Aos 39 anos, mais bonita, mais inteligente, mais sexy e mais nua do que nunca
Órfã ainda criança, vencedora de a Casa dos Artistas, meme de internet. Bárbara Paz nunca esconde o passado ou as cicatrizes. Talvez por isso seja hoje uma das maiores atrizes do nosso teatro. Aqui ela se joga de corpo e alma à la Madonna nos anos 80.
Não é a primeira vez que me chamam pra escrever sobre a Bárbara. Conheço segredos dela (e ela meus) que nunca serão revelados. Segredos que me levam a pensar sempre na mesma coisa: poucos conhecem a verdadeira Bárbara Paz. Poucos têm a oportunidade de conviver com o humor inteligente e bufão, com a risada escrachada que contamina, e de ouvir besteiras da rotina com o vozeirão grave, com seu jeito ansioso, delicioso.
Sua primeira aparição pra mim já foi nua, no clipe Pelados em Santos, dos Titãs, de 1999. Como jurado de um prêmio da MTV, recebi a fita com esse clipe, uma provocação mundana genial ao mundo da publicidade bolada pelo maior de todos, Washington Olivetto. Bárbara oferecia as tetas para o consumidor voraz mamar.
Depois, no circo e no teatro, conheci a Bárbara palhaça e cômica. Rondava os palcos alternativos de São Paulo. No Next, ali na rua dos travestis do centro, a Rego Freitas, fazia Um chope, dois pastel e uma porção de bobagem, comédia hilária de Mário Viana com os Parlapatões, grupo com o qual ela se associou de corpo, coração e alma. Na época, namorava meu grande irmão Raul Barreto. Fez com o saudoso Marcos Cesana a peça Felizes para sempre, um dos melhores textos do meu grande amigo e parceiro Mário Bortolotto, no porão do Centro Cultural São Paulo.
Trabalhamos juntos na peça Suburbia, de Eric Bogosian, dirigida pelo Chiquinho Medeiros. Eu colaborava na tradução e vivia com ela o dia a dia dos ensaios, dos bastidores, da montagem. Gente boa de trabalhar. Bem-humorada, sóbria. Foi uma temporada longa. Viajamos. Mudamos de teatro.
Até que ela veio nos dar a notícia que teria que sair: “Liguem a TV hoje à noite no SBT que vocês entenderão”. Me esqueci de ligar, mas nem precisou: os atores começaram a telefonar, olhem a Bárbara no Silvio Santos, na Casa dos artistas, o que é isso? Acompanhamos de olhos arregalados o surpreendente, e até então inédito por estas bandas, reality-show. E ela ganhou! Precisava. Nunca escondeu de ninguém que fez o programa pela grana, pra ajudar as irmãs que a criaram no Rio Grande do Sul, já que ficou órfã cedo. O tal carro da Fiat que cada participante ganhou? Ela doou para uma irmã.
Todos nós sabíamos: ali transborda talento. Seu timing de humor e drama estão em perfeita sintonia; tem ousadia de encarar papéis difíceis e de se entregar no palco ou diante das câmeras. Bárbara é “gente de teatro”, que é como classificamos atrizes e grandes atrizes. Torcemos pro rótulo “ganhadora da Casa dos artistas” passar logo pra ela voltar ao teatro.
Então, vi Bárbara deslumbrante com o Grupo Tapa em Contos de sedução, de Guy de Maupassant, e em A importância de ser fiel, a dúbia comédia de Oscar Wilde. Depois, surpreendentemente mais rodriguiana do que muitas rodriguianas, em Os sete gatinhos, cruel e sensual, como pede Nelson Rodrigues. Vi ela fazer a ninfeta fútil e devassa Lolita Pille, na adaptação do livro Hell, dirigida pelo marido, Hector Babenco, e também a musa inspiradora de um autor em Vênus em vison, também dirigida por Babenco, em que vive uma atriz que seduz, atormenta e acaba revelando um lado escuro reprimido. Em dado momento, ela pega os dois suspensórios do personagem com que contracena e os puxa, como um elástico, num típico movimento de picadeiro. Rio sozinho e falo para dentro: “Palhaça...”
Bárbara para mim carrega a própria dualidade de um palhaço. Muitos sabem do seu passado triste, de onde vem, que seus pais morreram cedo, quem a criou, que veio de uma cidade pequena do Sul, que tem uma cicatriz que carrega desde a adolescência. Mas seu riso e talento contaminam quando as luzes se apagam.
Agora, as cortinas se abrem. A Bárbara que nos prende a atenção e que se apresenta é a mulher que sempre surpreende. Movida por seus dramas e temores – armas de um artista completo –, cresce não a vítima, não a celebridade, não a loira bombshell, mas a grande atriz que ela é.
Seu timing de humor e drama estão em perfeita sintonia. Bárbara é ‘gente de teatro’, que é como classificamos atrizes e grandes atrizes.
Créditos
Imagem principal: Bob Wolfenson
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