Demagogias à parte

por Luiz Alberto Mendes

Maioridade penal

 

Esses políticos que governam o Estado de São Paulo aproveitam-se da ingenuidade e  alienação das pessoas para se promoverem. Propõem medidas extremas que eles mesmos, por estarem à testa do governo, sabem que não são factíveis e que não vão resultar em nada. Sim, acreditam que vai resultar nos pontos que eles irão ganhar, em termos eleitorais. Principalmente dessas pessoas que querem que alguma coisa seja feita, não importa o que. Medo e paixão são os canais usados para convencer e coagir pessoas há milênios. É de se ficar indignado com essa mesquinha manipulação da dor humana.

Falam como se aumentar para 8 anos a pena do menor de idade que cometer crimes considerados bárbaros, fosse a solução para acabar com toda violência no Estado. A população não lê jornais e consome as notícias de forma resumida e mastigada como é na televisão. Não sabem sobre o que falam e sequer buscam conhecer. Fiam-se em pseudo jornalistas cujo apelo teatral, têm apenas o objetivo de emocionalizar para vender os produtos dos anunciantes que pagam seus gordos salários.

Quem, em sã consciência, acredita que um desses menores de idade, já cooptados pelo crime, vai pensar, antes de cometer um delito dessa gravidade, que se for pego irá cumprir 8 anos entre Fundação Casa e prisão? Nem os maiores de idade, sujeitos a serem mortos pela polícia e prisão de verdade, pensam nisso. Caso pensassem, não fariam; não sei quem disse, mas pensar é de fato revolução.

Nenhum ladrão sai para roubar sabendo que será pego. Ao contrário; à menor dúvida ou suspeita de que algo poderá dar errado, ele nem sai de casa. Mas quando sai, ele esta convicto e tem fé (não é só acreditar, é ter fé mesmo) de que não haverá problemas. Acredita, inclusive, que Deus o protege contra seus "inimigos" e o livrará da prisão ou da morte. Acreditamos em privilégios e nos achamos mais filhos de Deus que os outros. É como no livro "Revolução dos Bichos" de George Orwell: os porcos eram mais animais que os demais animais.

Já vi e não foi uma só vez, grupos de assaltantes fazendo orações antes da ação criminosa, para que fossem protegidos durante o roubo. Cheguei a assistir oração coletiva com velas acesas e tudo, antes de uma tentativa de fuga de uma prisão. É profundamente contraditório, mas nós acreditávamos que Deus nos protegeria para que não fôssemos feridos, mortos ou presos. Sequer passava pela nossa mente que, pela lógica, Deus protegeria as vítimas e não a nós. Que Deus cuidaria do sujeito honesto, trabalhador e que cumpre com seus deveres. Sentíamo-nos filhos de Deus também e achávamos que merecíamos amparo igual a todos os outros filhos Dele. Caso Deus fosse pai de um de nós, seria pai de todos nós, já que somos irmãos. Pai eu concordo agora, mas não comparsa a nos proteger em nossas atitudes contras os demais filhos Dele.

Quem conhece de crime e prisão sabe, que tais medidas irão apenas criminalizar mais ainda esses pobres diabos que desde cedo fizeram ou foram obrigados às opções erradas. Os ideólogos de plantão argumentam que nos Estados Unidos, Japão e Europa, países de primeiro mundo, a menoridade penal não é levada em consideração. Mas são países de pleno emprego, com serviço social completo, hospital, escola e atendimento à criança que funciona. O crime nesses lugares é questão de convicção, caráter e não uma válvula de escape para  problemas sociais.

A vida vive a nos obrigar, a nos arrastar à seriedades, discussões e brigas difíceis e nem sempre é possível chegar a soluções reais. E nós vivemos a puxar a corda para o outro lado para nos libertar do que a vida nos obriga. Não procuramos soluções e sim reagimos aos fatos, unicamente. Vivemos a rir e zombar do que nos oprime e brincar com o que nos machuca.

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Luiz Mendes

30/04/2013.             

 

 

 

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