninguém no Rio de Janeiro. A violência armada nas favelas cariocas continua acontecendo diariamente, inclusive onde existem as UPPs [Unidades de Polícia Pacificadora]. Para levantar dados mais precisos sobre os homicídios e a violência policial, a Anistia Internacional Brasil lançou no último dia 5 o Fogo Cruzado, uma plataforma digital colaborativa que vai mapear os tiroteios na cidade por meio de um aplicativo pra celular combinado a um banco de dados.
"Faltava um lugar onde as pessoas que convivem com essa realidade pudessem se manifestar de forma segura", explica Rebeca Lerer, coordenadora de campanhas da Anistia. Segundo ela, a rotina de tiroteios não é mostrada em toda sua extensão nos meios de comunicação. "São casos isolados que ganham a mídia, como quando alguém é assassinado em um assalto na Lagoa Rodrigo de Freitas. Enquanto isso, tem comunidades com trocas de tiros que duram 12 horas seguidas. As pessoas não podem sair de casa, as aulas são suspensas, os postos de saúde são fechados", conta.
Para usar o aplicativo e reportar uma ocorrência é preciso se cadastrar e os únicos dados obrigatórios para a denúncia são lugar, data e hora do tiroteio. "Foi feito para todo mundo, mas especialmente para os moradores de favelas, que vivem esses confrontos diariamente", explica Rebeca. A plataforma está disponível para Android e iOS com download gratuito. Em três dias no ar, já foram recebidas mais de 280 notificações.
Além da ferramenta, a Anistia oferece conteúdo jornalístico no site, feito por meio dos levantamentos oficiais da organização e dos dados que serão coletados com o mapeamento. A ideia é produzir mapas e relatórios periódicos com essas informações e com dados do Instituto de Segurança Pública do Rio de Janeiro.
Com a aproximação das Olimpíadas, o Rio teve um aumento de 135% nos casos de homicídios praticados pela polícia no período de maio deste ano, comparado com o mesmo período de 2015. "É difícil associar diretamente uma coisa com a outra, mas esses casos se concentram nas favelas que ficam nas vias de acesso entre o aeroporto e as instalações olímpicas." Segundo dados da Anistia Internacional, a dinâmica de crescimento da repressão está se repetindo. Em 2014, ano da Copa, o índice de mortes decorrentes de intervenção policial aumentou 40%, assim como ocorreu em 2007, durante os Jogos Panamericanos, quando tivemos um dos maiores índices de homicídios, com mais de 900 mortes no Rio.
Vai lá: fogocruzado.org.br