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por Emilio Fraia
Trip #251

Estudante de arquitetura e modelo, Shirley Ibiapino quer viver numa casa sustentável com muita luz natural

Em junho de 2014, Shirley Ibiapino foi para Cusco, no Peru, e, de lá, rumou a Machu Picchu. Foram três dias de caminhada até chegar às ruínas incas. Shirley havia trancado a faculdade de arquitetura e deixado seu emprego como assistente administrativa (antes, havia sido vendedora em uma loja de biquínis). “Tive uma pane geral. Minha vida estava bagunçada, achei que chegaria no topo das ruínas, lá no alto, e teria uma iluminação, algo me diria: ‘Siga por aqui’”, conta. “Mas não foi bem assim.”

Era a primeira viagem da paulistana para fora do Brasil, e ela sentia um pouco de ansiedade. “Eu morria de medo de não conseguir me comunicar, de algo dar errado.” Agora, já planeja conhecer o deserto do Atacama e, principalmente, Verona, no norte da Itália. “Gosto de arte. De Caravaggio, Velázquez. A Europa tem muitos museus. Quero fazer um mochilão antes dos 30 anos, estou me preparando”, conta Shirley, que está com 26 – e tem a impressão de que o tempo funciona de um jeito diferente quando está viajando. “As horas ficam curtas, quando a gente vê faltam dois dias para voltar e nem percebemos.”

O pai de Shirley é pernambucano e a mãe nasceu na Paraíba, descendente de índios. “Eles eram primos distantes, o casamento foi um arranjo de família, eles nem se conheciam antes de casar”, conta. Ela tem uma avó alemã e quatro irmãos. “Sou a única loira da família – o que me rendeu, desde que nasci, o apelido de Xu, por causa da Xuxa. É uma mistura maluca, pareço uma menina do Sul”, sorri a paulistana, que vive com os pais e dois dos irmãos, mas espera poder morar sozinha em breve.

Minha casa
Shirley tem o sonho de construir a própria casa. “Vai ter piso de madeira de demolição, sala com pé-direito alto, janelas grandes com vista para minha horta, muita luz natural”, projeta. “De dentro, quero ter a sensação de contato com a natureza. Vou querer fazer um esquema de água reutilizável, uso de cisterna, captação de energia solar, comer o que eu plantar. Quero que tudo seja sustentável, aplicar conceitos de permacultura. Queria passar um tempo como voluntária numa fazenda de permacultura, aprender a fazer tintas naturais, vitrais de garrafa PET, mexer com a terra.”

Depois que voltou do Peru, Shirley retomou a faculdade Anhembi Morumbi. Fã do arquiteto Vilanova Artigas, diz que deseja fazer projetos “que busquem a convivência, com foco no ser humano”. “Vejo muitos arquitetos fazendo a mesma coisa, uns caixotes, sem imaginação, visando só o lucro”, diz. “Pesquiso sobre arquitetura, vou a palestras, encontros, ultimamente passei a achar meus professores um pouco quadrados até.” Ela conta que tem vontade de ser paisagista ou engenheira ambiental. “Em São Paulo falta muito verde. É maluco pensar que a cidade tem uma quantidade enorme de rios, e a gente não tem nem ideia disso, está tudo concretado, a gente não vê.”

Hoje em dia, uma das coisas que Shirley mais gosta de fazer é caminhar por São Paulo. “Sou apaixonada pelo largo São Bento. Lá, existem muitos prédios desocupados, o que dá uma tristeza. O centro aos fins de semana é triste, abandonado, poderiam ser feitas tantas coisas... Muita gente acha que São Paulo é a Paulista. Para mim, é o centro.”

Vida nova
Shirley gosta de explorar lugares desconhecidos. Não gosta de ir a lugares que todo mundo vai, “como o Masp ou o Ibirapuera”. “Gosto dos lugares que dão a sensação de estarmos em países distantes, estranhos”, fala. “Um dos meus lugares preferidos em São Paulo é a praça Victor Civita. Muita gente não conhece, fica perto do metrô Pinheiros. Antes ali era um lixão, o terreno todo foi tratado, agora é uma praça sustentável. E tem um projeto incrível de cinema a céu aberto – eu adoro cinema, mas não os de shopping. Já vi muitos filmes na praça, foi lá que vi Um corpo que cai, do Hitchcock. Estou sempre buscando encontrar coisas novas em São Paulo. Mas nem sempre fui assim. Tenho a impressão de que antes era medrosa, mais tímida.”

Foi depois que voltou do mundo inca que começou sua carreira como modelo também. “De tanto falarem, resolvi tentar. No início, fazia dois trabalhos por semana. Agora já estou pensando em contratar minha irmã mais nova para ser minha secretária”, ri. “Não sou alta, tenho 1,70 metro, não dá para ser modelo de passarela, mas tenho feito muitos anúncios, publicidade, vídeo. Quero ser modelo agora, enquanto sou jovem, mas minha vontade é me aposentar como arquiteta, cultivar minha dor nas costas fazendo projetos.”

Outra paixão de Shirley é a fotografia. Inspirada pela babá-fotógrafa norte-americana Vivian Maier, ela passou a andar pela cidade com sua câmera a tiracolo. “Gosto muito de fotografar pessoas desconhecidas, do dia a dia. Tenho muitas fotos de crianças e de pessoas mais velhas. Fui na exposição da Vivian Maier, no MIS, e levei minha irmã mais nova. Ela disse: ‘Nossa, ela tira fotos exatamente do jeito que você gosta!’. Curto fotografar pessoas na rua, não fotos posadas.”

Dizem que aqueles que passam pela Porta do Sol – a entrada de Machu Picchu, de onde se tem a primeira visão das ruínas – se transformam. Mas Shirley jura que não aconteceu com ela. “Fiquei desapontada, acho que estava esperando muita coisa. Achei que minha vida viraria pelo avesso. Mas não foi bem assim”, diz a modelo, fotógrafa ocasional, viajante destemida e futura arquiteta. Quem somos nós para duvidar?

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Créditos

Ensaio / Fotos: ESTILO E PRODUÇÃO DE MODA Teca Pasqua MAKE&HAIR Gisele Barbosa ASSISTENTE DE MAKE Bruna Policastro AGRADECIMENTOS Cisô Atelier Vídeos / Making Of DIREÇÃO Erika de Faria EDIÇÃO F. Azevedo

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