Enquanto os Beatles gritavam “iê, iê, iê”, ele ficava pelado no palco. Quando os hippies celebravam o amor, ele berrava “destroy”. James Ostenberg, mais conhecido como Iggy Pop, sempre barbarizou
Enquanto os Beatles gritavam “iê, iê, iê”, ele ficava pelado no palco. Quando os hippies celebravam o amor, ele berrava “destroy”. E quando os punks tomaram a mídia de assalto, ele dizia, com razão, “já vi esse filme”. James Ostenberg, mais conhecido como Iggy Pop, sempre barbarizou. Aos 58 anos, o recém-condecorado Cavalheiro da Legião da Honra da França está prestes a te dar outro nó. Em uma das melhores entrevistas de sua vida, a única em sua passagem recente pelo Brasil, o “Cavaleiro” do Apocalipse mostra, numa varanda de um morro carioca, que também é um bom rapaz. Leia a conversa dele com um velho amigo, que está dirigindo o documentário O Passageiro, sobre sua obra, e junte-se a nós da Trip no coro: volte sempre, senhor James.
Um dia normal em tempos anormais. Passei aquela tarde no Arpoador, escrevendo versos sem sentido, tentando em vão decifrar os ares frios soprando sobre um mar escuro. Que porra de vento sinistro é esse? Cadê os verões tropicais das minhas queridas noites cariocas? “O apocalipse”, foi a voz do vento polar no ouvido deste triste cigano peregrino.
Voltei para o Rio de Janeiro para morar há alguns anos, abandonando casa, carreira e um status suspeito de pioneiro artista “underground”, deixando as ruínas de uma Nova York decadente crente que havia conseguido fugir do fedor asqueroso do apocalipse. E agora a maldição vem me seguindo, feito mendigos da peste. Porra, não há refúgio nem no meu Brasil santo.
A noite desceu com frio e chuva, encontrando-me sentado num canto da Vila Mimosa, em companhia de duas alegres garotas de programa da Bahia. Fugia da melancolia obcecado pelo ritmo das suas histórias: as zonas do Maranhão, contos de fadas e fodas, truculentos garimpeiros com suas peixeiras enferrujadas e sacos de pó de ouro e toda sorte de otários, malandros, cafajestes e cafetões. Funk e poesia sagrada para as almas penadas da noite fosforescente do Rio. Refúgio.
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De repente o maldito celular vibra. Na tela do bagulho infernal: “0000”, ligação do exterior. Uma voz. Peraí... AQUELA voz, inconfundível e poderosa, como um âncora do telejornal do fim do mundo... “HEEEEYYYY, THIS IS IGGY.”
Iggy Pop, meu velho amigo ligando para avisar que dentro de alguns dias estaria no Brasil para dois shows, em São Paulo e no Rio, e se eu gostaria de chegar junto. A gente já vai “chegando juntos” ao longo das décadas em diversos cantos do globo, se divertindo e trocando idéias absurdas — mas sempre verdadeiras. Além da filmagem de 150 horas de material para um documentário dirigido e produzido por mim, traçando a sua vida e a sua carreira mitológicas, temos histórias de outros carnavais... O próprio poeta que vislumbrou o cataclisma desde o início, que escreveu “Search and Destroy” — a trilha sonora do fim do mundo —, estava vindo para o Brasil bem na véspera do apocalipse! Demorou.
Os dias seguintes passaram lentamente na minha vidinha carioca.Mas chuvas e ventos e, durante uma tempestade apocalíptica, a mangueira centenária do meu quintal tombou. Um sinal, pensei. Mas estava alegre porque finalmente os meus amigos e amados brasileiros veriam com seus próprios olhos (e ouvidos) o sagrado coração deste tal de rock’n’roll. Foda-se a MTV! E foda-se a mão de ferro da ditadura multinacional que controla o som que batuca o coração coletivo. Foda-se a geopolítica fascista de gravadoras cuja única obsessão é a expansão do mau gosto, o marketing da mediocridade. Foda-se a neoreligião de rock comercial e a avalanche de roqueiros com alma de boneco de plástico. Abram alas para o poeta visionário, louco, perturbado, marginal, mitomaluco que inspirou o Bowie e várias gerações de juventude transviada do rock, punk e o caralho a quatro. Soem as trombetas! O nobre guerreiro iria guerrear.
Desci em São Paulo para encontrar uma gelada neblina londrina. Coisa de apocalipse, pensei... De repente aparece uma figura multicolorida gesticulando e falando feito uma invasão de papagaios: meu amigo Theo Castilho, pintor e antigo dono da legendária casa noturna Carbono 14 [N.R. Se você tem menos de 30 anos, jovem leitor, faça a lição de casa e pesquise no Google do que se tratava o ‘14]. “E aí, bichou? Porra, cara, o Iggy Pop vai tocar no Brasil e a gente vai poder ir ao ensaio!? Histórico, meu...”, dizia o Theo enquanto pilotava descontroladamente o carro na chuva. As imagens são da megalópole do futuro final. Numa favela sórdida, um porco atola num poço de lama e lixo diante de um fundo de arranha-céus, lápides da civilização ocidental ostentando palavrões violentos: Hilton, Microsoft e o hotel para onde íamos — Hyatt…
Na recepção encontro Iggy registrado com o nome de Joe Cool. Cool me recebe com um abraço e caminhamos. Ele mancando como um soldado aleijado. No carro que nos levaria, Iggy abre a porta num gesto de gentileza que me lembra de velhos tempos. Aí lembro que ele só senta do lado direito, nunca atrás do motorista; coisa de mafioso, de padrinho do punk, coisa de passageiro profissional.
Partindo a caminho de um estúdio de ensaio na Vila Madalena, o Iggy, sentado ao meu lado, feito uma pantera encarcerada, olhando pela janela, fascinado. Vejo sua mão feito um caranguejo curioso à procura do controle da janela. Não há. Com aqueles olhos azuis intensos, a voz: “Jonathan, por favor, pede pro motorista abaixar a janela”. Após checar, sou obrigado a dizer que não dá; “vidro blindado”. Os cantos da sua boca distorcem lentamente num sorriso torto. Enigma total. Silêncio. Ruas. Gatos molhados. Pedestres. Carros. Chuva. De repente, um trovão saindo do ventre da terra condenada seguido pela VOZ: “Aaaaah... Yeeaahh...”. Só Deus sabe o que um gênio perturbado, cabra do apocalipse, quis dizer.
Esta entrevista rolou no dia depois do último show do Rio, na minha casa. Sentado na varanda com Iggy e sua linda namorada, Nina, o papo de horas vôou sobre a Guanabara em companhia de pássaros de diferentes espécies que, ele, fascinado, parava para admirar vez ou outra. Navios e aviões vieram e partiram debaixo da manta nublada de um dia quente e abafado de verão carioca, e os tais ventos apocalípticos deram um tempo em honra a nossa visita distinta.
Depois de tantos anos na periferia das artes parece que você está começando a receber reconhecimento como um artista “legítimo”. Como se sente a esse respeito? É engraçado, sabe, depois de tantos anos... Tive aquele passado com o mundo da arte “sério” em que diziam, “Pop, oh, merda, não!”. No começo era “não deixe ele entrar na sua casa porque ele vai roubar as suas coisas!”. Depois, fui promovido para “ele é idiota”. Depois “ele é louco” e, então, “bem, isso não é arte, é?”. Agora, finalmente, a coisa está tipo “o.k., essa merda é o.k.”. Quando morava na Inglaterra com o Bowie, lembro que havia um programa chamado South Bank, super-respeitado nos anos 70, que era sempre sobre um cara importante, de Al Pacino a Noam Chomski. O Bowie vivia dizendo “eles deviam fazer um sobre você”. Uns 30 anos depois, eles chegaram.
Como foi? Eles mandam um Lorde Não Sei das Quantas pra te entrevistar, mas ele não queria vir me ver nos EUA e perguntou se eu poderia ir a Londres. Eu disse: “Não vou, ou tal Lorde vem me ver na porra da minha casa ou fodam-se vocês!”. Ele veio com aquele sotaque e uns sapatinhos de lorde, acompanhou nossa turnê e depois fizeram um programa de meia hora para o horário nobre da TV inglesa. Bem mais tarde ele confessou que estava apreensivo com relação à nossa entrevista porque achou que eu ia vomitar nele ou algo assim... [risos].
Você se sentiu reconhecido? Sabe, é engraçado, depois de tantos anos querendo uma coisa, quando finalmente consegui acho que já não ligava mais tanto... Agora que tenho, e ganhei até aquele negócio do Ministério de Artes e Letras da França, sei lá...
Que negócio? É uma coisa toda importante, em que todos os outros artistas eram franceses e ficaram resmungando por minha causa... Dizia no prêmio que eu sou “um oficial no exército que luta pelas artes” [o título de Chevalier de L'Ordre National de la Legion d'Honneur], o que concordo, por isso aceitei a placa, que está lá em casa na minha pequena biblioteca, junto com a foto da Nina e do Lucky [respectivamente sua escultural namorada mulata e seu poodle branco].
E como é voltar ao Brasil depois de tanto tempo? Eu fiquei bem puto por anos porque os brasileiros nunca me convidaram para o Rock in Rio... Eu ficava pensando: “Seus filhos-da-puta artificiais e superficiais, vão se foder!”. Fiquei bem ressentido com isso…
É estranho, depois de anos fazendo milhares de apresentações, que esse seja seu primeiro grande show no Brasil... Eu já toquei aqui antes, showzinho esquisito, com pouquíssimas pessoas na platéia.
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Quando foi isso? 1989, em São Paulo, num ginásio de universidade, algo assim, com umas mil pessoas assistindo, na sua maioria estudantes [foi na antiga casa de shows Projeto SP, e em 88]. E depois aqui no Rio, onde foi bom para caralho — um clubinho sujo, não sei o nome, Copa alguma coisa... Lembro que tinha um gato e um rato nos camarins e adorei. Adorei a platéia. Sinistra, sabe? E tinha uma energia ótima.
Alguma outra lembrança do Rio? Lembro que fui para a praia no dia seguinte e vi o mar, o grande oceano, e aí tirei os tênis, andei na beira d’água e a sensação foi maravilhosa. Rio de Janeiro, uau! Quando saí e fui procurar meus tênis... Cadê? Sumiram! [risos]. Andei pela praia toda até que vi um garoto fugindo com a porra dos meus tênis. E aí caiu a ficha, “ah, deixa pra lá”.
Bem-vindo ao Rio... [Rindo] É, bem-vindo ao Rio...Mas foi uma estada maravilhosa aquela, e, desde então, sempre quis voltar e ninguém nunca me convidou. Quando finalmente convidaram, eu disse não, então eles tiveram de pagar muito mais [risos]. “Agora vocês me querem? Então vão ter de pagar!”
[Risos] Não dá mole... Como foi tocar aqui dessa vez? Senti um astral muito bom, acho que as pessoas realmente gostaram. Não tinha a menor ideia se elas nos conheciam ou não, ou se só gostavam de rock’n’roll tipo Billy Idol, que é só vestir jaqueta de couro, ser bonitinho e ter uma megaprodução. Sabia que vinha o Sonic Youth, que tem um som mais cabeça, e sei que aqui existe o “intelectual latino-americano superprotegido” [risos] — em todo país tem sempre um grupinho de gente com grau universitário que nunca é ameaçado... Pensei: “Bem, se eles gostam de Sonic Youth, o que vai ser de nós?”. Subitamente o público foi tão receptivo, as pessoas estavam com uma mente aberta. Não sei e não me interessa qual era a expectativa que elas tinham, mas era visível, enquanto tocávamos, que elas estavam com os olhos e ouvidos abertos e, aí, o público começa a entrar no ritmo. Essas coisas são bem básicas, mas são as mais importantes, sabe?
Vejo que você não teve tempo pra conhecer muita coisa aqui no Brasil... Esses shows realmente exigiram muito de mim, duas noites, duas cidades direto... Hoje em dia não faço mais isso.
Isso é novidade, comparado à época em que eu viajava com você em turnê... É, bem, já se passaram alguns anos desde aquele tempo, e a idade vai pegando...
Mas você engana bem... É meu trabalho...
Depois de tantos anos de autonomia, sendo o chefe, como é tocar de novo com o The Stooges? [Rindo] É muuuito estranho… Bem, estou tentando gravar um álbum com esses caras e a coisa é meio complexa, porque eles ainda têm os mesmos parâmetros absurdos de uma banda de rock dos anos 60. Se não gostam de alguma proposta do produtor ficam só olhando para o chão, emburrados, dizendo “isso é uma merda, cara”. Não é como uma banda moderna, que trata do repertório segundo pesquisas. Verdade que faço todo o trabalho sujo, essa coisa de “líder”...
Então é um pé no saco? É um grande saco [risos]… Mas tudo bem, funciona, a qualidade do trabalho é maior e o dinheiro, depois de eu voltar com eles, triplicou. É, triplicou, e assim que triplicou tinha lá mais três caras com quem dividir a grana [risos]. Mas a gente se sente melhor quando a qualidade do trabalho é mais alta, porque em termos de criatividade chegou um momento, por volta de 2000, em que eu senti que estava travado. Como se já tivesse conseguido extrair tudo do meu trabalho. Logo antes do [álbum] Skull Ring. Antes, eu fazia meu trabalho com minha bandazinha suja de marginais só para provar pra todo mundo que eu conseguiria, tipo “vão se foder, não preciso de vocês, posso fazer minha música com essa escória, do meu jeito, e colocar uma boceta na capa!” [risos]. Sabe, a capa original tinha um desenho e, quando a viu, a Virgin Records marcou uma reunião com o departamento jurídico: “Vejamos o que temos aqui... Temos pelos púbicos... Temos uma genitália feminina… Temos um cigarro aceso... e temos uma arma de fogo” [risos]. Sacou? Aí começamos a negociar, e eles eliminaram os pelos. Não me lembro da arma... Será que ela ficou? Bom, essa coisa se chamou Beat ‘Em Up — eu simplesmente fiz o álbum mais idiota possível, com músicas como “It’s All Shit”.
É tudo uma merda mesmo. Continuando... Quando o vejo no palco, coisa recorrente ao longo desses anos, me pergunto se em algum momento você se sente como se uma entidade o possuísse. [Rindo] Uau, o Lorde Fulano fez exatamente a mesma pergunta... É isso o que você vê?
Ah, sim, e até já filmei momentos quando você está saindo do seu camarim e subindo os degraus para o palco e, de repente, algo se apossa de você. É como se eu o conhecesse como Jim, e o Jim é um carinha bacana... Aí ele sobe ao palco e se transforma no absurdo Iggy... É tão diferente assim? Bem, não sei bem o que acontece. Geralmente não me expresso muito.Mas quando estou no palco, fazendo um disco ou qualquer coisa que tenha a ver com música, aí digo “o.k., é aqui que eu preciso”. Sei lá, complete com o clichê de sua preferência: “expressar meu lado humano”; “fazer a diferença”; “passar para outra dimensão”, blablablá, qualquer merda, ser um palhaço, virar um chimpanzé, o que der na telha...
Sente como se estivesse servindo a um poder superior? Isso eu já não sei... Poderia ser um poder inferior.
O melhor do seu trabalho tem uma essência elementar, um fundamento primitivo, conflituoso com a indústria da música atual, com tanta tecnologia. Qual sua opinião a esse respeito, artisticamente? Pode-se falar um monte a esse respeito, mas o resultado vem de pequenas peças.
Deus está nos detalhes, a arte em reuni-los... Exatamente. Por isso arranjei um emprego numa loja de discos quando eu tinha 18 anos, e comecei a ouvir cantos medicinais tuaregues — ainda ouço aquilo —, sessões de percussão vodu, música de umbanda, todos os tipos de música de diferentes tradições culturais. São minhas verdadeiras influências musicais. [Cantando em monotom] Waaaa, waaa waaaaa, waaa, waaaa... Essa parada, com três notas repetidas indefinidamente. Isso é realmente poderoso. Eu tentava vivenciar tudo o que os 60 proporcionavam...
Overdose! Com certeza. Na época, cresciam coisas como a performance, o Living Theatre, o blues estava sendo intelectualizado por bandas como Beatles, Rolling Stones e tudo mais, apareciam figuras como John Cage, Andy Warhol… Faziam-se coisas como amarrar uma mulher nua, que tocava o violoncelo enquanto um homem batia nela com um martelo, saca? E tudo isso entrando na minha cabeça enquanto tomava muito ácido. Eu tentava descobrir como poderia fazer uma música que conservasse seu valor por muito tempo, estava à procura de temas universais, energia primitiva disponível para tudo o que estivesse acontecendo na cultura. Então, um dia, depois de tomar drogas o suficiente, quando o The Stooges era pobre o suficiente, nosso empresário estava cheio de nós pois não ganhávamos dinheiro algum para ele, e ele simplesmente desligou o aquecimento da nossa sala de ensaio. Aí, fiquei enfurecido e comecei a dançar por tudo quanto é canto, insultando-o com um microfone... E a banda começou a tocar junto, mas de outra forma, tocou três vezes mais alto e mais intensamente do que o normal. De repente, deixaram de ser só aqueles caras que vinham a uns ensaios porque não tinham nada melhor pra fazer, de repente ELES ACREDITARAM, e o som saiu diferente. Ali encontramos um caminho – mas eu tinha que ficar puto [rindo] e chapado toda noite.
Mas onde a tecnologia se encaixa nesse quadro? Ah, é… Bem, a tecnologia é geralmente melhor quando mal utilizada. No nosso caso, o que aconteceu foi que pegávamos um riff extremamente simples, deixávamos algumas cordas abertas e, se você não souber tocar a guitarra muito bem, uma amplificação grande vai gerar harmônicos ao acaso que vão soar demais como uma raga extremamente complicada, tocada por um grande mestre indiano. Éramos só uns merdinhas idiotas, tínhamos de fazer algo artístico. Então, por dois anos, fiquei só vagando pela cidade, andando seis quilômetros por dia, me drogando e pensando…
Mas o que fazia exatamente? Eu fazia coisas... Exemplo, depois que consegui montar uma casa para tentar fazer nossa música, eu tomava ácido, ligava um órgão elétrico que eu tinha no porão, colocava o amplificador no 10 e ficava com os pés no teclado por umas oito horas direto. Os pés em cima da porra das teclas, sem mexê-los, nem precisava, porque estava tudo se mexendo, saca? Então passei por toda essa merda idiota… Lembro de outra vez que tínhamos todos fumado DMT e eu vi um Buda enorme, rico em detalhes, no teto dessa casa. Me dei conta de que ele não estava lá de verdade, mas percebi que era detalhado demais, muito mais do que minha mente teria a capacidade de imaginar. Pensei que aquela devia ser minha mente superior, ou inferior, e disse: “Tenho que tirar as roupas”. Estava morando com três caras jovens, minha banda, e eles não ligavam: “Ele tem que tirar a roupa”. Então eu fiquei pelado por um ano [risos]…
E as pessoas da pequena Muskegon, que achavam disso? Sentiam pena de mim. Tocamos assim [com ele pelado] em uma festa no Halloween de 67 e todo mundo ficou constrangido.Mas não desistimos. Depois, um jornal universitário publicou um artigo a nosso respeito e só sabiam que meu nome era Pop graças a uma banda chamada Iguanas em que eu tinha sido baterista anos antes. Odiei aquilo. Quem é que quer ser chamado de Pop? Tente paquerar alguém, em 1968, dizendo: “Oi, meu nome é Pop”. As pessoas fazem careta, querem te bater, entende? Hoje funciona, algumas coisas mudaram.
Artisticamente, você nasceu em uma das épocas mais radicais e experimentais da história, e, ainda assim, era como se estivesse à frente de seu tempo para conseguir ampla aceitação como artista. Chega a ser irônico que esteja conseguindo sucesso e até respeito do grande público justamente hoje, num dos períodos mais negros, conservadores e criativamente medíocres da história. Como interpreta essa guinada? Talvez seja porque as pessoas evoluíram de verdade, de alguma forma um monte de informação conseguiu entrar. Talvez o indivíduo médio seja hoje mais tolerante e receptivo ao nosso trabalho. Sabe que às vezes penso em “Search and Destroy” como a trilha sonora do apocalipse... Assim que voltamos a tocar juntos, eu e o The Stooges, alguém me disse: “Isso é maravilhoso, porque houve o Vietnã, agora a guerra no Iraque e vocês voltaram. É o momento perfeito para o The Stooges!”. Então tá, talvez tenha algo a ver: banda de guerra, de repente.
Acredita em Deus? Gosto de um monte de deuses, o deus da xícara de café, o deus da mulher gostosa, deus de todas as coisas. Tem uma palavra para isso... politeísta, é isso, sou politeísta.
E como vai o deus da indústria da música, hoje em dia? O grande avanço é que hoje ele é realmente eficaz na coleta do dinheiro. Muito mais dinheiro, muito mais rápido! Não é mais necessário ser muito bom no que se faz, ou ter de ficar no negócio muito tempo, para ficar podre de rico. Quando comecei, as grandes bandas, como os Stones ou o The Who, faziam arte da melhor qualidade e não tinham um puto. Agora, pega uma banda como o Nirvana, o cara enriqueceu muito mais do que conseguiu aguentar e se matou, saca? Basta um álbum bem-feito, e o álbum era bom mesmo, bem bom, não tão bom quanto os das melhores bandas de 30 anos antes, mas, ainda assim, bem bom…
E o deus da tecnologia na indústria da música, hoje? Bem, houve uma grande mudança com o advento do sampling, que possibilitou, no bom sentido e também num sentido não tão bom, que qualquer imbecil venha e diga: “Ei, aquela era uma boa música em 1952 e ninguém fez nada com ela, então vou colocá-la em cima de uma batida de bateria e cantar a respeito da minha vida pra outros bandidos”. E, aí, o que acontece é que, conforme aumenta a divisão no mundo entre os que têm — têm tudo menos um pau — e os que não têm — não têm nada a não ser um pau —, aí quem não tem pau vai e compra aquela música para ouvir como é ter um pau. É verdade, esse é o apelo desse tipo de música e eles fazem parecer que aquilo tem relevância social mas, basicamente, é só “ha, ha, eu tenho um pau!”. A bateria eletrônica é a rigidez que não deixa muito espaço para a música respirar... Não acredito que essa música vá proporcionar melhoria de vida aos seus acólitos para sempre, nem que terá vida longa. Daqui a 20 anos, as pessoas não vão continuar ouvindo coisas do tipo Fight For Your Rigth (To Party) com a noção de como é retrógrado... Não. Em última análise vai acontecer o mesmo que aconteceu em Roma; a civilização aprendeu a tecnologia militar e dominou o mundo. Aí, seus filhos queriam ser mais sofisticados, se educaram e pegaram tudo emprestado da Grécia. Então, no apogeu daquela civilização, um bom escultor romano conseguia fazer uma imitação perfeita de uma estátua grega em pedra, mas, com o declínio daquela civilização e com a descoberta do concreto, no final ninguém conseguia fazer merda nenhuma de estátua! É a esse ponto que estamos chegando. Ninguém consegue escrever uma bosta de música decente porque estão todos ocupados demais... Já eu ainda gosto de compor uma canção decente mas, provavelmente, estou velho demais pra isso…
Mas você ainda escreve? Consigo escrever até um determinado ponto, mas aí empaco, porque é necessário ajuda jovem, sabe? É como pintar, as pinceladas têm de ser aprendidas antes dos 30.
Então como é que você voltou a trabalhar com os seus antigos comparsas? É um astral totalmente diferente, porque o tipo de profissional que você consegue quando contrata nunca é tão bom quanto aqueles com quem você está em pé de igualdade.
Então é um lance de lealdade? Yeeaahh...Mas detesto admitir isso [risos]. Quando aparecem esses sentimentos, penso [voz mecânica]: “Perigo! Este é um sentimento babaca e destrutivo. Pare por aqui. Se liga...”.
Então, qual é sua impressão a respeito do Brasil depois desses anos todos? [Sorrindo como uma criança] Grande. Aberto. Descontraído. Legal. Legal. Aqui as pessoas não esqueceram como sorrir, elas sorriem até nos encontros normais do dia-a-dia. Sei que existe uma realidade por trás disso, um monte de outras coisas, mas as pessoas são calorosas. Quando cheguei na imigração, no aeroporto, já dava para perceber um mundo totalmente diferente. Eu meio que invejo você, morando aqui. Na verdade não gosto de morar nos Estados Unidos, continuo lá só porque não desisto, esse é o único motivo. Eles não vão se livrar de mim tão facilmente, hã hã. Mas, sério, o Brasil é muito bacana. O que eu mais gosto na América do Sul, e não é diferente na Argentina ou na Colômbia, é que, no fim da tarde, ou de madrugada, a gente passa de carro pelos bairros e vê um monte de casinhas e lojinhas que não colocam muros ou grandes vitrines, como nos EUA. Além disso, não é que toda loja tenha obrigatoriamente que oferecer 3 mil produtos diferentes, aquela coisa de sociedade de consumo. A gente vê as pessoas dando um tempo em lugares que, em tese, deveriam ser para algum tipo de comércio, mas ninguém diz: “Ei, aqui não é para ficar. Estamos tentando vender aqui”. Entende? Então as ruas têm um astral bem bacana e as pessoas em geral são mais magras que as norte-americanas. Dá a sensação também de que elas têm mais tempo, e me identifico com isso porque sou do Meio Oeste americano, onde temos muito tempo livre porque não há porra nenhuma para fazer. Você sabe que cresci em um trailer de uns 10m², depois fomos para um de 45m², então isso aqui é muito atraente, e os jovens daqui… Nos EUA eles estariam indo de um lado para outro, todos inquietos e hiperativos. Aqui não, eles ficam juntos em algum lugar, tranquilos. Fora isso, sei que há muitos problemas aqui, assisti à TV local e dá pra ter uma ideia...
Aqui ainda existe uma cultura autêntica, uma força de espírito que as vampiras das empresas globais ainda não conseguiram matar. Acho que é verdade o que dizem: “Deus é brasileiro”, pois ainda há uma pulsação popular que já se uniformizou nos Estados Unidos e na Europa à medida que a praga da globalização se espalhou como um câncer... Interessante. Talvez por isso eu tenha feito a abertura para os Ramones há uns dez anos, em um estádio enorme, em Buenos Aires. Parecia um show dos Stones, uma platéia imensa. Ruim para os caras [Ramones], coitados, no grande mundo controlado pelas empresas não tinham onde tocar e aqui estavam estourando naquele estádio enorme. Tudo porque a música deles não se encaixava em certos critérios da fórmula comercial, no mercado corporativo de merda, até eles morrerem. Então todas as grandes bandas comerciais começaram a usar a camiseta deles só pra mostrar como eram “alternativas”. Mas a Argentina é um lugar fodão, pois ninguém controla o rock’n’roll lá.
Você vê potencial pra ter esse mesmo nível de popularidade aqui? Não diria que não. Estava falando à Nina: “Ei, talvez a gente conseguisse trabalhar de verdade aqui, tipo vir de novo e tocar um pouco mais...”.Mas não sei qual é a força da MTV aqui, porque eles tendem a distorcer tudo e a TV é uma potência. Fico me perguntando, são as pessoas que assistem à TV ou a TV que assiste a elas? É bem sinistro. Tem um bairro aqui que é inteirinho uma TV, passamos por ele indo para o show [Projac, da Rede Globo]... E tem a Barra, 30 quilômetros de lixo pré-fabricado e aquela horrível merda moderna, um lugar chamado New York City Center e um Hard Rock Cafe totalmente horroroso.
Bem-vindo ao McGlobo, posso tirar seu pedido para uma nova Ordem mundial? [Risos] Com queijo…Mas, cara, eles têm uns 150 quilômetros de praia lá, e eu queria ter aquela praia.
É isso que eu gosto em você, sempre encontra o lado bom das coisas. E, por falar na feiura corporativa do mal, como foi sua experiência com a mídia daqui, a grande imprensa brasileira? Foi estranha… Na verdade foi nojenta. Você sabe, a gente aceita fazer por cortesia ao cara que está organizando o show. Combinamos que eu daria duas horas de entrevistas pelo telefone antes de vir. Então eles dividiram o tempo em oito entrevistas curtas separadas, marcadas para duas sessões de uma hora, em dois dias diferentes. O primeiro dia foi meio civilizado, ligeiramente intelectual e entediante. Um cara, por exemplo, ficava perguntando a respeito “do mito” e eu “awwwww” [simulando sono]. Depois de uma hora dessa merda a gente tem de ligar para a namorada para reclamar por meia hora, da qual ela vai te lembrar depois quando quiser sapatos novos [risos]. No segundo dia, meu Deus, os caras eram uns merdas, nível de coluna de fofocas. Tipo mínimo denominador comum, sério. Horrível, nojento. O pior foi um repórter cuzão que acho que estava querendo bancar o espertinho inventando uma “amiga” imaginária, para que ele pudesse ser o advogado do diabo. Bem baixo, mesmo. Ele disse “Sr. Pop [risos, enquanto imita o sotaque de um brasileiro de classe média, excessivamente formal, falando inglês], tenho uma amiga que foi ao seu show e ela diz que o senhor se transformou em uma paródia de si mesmo tentando fazer tudo o que a platéia espera que faça. O que o senhor teria a dizer?”. “Manda sua amiga se foder!”, foi minha resposta.
Ouvi dizer... Alguém me disse “seu amigo, Iggy, mandou o repórter tal e tal se foder”... [Constrangido] Sério? Meu Deus... Bem, mas você tem que me entender, cara, eu estava sendo torturado naquele momento e, como sabe, não sou um cara muito sofisticado. E eles me ameaçaram dizendo que iam ficar no meu pé enquanto estivesse no Rio. Fiquei apavorado, mas me deixaram em paz… Só teve uma banda local que ficou na piscina do hotel no dia seguinte ao show, o dia todo, todos vestidos de preto...
Aqueles com as gravatinhas? Não, esses caras eram péssimos também, mas estou falando de outros. Pareciam seus filhos passando por aquela fase “a gente só veste preto” [risos]... Mas quanto à imprensa foi só o papo-furado padrão... Depois que terminou aquela merda de sessão de entrevistas fiquei berrando pela casa: “Eu não estou mais com vontade de ir para aquela bosta de país!”. Quando chegamos aqui... poof, o astral voltou imediatamente e toda aquela merda negativa sumiu.
Alguma cena te marcou? A mesma que você viu também indo para o hotel, em São Paulo, naquela favela toda contorcida, aquele cara em um barraco com uma galinha na janela, uma escada para chegar à porta, bem no meio daquela imensa e monstruosa cidade, com aqueles prédios altíssimos e um Microsoft ao fundo. Aquilo foi bem legal, muito futurista. E aqui no Rio, lá na praia junto ao hotel, a gente vê os estagiários de assassinos jogando futebol na areia, sendo bacanas, não enchendo ninguém.
Por falar em Brasil, ouvi uns sons “secretos” que você fez há alguns anos e nunca mostrou pra ninguém, antigas canções da bossa nova que você tocou de brincadeira com sua outra banda, lembra disso? Cara, merda... Sim, aquela história de bossa nova que eu estava fazendo, uau, você ouviu aquilo?
Vocês estavam tocando João Gilberto, Tom Jobim, alguma coisa da Elis Regina... Agora me lembro. Realmente gosto dessas canções. Na época eu estava vendo se sabia alguma coisa de música tradicional que pudesse usar para gravar um álbum. Gosto de toda bossa nova, e também da tradição da música popular brasileira. Não sou tão versado nela quanto gostaria, não sei a história do tropicalismo e tudo mais, mas já ouvi muita música brasileira. Conheço o Caetano Veloso, já fui a shows dele, e fui com você ao show da Astrud Gilberto em Nova York, lembra? Sempre penso em fazer alguma palhaçada dessas. Quem sabe um disco de Natal? Mas tenho que esperar o Rod Stewart parar de fazer os seus [risos].
O que te diverte mais no rock’n’roll? Dos 18 até uns 40 anos de idade, meu ideal de diversão era basicamente fumar um grande baseado durante um dia lindo, fazer sexo e... só, entende? Os únicos outros momentos em que me sentia bem eram quando eu criava algo novo musicalmente, como a primeira vez em que ouvi o playback de “Search and Destroy” no estúdio e me dei conta: “Caramba, isso aqui tem mesmo qualidade, tem um pouco de imortalidade aqui”. Houve um momento específico que foi um daqueles momentos clássicos, que definem a sua vida. Era primavera, aula de álgebra, primeiro colegial. A professora era uma velha, falando sem parar, o dia lá fora estava lindo e eu me senti mal. Fiquei com dor de estômago, a pele ficou mal, engordurada. Fiquei com falta de ar, não conseguia mais ouvir a voz dela e só queria pular aquela janela. Pensei: “Se fosse um músico, não estaria aqui agora mas fazendo qualquer bosta que me desse na telha”. Para mim, sempre foi sobre liberdade.
Com todo o controle corporativo e uma tendência cada vez mais forte de globalização da mídia homogeneizada, será que o rock foi castrado? O rock’n’roll é como um animal enorme, estúpido, poderoso. Qualquer um pode montar nele e, uma vez que a gente esteja em cima, acho que o boi não liga muito para quem o esteja montando... Ainda que, se a pessoa souber montar bem, vai ter mais facilidade.Mas a gente só consegue ficar lá por um certo tempo porque, no começo, o bicho tem muita energia, mas é como um velho, um velho bem chato com um monte de ideias antiquadas que, de alguma forma, ainda consegue ser extrovertido e fazer bebês, com 92 anos... É isso, ele está atualmente passando a ter uma forma arcaica, com menos energia que antes, mas ainda com o suficiente... E também está sendo reivindicado pelos negros. Nada mais justo, uma vez que foi meio que roubado deles inicialmente. Gosto disso. Na minha vida a maioria das referência era negra, mais do que os branquelos. Se bem que alguns branquelos dão conta. O seu pai, por exemplo.
As principais influências dele também foram músicos negros. Por falar nisso, eu vi uns caras hip hop bem radicais no show em São Paulo e que não pareciam muito animados com toda a coisa de “festival de rock”. Eles falaram superbem de você, tipo, “yeaahh, aquele cara, o Pop, aquele, sim, manda bem”. Que bom. Queria ter tido mais tempo para conhecer um pouco da cena musical daqui, ter visto a banda de que você falou, Nação Zumbi. Que bom que o povo gostou do meu som, porque não toco pra nenhum público específico. Tinha um cara com essa aparência [de hip hop], bem na frente, não lembro se em São Paulo ou no Rio, que me chamou a atenção. Quando chamei as pessoas para subir ao palco o segurança não deixou o cara vir. Geralmente, quando um segurança grita com alguém a pessoa se amedronta e foge, mas aquele cara ficou e disse: “E aí, filho-da-puta!”, e fechou os punhos, tipo “vai encarar?”. Fiquei impressionado. Então apontei para o cara e o chamei para subir ao palco.
Você sentiu diferença entre a vibração das plateias do Rio e de São Paulo? Yeaahh... As pessoas no Rio pareciam mais acomodadas e preguiçosas. Em São Paulo a apresentação teve uma energia fodida, desde o começo, como se alguém tivesse enfiado um bastão de gado na minha bunda.
A coisa foi bem organizada em São Paulo mas, no Rio, atrasou pacas, tudo confuso, e percebi, nos bastidores, que você estava bem puto quando chegou a hora do show… É verdade, estava fodidamente furioso e acaba ajudando... Bem, é isso que todo mundo diz, quando estou mais cansado, está tudo dando errado e minha voz não está tão boa, as pessoas falam: “O show foi um pouco melhor”. É.
Outra coisa que percebi nesses seus shows, e já o vi tocar um milhão de vezes, é que sua voz nunca esteve melhor. Forte, não é? Ela está mais alta também... Tem a ver com um exercício chinês que faço toda manhã. Posso inflar minha barriga e ela fica rígida [bate na barriga] e cheia de ar. Bem dura. Resultado do kigong, como é chamado, e também de tai chi.
Você continua comendo qualquer merda que coloquem na sua frente? Sim, como qualquer merda. Salame, salsicha, bife... Não quero jamais ser fresco. Às vezes digo “talvez possa ficar uns dois dias comendo só fruta...”, mas nunca exagero nisso. Basicamente apenas sigo meu nariz.
Você consideraria trabalhar com alguma banda brasileira? Ah, sim, com certeza. Todo ano faço umas duas, três coisas que não têm nada a ver com meu trabalho, sou simplesmente contratado como vocalista para o som de outras pessoas. Acabei de fazer meu primeiro som hip hop para uma banda ultra-consciente, pop, chamada Sa-ra Production Plan, ou algo assim… [Sa-ra Creative Partners]. Trabalhei duro por quatro horas cantando sem parar a palavra “bitch”.
Você ainda ouve bastante aquele tipo de som com tambores? Muito, tenho fitas com compilações de haitianos, cubanos e brasileiros cantando para Ogum... Não é essa a medalha que você está usando no pescoço? Achei mesmo que eu tinha reconhecido. [Cantando] “Ogum, Aye, Ogum, Yara...” Não lembro a letra.
Aproveitando o gancho, você acredita que alguns tipos de música tenham poderes metafísicos, como dizem os rastafáris? Peter Tosh costumava me dizer que a música pode transformar o DNA e levar as pessoas a estados superiores de consciência… Com certeza, é isso mesmo. Você provavelmente tem de levar isso muito a sério durante muito tempo para que aconteça, mas sempre achei que ficar brincando com os amplificadores por tantos anos teve um efeito em mim…
Efeito transformador? Meio que colocou meu metabolismo em uma vibração esquisita. O efeito foi, no geral, positivo, mas meio Frankenstein também... Acredito que um bom baterista pode levar as pessoas a um estado de espírito melhor e mais saudável.
Você sabia que uma banda brasileira fez uma versão da sua música “The Passenger”, em português [Capital Inicial]? Sério?
E aqui há também um grande provedor de Internet chamado IG que, em português, se pronuncia igual ao seu nome, e no portal deles há diferentes departamentos e um é de música e se chama Ig Pop? Pop? Mesmo?... [Longa pausa] Bem, eu não ligo, sem problema [risos]. Como disse o Elvis, “tem espaço pra todo mundo”. E o Sepultura, eles se separaram?
Aquela formação sim, vi o vocalista antigo nos seus bastidores… Boa banda. É verdade… [Apreciando a vista do Rio] Uau, esta é uma hora linda do dia, aqui, não?
Créditos
Imagem principal: Sebastian Mayer