por Augusto Olivani
Trip #236

Trip ouviu quatro artistas que colocaram a vagina no centro de sua criação

Em julho, a artista japonesa Megumi Igarashi, conhecida como Rokudenashiko, foi presa por obscenidade em seu país depois de distribuir um arquivo que permitia aos interessados imprimir, em 3-D, réplicas de sua vulva. Do lado de cá do mundo, há três meses, no polo universitário de Rio das Ostras da Universidade
Federal Fluminense, a artista Raíssa Vitral teve seus lábios vaginais costurados na performance Xereca SatâniK, que deu o maior quiproquó. De Courbet e Schiele, passando por Le Viol (O estupro), de Magritte, até performances como Luminosity, de Marina Abramovic, a xoxota (e o corpo) é tema de debate. A Trip ouviu quatro artistas que colocaram no centro de sua criação aquele que Gérard Zwang, no clássico O sexo da mulher (1967), chamou de “órgão-chave da posse do corpo, mais desconhecido que a face escura da lua”

 

QUEM: MILO MOIRÉ (SUÍÇA)
OBRA: PlopEggs (2014)
O QUE É: Do lado de fora da feira Art Cologne, a artista realizou uma pintura com tinta liberada pela vagina. “Tudo começou com a pergunta ‘o que significa, fisicamente, dar vida a um trabalho?’. A resposta foi dar à luz uma pintura usando um dos símbolos da vida. A vagina possui uma força mística e fértil que afeta as pessoas de uma forma assustadora. Na arte, ela é uma das muitas possibilidades de jornada interior. Para mim, é uma representação metafísica que abrange grande parte do meu ser. Talvez seja uma forma de confrontar os espectadores, mas a natureza da arte é a de romper barreiras.”
Vai lá www.milomoire.com 

 

QUEM: DEBORAH DE ROBERTIS (LUXEMBURGO)
OBRA: Miroir de L’Origine (2014)
O QUE É: A performer se dirigiu até o Museu D’Orsay, em Paris, e diante do quadro A origem do mundo, de Gustave Courbet, reencenou a famosa imagem. “Este trabalho se baseia no ponto de vista da modelo feminina, ausente no quadro de Coubert, para questionar as molduras que condicionam nossa visão em relação ao sexo. Quando entrei no museu, estava preparada para tudo, e ao me sentar diante da pintura senti uma calma absoluta, como se fosse espectadora do pânico causado pelo meu gesto de abrir as coxas. Não foi somente o meu sexo que exibi, mas um sexo universal, de todas as mulheres. Esse gesto
não pode se perder na polêmica. Eu utilizei a mídia para dar voz a A origem do mundo.” 

QUEM: JAMIE MCCARTNEY (INGLATERRA)
OBRA: The Great Wall of Vagina (2011)
O QUE É: O “grande mural da vagina” é um conjunto de dez painéis com esculturas em gesso que recriam as vulvas de 400 mulheres. “Sabia que a obra seria para sempre controversa, mas não fiz só pelo barulho. Tinha razões sérias para criá-la, entre elas a de combater as ansiedades genitais das mulheres, ao mostrar a diversidade de aparências das vulvas. Todas as 400 mulheres que aparecem foram voluntárias que acreditavam no que eu tentava fazer. Tenho que honrá-las ao não sensacionalizar a escultura. É um difícil equilíbrio entre promoção e exploração. Ainda estou achando meu caminho.”
Vai lá greatwallofvaginas.co.uk



QUEM: CASEY JENKINS (AUSTRÁLIA)
OBRA: Casting Off My Womb (2013)
O QUE É: Uma performance de 28 dias em que a artista inseria um novelo de lã na vagina a cada manhã e passava a tricotá-lo. “Vivi uma experiência semelhante a uma meditação que combinava as capacidades físicas do meu corpo com as minhas expectativas culturais. A vagina/vulva tem o potencial de ser um símbolo muito intenso na arte graças à forma como tantas culturas distorceram essa inocente parte do corpo, transformando-a em maldição. A grande maioria de nós tem contato regular com vulvas, e ainda assim alimentamos medos que nos constrangem na hora de olhar ou falar sobre elas. De certa forma, eu acho essas reações fabricadas fascinantes– é a partir delas que eu crio.”
Vai lá www.casey-jenkins.com

 

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