As Dores do Mundo

por Luiz Alberto Mendes

Às vezes, ao ver o sofrimento alheio ficamos satisfeitos, conformados com as dores que temos

Dores e Sofrimento

Esta noite, sem sono, estive a ponto de chorar na madrugada. Pensava nas dores das pessoas que nem conheço bem; querendo esquecer das minhas que conheço bem demais. Às vezes, ao ver o sofrimento dos outros ficamos satisfeitos, mesmo conformados com as dores que temos. Parece que somos privilegiados por não estarmos sofrendo tanto. Guardamos até um certo sentimento de culpa que não compreendemos bem, por conta disso.

Sabemos que as coisas não estão inteiras em nossas mãos. Vivemos precariamente, fingindo até para nós mesmos que estamos no controle de tudo. Tudo bem que a AIDS só se pega se der mole. Concordo em parte. E aqueles que já nasceram com? Outro dia no Estadão, havia uma reportagem sobre uma mulher que nasceu com AIDS. Foi o primeiro soropositivo a fazer uso do coquetel que reduz a doença de mortal para crônica. Pois é, ela havia dado à luz, naquele dia, a uma criança sem o vírus. O marido, pai da criança, também não foi contaminado.

As doenças hereditárias, que controle temos sobre elas? Claro, há os estudos, já conseguimos sequenciar o genoma. No tempo, conseguiremos controlar isso também. Viveremos 120 anos livres de doenças, como afirmam os cientistas. As dores físicas serão extintas. Esse tempo em que o homem padeceu de doenças físicas vai virar história.

Não parece meio injusto que só as gerações futuras poderão viver essa dádiva? Não, de verdade. Eles nascerão sem culpas também, então merecerão. Não destruíram e nem não devastaram. Diremos: mas que culpa pessoal temos disso tudo? Somos todos culpados ou então não há nenhum culpado. Às vezes penso que discuto essas coisas à toa. Talvez até isso que parece desastre pode estar dentro do plano de perspectivas sobre o homem. E consertar, recuperar seja a fase dois do empreendimento.

Mas e as dores dos outros? Ficaremos com o coração em alvoroço e essa mente inquieta, apenas? Não nos bastamos a nós mesmos, estamos ligados aos outros por extensão. Eles não são nosso limite e sim nossa continuação. Amar não significa possível dor futura. Amar talvez seja a única solução, mesmo que nos peguemos chorando na madrugada, feridos e batidos por uma dor que não é nossa.

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Luiz Mendes

26/04/2012

 

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