Anos depois de ser invadidada por piratas franceses, Búzios recebe os tripulantes da nau de Heitor Dhalia para filmar À Deriva, seu trabalho mais pessoal, com o astro francês Vincent Cassel
Acima o ator francês Vincent Cassel concentra-se no set
POR KÁTIA LESSA, DE BÚZIOS
“Senhores, saiam da frente da luz, por favor”, “Senhores, atenção... Vamos rodar... Tudo OK?”, “Ici, tout est prêt”, retrucava o câmera francês. “Let’s go... Ação!” A misturada de línguas e sotaques dava o tom das filmagens do novo longa de Heitor Dhalia, À deriva, uma co-produção com a americana Focus. É seu filme “menos cérebro e mais coração”. Quem gritava em português naquela noite, porém, era o assistente de direção Tomas Portella. Enquanto isso, coberto por uma capa de chuva e com os pés atolados na lama, o diretor de O cheiro do ralo olhava atentamente o pequeno monitor, que estampava o rosto da estrela da produção, o ator francês Vincent Cassel (O ódio, Irreversível, Senhores do crime). Entre um take e outro, a equipe não parava de elogiar o ator. Todos estavam impressionados com a simplicidade, educação e simpatia do surfista e marido da musa italiana Monica Bellucci. A poucos metros, uma égua chamada Estrela fazia sua estréia cinematográfica em uma produção de R$ 6,5 milhões. Estirada ao lado de um carro capotado, mobilizava sete pessoas, entre veterinários e staff. O grupo segurava o bicho, que sob a chuva era anestesiado para uma cena de atropelamento. Tudo muito controlado. Com direito até a toalha de banho felpuda para proteger o animal da brisa gelada.
No set, entre um carro capotado, chuva, lama, diversos idiomas e duas estrelas para cuidar, Heitor parecia mais calmo e confortável. Não é segredo para ninguém que o diretor sonha em comandar projetos internacionais, e o atual trabalho, além de marcar os dez anos de carreira, é um ensaio para, quem sabe, ancorar em águas estrangeiras. “Gosto de viajar, trocar experiências. Sou brasileiro, mas não tenho esse sentimento arraigado. Prefiro temas universais”, explica. E é exatamente isso que ele está fazendo agora. À deriva toca na ferida do mais universal dos temas: família. Com roteiro de Dhalia e Vera Egito, rodado em Búzios e Cabo Frio, o filme conta a história de uma menina de 14 anos que descobre que o pai tem uma amante e assim percebe que a vida é muito mais complicada do que ela imaginava. “Não é um filme autobiográfico, mas é fortemente pessoal. Morei na praia, em Recife, durante 20 anos, e meus pais se separaram quando eu tinha mais ou menos a mesma idade da personagem. Queria que o roteiro tivesse um clima de nostalgia, de infância perdida. Se você parar para ler, vai achar a história leve, mas depois que comecei a filmar vi que o tema é muito mais profundo do que parecia. Um drama. As pessoas se emocionavam no set. Às vezes os olhos dos câmeras ficavam marejados”, lembra.
Heitor Dhalia confere o resultado da cena
DESCOBERTA NO ORKUT
Além do boa-praça Vincent Cassel, um apaixonado pelo Brasil que já passou várias temporadas aqui, o elenco ainda conta com Débora Bloch, a garota Laura Neiva, selecionada através do Orkut, e a norte-americana de mãe brasileira Camilla Belle. “Estava com dificuldade de achar um bom ator na faixa dos 40 anos. Um dia, durante o Carnaval, eu tinha trabalhado muito e resolvi parar para ver TV. A emissora mostrou um desses camarotes da avenida e apareceu o Cassel com a Monica Bellucci. Ele deu a entrevista em português. Aí me deu um clique na hora. Sou fã dele desde O ódio. A Débora foi fácil, porque ela me lembra muito a mãe da minha primeira namorada. Essa coisa meio ruiva... Acho que vai ser seu reencontro definitivo com o cinema”, conta orgulhoso. “E a Camilla... Não escolhi uma brasileira porque fiquei com medo de ser óbvia. Não queria nada sexy, vulgar. Procurava algo mais icônico, alguém com qualidade de musa. O fato de ela ter 21 anos é mais ameaçador, tanto pra ela quanto para o papel da mãe.” Quanto a Laura, diretor e ator têm o mesmo discurso: “Ela é a maior preciosidade do filme. É lindo pensar que ela está dando seus últimos momentos de infância para a tela. Ela já é uma atriz de cinema. Uma garota que veio com luz”.
Quando pergunto ao francês mais invejado do mundo (o motivo, claro, é la Bellucci) por que aceitou o convite para filmar no Brasil, ele abre um sorriso e manda em português quase perfeito: “Acabei um trabalho no qual tive que engordar 8 kg. Foi terrível. Eu já queria passar uns meses por aqui para descansar e surfar com a família, então foi perfeito. Hoje minha filha pegou a primeira onda da vida. Não preciso de mais nada”, manda após matar um mosquito na cabeça da repórter. “Pode ser ‘o’ dengue!” Fora do trailer o grito anunciava: “Senhores, podem parar. Hora do jantar”.
POR KÁTIA LESSA, DE BÚZIOS
“Senhores, saiam da frente da luz, por favor”, “Senhores, atenção... Vamos rodar... Tudo OK?”, “Ici, tout est prêt”, retrucava o câmera francês. “Let’s go... Ação!” A misturada de línguas e sotaques dava o tom das filmagens do novo longa de Heitor Dhalia, À deriva, uma co-produção com a americana Focus. É seu filme “menos cérebro e mais coração”. Quem gritava em português naquela noite, porém, era o assistente de direção Tomas Portella. Enquanto isso, coberto por uma capa de chuva e com os pés atolados na lama, o diretor de O cheiro do ralo olhava atentamente o pequeno monitor, que estampava o rosto da estrela da produção, o ator francês Vincent Cassel (O ódio, Irreversível, Senhores do crime). Entre um take e outro, a equipe não parava de elogiar o ator. Todos estavam impressionados com a simplicidade, educação e simpatia do surfista e marido da musa italiana Monica Bellucci. A poucos metros, uma égua chamada Estrela fazia sua estréia cinematográfica em uma produção de R$ 6,5 milhões. Estirada ao lado de um carro capotado, mobilizava sete pessoas, entre veterinários e staff. O grupo segurava o bicho, que sob a chuva era anestesiado para uma cena de atropelamento. Tudo muito controlado. Com direito até a toalha de banho felpuda para proteger o animal da brisa gelada.
No set, entre um carro capotado, chuva, lama, diversos idiomas e duas estrelas para cuidar, Heitor parecia mais calmo e confortável. Não é segredo para ninguém que o diretor sonha em comandar projetos internacionais, e o atual trabalho, além de marcar os dez anos de carreira, é um ensaio para, quem sabe, ancorar em águas estrangeiras. “Gosto de viajar, trocar experiências. Sou brasileiro, mas não tenho esse sentimento arraigado. Prefiro temas universais”, explica. E é exatamente isso que ele está fazendo agora. À deriva toca na ferida do mais universal dos temas: família. Com roteiro de Dhalia e Vera Egito, rodado em Búzios e Cabo Frio, o filme conta a história de uma menina de 14 anos que descobre que o pai tem uma amante e assim percebe que a vida é muito mais complicada do que ela imaginava. “Não é um filme autobiográfico, mas é fortemente pessoal. Morei na praia, em Recife, durante 20 anos, e meus pais se separaram quando eu tinha mais ou menos a mesma idade da personagem. Queria que o roteiro tivesse um clima de nostalgia, de infância perdida. Se você parar para ler, vai achar a história leve, mas depois que comecei a filmar vi que o tema é muito mais profundo do que parecia. Um drama. As pessoas se emocionavam no set. Às vezes os olhos dos câmeras ficavam marejados”, lembra.
Heitor Dhalia confere o resultado da cena
DESCOBERTA NO ORKUT
Além do boa-praça Vincent Cassel, um apaixonado pelo Brasil que já passou várias temporadas aqui, o elenco ainda conta com Débora Bloch, a garota Laura Neiva, selecionada através do Orkut, e a norte-americana de mãe brasileira Camilla Belle. “Estava com dificuldade de achar um bom ator na faixa dos 40 anos. Um dia, durante o Carnaval, eu tinha trabalhado muito e resolvi parar para ver TV. A emissora mostrou um desses camarotes da avenida e apareceu o Cassel com a Monica Bellucci. Ele deu a entrevista em português. Aí me deu um clique na hora. Sou fã dele desde O ódio. A Débora foi fácil, porque ela me lembra muito a mãe da minha primeira namorada. Essa coisa meio ruiva... Acho que vai ser seu reencontro definitivo com o cinema”, conta orgulhoso. “E a Camilla... Não escolhi uma brasileira porque fiquei com medo de ser óbvia. Não queria nada sexy, vulgar. Procurava algo mais icônico, alguém com qualidade de musa. O fato de ela ter 21 anos é mais ameaçador, tanto pra ela quanto para o papel da mãe.” Quanto a Laura, diretor e ator têm o mesmo discurso: “Ela é a maior preciosidade do filme. É lindo pensar que ela está dando seus últimos momentos de infância para a tela. Ela já é uma atriz de cinema. Uma garota que veio com luz”.
Quando pergunto ao francês mais invejado do mundo (o motivo, claro, é la Bellucci) por que aceitou o convite para filmar no Brasil, ele abre um sorriso e manda em português quase perfeito: “Acabei um trabalho no qual tive que engordar 8 kg. Foi terrível. Eu já queria passar uns meses por aqui para descansar e surfar com a família, então foi perfeito. Hoje minha filha pegou a primeira onda da vida. Não preciso de mais nada”, manda após matar um mosquito na cabeça da repórter. “Pode ser ‘o’ dengue!” Fora do trailer o grito anunciava: “Senhores, podem parar. Hora do jantar”.