Corpo forte, sol forte, chuva forte, amor forte. A força vem com o tempo, com o movimento delicado e firme
Passei seis semanas na Indonésia, onde fui fazer um curso de ioga. Agora, a princípio, sou professora – voltei com um certificado na mala, o corpo muito mais forte e a voz mais calma. É impressionante como a força vem quando você começa a fazer tudo devagar.
Essa mulher aqui é a minha professora, a Meghan Currie. Meghan é tipo uma celebridade da ioga. Cada mundo e cada meio tem suas celebridades e a Meghan ficou muito famosa por fazer sequências em que ela parece uma cobra e uma bailarina ao mesmo tempo.
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Quando cheguei em Bali, fiquei hipnotizada por ela. Ela me fez esperar até o último dia para fotografá-la, o dia que estávamos todos indo embora. Eu arrumei uma escada com o pessoal do hotel e fomos para a praia. A princípio, a escada era para mim. Meghan perguntou se ela poderia subir na escada, que queria muito, muito se drapejar na escada. Ela gosta dessa palavra, drapejar. Gosta de deixar tudo solto, e é isso que aprendo com ela. Ficar parada com força. Cair com elegância. Ouvir as sutilezas do corpo. Se drapejar com tudo.
Ela pergunta: “Posso ficar pelada?”.
Eu: “Pode”.
Outra coisa para aprender com a Meghan: ficar pelada a cada oportunidade.
É um luxo sem fim, ter este trabalho que te oferece mulheres subindo na tua escada e perguntando se podem ficar peladas.
Este trabalho é um luxo, e também o tempo de não trabalhar é um luxo.
Em Bali
Meus dias em Bali tinham um ritmo. Acordo todo dia às 5 horas, tomo um café preto sem sair da cama. Coloco um biquíni, um shortinho, vou para a escola e faço a primeira prática do dia. Geralmente o único outro que está lá esse horário é o Trevor (esse policial canadense de 2 metros de altura que tem um Om gigante tatuado no peito. Ele é um homem muito forte, tem a melhor parada de mão que eu já vi e é muito, muito doce apesar da cara de malvado. E tem paciência, tem o dom de professor). Depois tem a aula de todo mundo, e depois da aula, nado no rio ao lado. É um rio lindo, a água é clara e tem uma correnteza forte, mas dá para nadar até a pedra grande que fica no meio do mato. É um lugar selvagem – outro dia, resgatamos um morcego bebê que estava se afogando no rio. Só dá para ouvir o barulho do mato e os passarinhos. Tiro o biquíni, os óculos e a touca e deito pelada na pedra quente. O sol das 11 da manhã bate forte. Depois tem aula de como dar aula, depois tem aula de anatomia, e todo dia chove muito forte durante a aula de anatomia, aquela chuva tropical que vem rápido e depois o sol bate forte novamente. Me disseram: isto aqui não é férias. Mesmo não sendo férias, o tempo é um luxo. Passei o mês todo de biquíni, fiquei forte, tinha esse tempo calmo, aprendi tanto. Percebo agora que escrevi a palavra forte seis vezes neste parágrafo. Corpo forte, sol forte, chuva forte, amor forte. A força vem com o tempo, com o movimento delicado e firme. Ando descalça, faz um mês que não coloco sequer um chinelo. Não tenho celular. Minha amiga Erica me escreve:
“Eu quero que você me dê aula, e quero ficar com o corpo vivo de músculos alongados.
Quero nadar.
Quero mais encontros com amantes clichês que duram um dia.
Quero que você volte e possa ter seu tempo no mato o quanto achar que precisa.
Tô feliz por você ter vivido esse mês, de um jeito que você ama, sendo selvagem e bonita. Tô feliz que tô sentindo que você tá no caminho de volta e eu vou, sim, te ensinar a sambar.
A gente é teu lar assim como você é um lugar meu onde preciso estar um tempo.”
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Créditos
Imagem principal: Autumn Sonnichsen