Falar é Liberdade

por Luiz Alberto Mendes

 

Falar

 

Falar para mim é como ler: uma necessidade pessoal intransferível. Quando não havia livros ou nada para ler na cela-forte, não conseguia ficar sem as benditas palavrinhas. Lia várias vezes por dia a pasta de escovar os dentes, a embalagem do sabonete e se conseguisse um pedaço de jornal então, Ah! era a glória... Ainda hoje, entrar comigo em super mercado ou em loja no shopping é a pior das viagens. Porque eu quero ler tudo o que esta escrito. Embalagens, produtos, pessoas, cheiros, maciez; leio até com as mãos.

Agora eu falo pela boca. Com microfones, em público, no bar tomando uma “breja”... Falei em palestras e participei de vários debates em muitas Universidades e faculdades, clubes, escolas, associações de bairros, prisões, Unidades da Fundação Casa... Falo no celular, nos livros, nas revistas, jornais, teatro, cinema, computador, rádio, televisão, internet e até na rua como no Açougue Cultural “T Bone” em Brasília, para centenas de pessoas em pé, sentadas em cadeiras nas calçadas ou até andando na rua.

Mas já falei com as mãos, na linguagem dos mudos. Falo com os dedos, na linguagem amorosa do carinho. Com batidinhas na parede em código morse prisional. Com os olhos, de perto e ao longe. Com o rosto inteiro crispado ou relaxado, com o sexo mole ou duro como pedra e o corpo todo. Falei gritando na janela cheia de grades, baixíssimo no celular proibido, andando no páteo de muitas prisões e até em buracos de privadas, pelo encanamento de esgoto.

Falei, falo e falarei porque falar é quase tudo e o silêncio sempre foi a desculpa dos que se acovardam.

                               **

Luiz Mendes

O2/01/2013.

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