O nada como tema

por Nathalia Zaccaro

Em sua sexta edição, a Feira Plana ocupa a Cinemateca Brasileira de São Paulo e estreia mostra de cinema alternativo

Desde 2013, a Feira Plana, agora batizada de Plana Festival Internacional de Publicações, movimenta o mercado de publicações independentes no país. Milhares de pessoas já se perderam pelas mesas cheias de zines, revistas, prints, livros e arte que ocuparam espaços como o Pavilhão da Bienal e o MIS, em São Paulo, além de edições menores em cidades como Salvador e Rio de Janeiro.

Em sua sexta edição, a Plana reunirá cerca de 200 editoras nacionais e gringas na Cinemateca Brasileira, em São Paulo, entre sexta e domingo (23 e 25 de março). “Este ano, optamos por ter uma ligação mais específica com o espaço e, por isso, teremos pela primeira vez uma mostra de cinema como parte da programação”, conta Bia Bittencourt, idealizadora e curadora do evento.

Batizada de Cinema Zero, a mostra foi organizada pelo Cineclube Fantasma, composto por Bia, Mateus Acioli, Juan Narowé, Raul Lima. “Já fazíamos exibições de filmes e cursos de cinema na Casa Plana, mas, para esse projeto, buscamos títulos que se relacionassem com o tema da feira deste ano, que é o retorno ao nada”, explica ela.

A pegada niilista guiou a curadoria da mostra, que exibirá títulos de arte, independentes, undergrounds, nacionais e internacionais e que muito dificilmente seriam exibidos na telona em outras oportunidades. “Os filmes exploram o tema do nada tanto politicamente como esteticamente”, conta. Cat Effekt é um exemplo: nelea dupla de brasileiros radicados em Berlim, Melissa Dullius e Gustavo Jahn, mistura sonho e realidade em uma experiência visual. “Um trecho do rolo do filme foi destruído pela luz do sol e deixou as cenas com um dourado esquisito e isso acabou contribuindo para a narrativa da obra”, diz Bia.

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Outra dica da curadora é o documentário Terceiro Milênio, dirigido por Jorge Bodanzky e Wolf Gauer em 1981. O longa acompanha o senador amazonense Evandro Carreira e revela as contradições do estado. “Eles registram os diálogos com os indígenas e mostram que nada envolvendo esse assunto é obvio”, conta.

A mostra segue após o fim da feira, no domingo, e rola na Cinemateca até dia 1º de abril. "A partir de maio, a Casa Plana deve voltar a funcionar, em novo endereço, e teremos por lá o Cineclube Fantasma, em que continuaremos a exibir e refletir sobre filmes", adianta Bia.

A feira terá também títulos para os cinéfilos, como o livro do artista Walter Costa, inspirado no filme La Jeteé, de Chris Marker, lançado pela Havaiana Papers. A editora Kinoruss, especializada em publicações relacionadas ao cinema soviético, participará com o livro Panorama Tarkóvski, que homenageia os 30 anos da morte do cineasta.

 

Se liga nos destaques da programação da Cinema Zero:

23 de março, sexta-feira

19h às 19h30 | La Jetée, França, 1962, de Chris Marker

A partir de fotografias em preto e branco, La Jetée conta a história de um homem forçado a explorar suas memórias após a devastação da Terceira Guerra Mundial.

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24 de março, sábado

11h às 13h | Videograms of a Revolution, Alemanha e Romênia, 1992, de Harun Farocki e Andrei Ujica

Os videogramas de Farocki e Ujica mostram a revolução romena de dezembro de 1989 em Bucareste, a partir de imagens de arquivo coletadas.

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20h às 20h40 | Cat Effekt, Rússia, Alemanha, Brasil, 2011, de Melissa Dullius e Gustavo Jahn 

Uma mulher anda sozinha pelas ruas de Moscou, entrando e saindo de transportes e passagens sob o solo, a caminho de uma exibição de um filme sobre um gato. A partir de sensações, cores e sons, sonhos e realidades se misturam.

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25 de março, domingo

10h30 às 12h |  Regen, Holanda, 1929, de Joris Ivens e Mannus Franken

Regen é poema-filme experimental que mostra a precipitação e queda da chuva em Amsterdã e seus canais.

30 de março, sexta-feira

21h às 22h40 | O bravo guerreiro, Brasil, 1968, de Gustavo Dahl

Miguel Horta é um jovem político que chega à conclusão de que, para ajudar a causa pública, deve se inserir no governo através do partido de ideias contrárias às suas. Mas, ao ver seu projeto de lei ameaçado, percebe que era preciso muito mais para que seu sonho fosse realizado.

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31 de março, sábado

21h às 22h40 |  Flesh for Frankenstein, EUA, Itália e França, 1973, de Paul Morrissey

Nesta adaptação do clássico Frankenstein, Morrissey cria um universo bizarro no qual Baron Frankenstein cria dois zumbis, uma mulher e um homem, com o intuito de desenvolver a raça sérvia perfeita.

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Vai lá:
Plana Festival Internacional de Publicações
De 23 a 25 de março
Mostra Cinema Zero
De 23 de março a 1º de abril
Cinemateca Brasileira (Largo Senador Raul Cardoso, 207, São Paulo)

Créditos

Imagem principal: Divulgação

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