Crepúsculo dos descolados

por Kátia Lessa
Trip #178

Os fotógrafos dos sites Cobrasnake e Sartorialist falam à Trip no Brasil e trocam perguntas

Mark Hunter, conhecido como CobraSnake, sempre fez sucesso na balada. Na escola, apesar de não ser do time de futebol do colégio onde estudou em Los Angeles, foi eleito o rei do baile de formatura. O senso estético na produção pessoal sempre foi “duvidoso”, pra não dizer cafona. Macacões de oncinha, camisas dos anos 80 sem manga, cabelos desgrenhados. Mas, de tão extravagantes, acabaram virando marca registrada, e hoje ele é consultor de revistas e sites de moda, além de ter sua própria linha de roupas, à venda pela internet. “Eu era aquele cara esquisito da escola que vivia bêbado e usava roupas engraçadas. Não era do time de futebol, mas eu tinha uma vantagem. Eu era amigo de todo mundo. Tenho facilidade em transitar por grupos diferentes”, lembra. E foi com essa lábia que ele frequentou rodas de artistas plásticos, estilistas e diretores de Hollywood. Tudo isso só na bicicleta, seu meio de transporte há anos.

Com a câmera em punho por puro hobby, em uma época em que máquina fotográfica na balada ainda não era acessório de celular, ele passou a clicar os lugares que frequentava e, para se livrar dos pedidos de cópias das imagens feitos pelos amigos, jogava tudo em seu site. “Passei a clicar as pessoas ao meu redor porque elas eram criativas e se comportavam de forma original”.

Depois que Mark começou, centenas sites de “party pictures” pipocam na web. Roupas, objetos de decoração e até a música passaram a ser tão parecidas quanto as imagens que as retratam. “Não ligo que essas pessoas façam a o mesmo, mas acho importante que elas saibam que não são originais, que seu trabalho vai ser lembrado como o reflexo da criatividade de outra pessoa.”, avisa.

Mark diz não concordar totalmente com a tese da revista americana Adbusters de que os hipsters são um “grupo de pessoas narcisistas, com um vazio estético e cultural”. “Acho radical. Concordo que existe sim muita gente cujo único propósito é aparecer, mas isso acontece em todas as épocas.” Abaixo, ele responde às questões de seu colega da moda de rua.

SARTORIALIST PERGUNTA, COBRASNAKE RESPONDE

O que é mais perigoso, o seu clique ou a sua mordida?
O clique. Não gosto de morder. Me mordem o tempo todo nas festas. Em Curitiba, uma garota me machucou de verdade.

Quão curto pode ser um short masculino?
Ele deve parar antes que apareça a “joia de família”.

Você já pensou em posar nu para a Playgirl?
Para a Playgirl não. Talvez a Purple Magazine. Eu faço autorretratos de nu o tempo todo. Ontem mesmo eu estava entediado na academia do meu hotel, quando resolvi voltar para o quarto e retratar meu corpo, para lembrar de minha forma física quando estiver velho e barrigudo.

Quando você vai arrumar um trabalho de verdade?(Brincadeira) Como você faz para focar durante a noite?
Eu rezo, aponto e atiro. Deve ser por isso que perco boas fotos com frequência.

* * *

Foi em uma praça de Nova York, que Scott Schuman tornou-se The Sartorialist (cuja tradução é algo como “o alfaiatarista”). Explico: enquanto levava suas filhas pequenas para brincar, ele fotografava pessoas cujo estilo lhe chamavam a atenção. O hobby virou hábito, e o hábito tornou-se um dos blogs mais influentes do mundo. “Larguei o marketing de moda porque achava que o que os estilistas criavam não era o que as pessoas usavam nas ruas”, afirma o americano nascido em Indiana e formado em marketing de moda.

Satorialist também virou uma empresa. Scott conta com quase dez colaboradores em cidades como Paris, Milão, Londres e NY. Durante suas andanças evita as “vítimas da moda”. “Gosto de encontrar pessoas que têm seu próprio estilo, e estilo é algo que vai além da roupa. O estilo vem desde pequeno. Na escola, Scott usava roupas mais clássicas, feitas sob medida. “Eu não tinha problema em usar uma camisa bem cortada, diferente das jaquetas dos meninos da minha idade. Nunca fui de modismos. Com minhas filhas a coisa é diferente. Eu tento mostrar a Vogue, mas elas não dão a mínima importância”, brinca.

Quando questiono a pasteurização e a originalidade do estilo da nova geração, ele fica em silêncio e manda: “Acho que hoje existe mais liberdade para usarmos o que quisermos e muito mais opções de compra”, afirma. “E quanto aos hipsters? Não acha que são um símbolo forte de um grupo de pessoas que, ao não ter o que mostrar, exibem a si mesmos?”,provoco. “Acho que ainda é cedo para analisar algo que está acontecendo. Eu sinceramente penso que os hipsters são os hippies dessa geração. Os dois simbolizam sua época”, responde. “Os hippies tinham uma ideologia por trás, não?”, continuo o debate. “Muitas daquelas pessoas não estavam preocupadas com ideologia alguma, apenas queriam usar uma calça boca de sino. Acontece em qualquer grupo, de qualquer geração”, retruca. A seguir, ele responde às perguntas de seu colega da noite.

COBRASNAKE PERGUNTA, SARTORIALIST RESPONDE

Quem inspira seu estilo?
Cary Grant consegue ser muito elegante sem deixar de ter um lado casual no filme Cupido é moleque teimoso (1937).

De todos os lugares que você já visitou, qual a cidade com mais estilo no mundo?
Em qual cidade eu estou hoje mesmo?! [risos] Acredito que Milão consegue unir gente muito bonita e um estilo de classe.

Você tem animal de estimação?
Não.

Qual personalidade você gostaria de clicar?
Prefiro ser surpreendido com desconhecidos cheios de estilo ao virar a esquina.

Qual artista você considera que tem um bom estilo?

Acho que [o rapper] Kanye West e [a atriz] Jessica Biel são elegantes e conservam sua personalidade com cuidado.

 

fechar