Ela pariu um time inteiro

por Lino Bocchini
Trip #189

Ana Célis teve 20 filhos, nenhum par de gêmeos, todos nascidos saudáveis e de parto natural

E mais nove torcedoras. Conheça Ana Célis, que teve 20 filhos, nenhum par de gêmeos, todos nascidos saudáveis e de parto natural

Que tal ficar grávida por 15 anos de sua vida? Ana Célis Caldeira, minha tia-avó, ficou. Ela tem 20 filhos, nenhum par de gêmeos, o que soma 180 meses de gestação. Todos nasceram de parto naturale saudáveis. A maioria veio ao mundo em casa, pela mão de parteiras. A família morou em sítio até há pouco e se mudou para Apucarana (Paraná) só em 2001. De seus filhos, 17 moram na cidade, e os outros três ali perto, em Astorga. Como não tem telefone, recebe visitas quase diárias dos rebentos ou de um dos 42 netos e 10 bisnetos. “O pessoal fala de trabalho, mas não deu tanto trabalho assim”, conta, tranquila, aos 77 anos. “Hoje é outra coisa, mas nunca tive problema em criar meus filhos.” O marido, Hilário Caldeira, 80 anos, faz coro: “Se eu falar que trabalhei mais do que alguém, tô mentindo”.

A avaliação de minha tia-avó sobre ter ou não trabalho com filhos, contudo, é diferente da minha e da sua. Visitei o sítio da família há mais de duas décadas, pré-adolescente. Foi ótimo, tinha vários primos meio que da minha idade pra brincar – todos manejavam canivete e jogavam bola de gude melhor do que eu, mas tudo bem. Nunca vi tanto ovo frito junto ou uma panela de arroz tão grande. Tinha gente comendo em todos os cantos da casa, até porque as visitas tinham que sentar à mesa. Isso porque dois, já casados, não moravam mais lá. E três ou quatro almoçavam fora, na roça, com o pai. A cena básica era um bando de crianças correndo pra cima e pra baixo e Ana Célis e a sogra, Susana, cuidando de todos. Por “cuidar”, entenda-se: cozinhar e dar de comer três vezes ao dia, lavar louça e roupa da galera, pôr pra dormir, apartar brigas, dar banho etc. etc. e muitos outros etc. típicos de uma vida dura de sítio, como, por exemplo, ter que fabricar o próprio sabão em um tacho, a partir de gordura animal.

Hoje são todos crescidos, têm de 30 a 57 anos, mas ficam as histórias. Para dormir, eram poucos cômodos e muitos beliches. “Parecia quarto de hospital”, diverte-se a mãe de todos. Camas de casal abrigavam grupos de pequenos. “Depois que fechava a porta, todo lugar era lugar pra dormir”, lembra tio Hilário; o nome, em geral, era do santo do dia; já houve quatro casamentos em Arapongas entre os Caldeira e os Christófoli, e dois dos irmãos são casados com duas irmãs; e, minha favorita: os 11 irmãos homens formavam um time amador local, o São João da Juruba.

Agradecimento: Jornal Tribuna do Norte

 

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