Cinema Sintético

por Kátia Lund
Trip #99

Abril Despedaçado, A Última Ceia, e mais um clássico em DVD

Abril Despedaçado

De Walter Salles Jr., e A Última Ceia - ou Monster's Ball, no original -, dirigido por Marc Forster, são filmes sintéticos, quase minimalistas. Poemas visuais, falam do ódio herdado de geração em geração, como um círculo vicioso, um ritual sem sentido que serve de prisão para os jovens que ali procuram viver.

O filme brasileiro conta a história de ódio entre duas famílias no sertão que se matam ritualisticamente há gerações. Nós, como espectadores, nem sabemos o motivo original. Disputa de terra? Dívida? Poder? Não. O motivo é o sangue do último irmão que morreu. Como a vingança do sangue do irmão é questão de honra, tem sempre uma morte para justificar a próxima, e a próxima, e a próxima, alimentando assim eternamente o ódio.

A Última Ceia

A história se passa também no interior do país, dessa vez na Geórgia, sul rural dos Estados Unidos. Aqui, o ódio ocorre entre uma família de brancos e uma família de negros. Os brancos são três homens: o avô (Buck), o pai (Hank) e o filho (Sonny), todos policiais. Na família negra, há uma mãe (Leticia) que trabalha como garçonete para sustentar o filho enquanto o pai (Lawrence) fica preso na penitenciária onde Hank e Sonny trabalham. Um dia, os brancos Hank e Sonny conduzem o negro Lawrence à cadeira elétrica, tornando-se cúmplices de sua morte.

Com poucos personagens, pequenos gestos, muitos silêncios, simplicidade nos enredos e na linguagem, as metáforas visuais reforçam o tema central - que nos dois filmes é o ódio. É para que não nos percamos na hora de enxergar a beleza e a leveza da redenção, aquilo que faz com que a vida se torne tolerável novamente.

Duran Duran

Há pouco tempo nas locadoras, Barbarella, de 1968, é um filme de ficção científica delicioso. Tem um frescor e uma audácia difíceis de achar. Dirigido por Roger Vadim, não tem a menor intenção de se levar a sério, mas nem por isso deixa de ter inteligência.

Baseado na HQ de Jean-Claude Forest e estrelando uma Jane Fonda muito novinha, Barbarella surpreende. A heroína é uma James Bond feminina de roupas provocantes que vive na Terra, planeta do amor, onde a nudez é tratada com muita naturalidade.

O ano é 40 000 d.C., e a guerra, um negócio ultrapassado. Quando o presidente do planeta Amor procura Barbarella para dizer que Duran Duran inventou uma arma positronic ray, ela se surpreende e acha engraçado: para que inventar uma arma?. Ela recebe a missão de sair atrás de Duran Duran e no caminho encontra muitas figuras estranhas.

Barbarella supera todos os perigos na base de sua potência sexual - em várias cenas troca favores sexuais tranqüilamente para conseguir coisas de que precisa. Um Alice no País das Maravilhas para adultos, o filme consagrou Jane Fonda como símbolo sexual. Mais tarde, ela se tornaria uma feminista militante.

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