por Luiz Alberto Mendes

Amizade-rede

Estava caminhando para a mesa de onde faria um bate-papo com estudantes e professores na Universidade Federal da Bahia (UFBA), quando ela me foi apresentada. Platéia lotada e todos ali, de olhos em mim. Eu já estava em um estado mental estranho, para dizer o mínimo; quem já fez palestra sabe do que estou falando. O frio na boca do estômago, a responsabilidade (com a fala) e o medo (do "branco"...) apertando a mente feito uma morsa. Nem vi bem Denise, talvez somente o sorriso meigo. Ela era professora de Literatura daquela Universidade, e estava usando meus livros em parte de sua tese de doutorado. Isso fez com que eu guardasse seu semblante em meio há cerca de 500 ou mais pessoas presente ao evento.

Depois da conversa em que parece, me sai muito bem, fui rodeado por pessoas que queriam cumprimentar, conversar, comprar meus livros ou simplesmente constatar que sou real e que existo mesmo. Então não pude dar muita atenção à nova amiga. Mas trocamos endereços. Dali para frente, ela foi minha crítica, minha conselheira literária. A amizade floresceu tanto que ela me levou novamente para falar na UFBA, com estudantes de literatura e fazer duas mini-oficinas de leitura e Texto. Valeu até créditos para os alunos. Foi um desafio que procurei dar o máximo para fazer o melhor de meus trabalhos.

A amizade com a professora foi crescendo; ela me proporcionou a melhor estadia em Salvador, de todas as vezes que estive na cidade. Conversar com Denise sempre foi um grande prazer. Ela lia tudo o que eu escrevia e começou a falar bem de algumas poesias que eu colocava em meu blog. Tanto falou que fui procurar ver. E eu também gostei, a partir da visão dela e me entusiasmei em produzir outras.

Entrementes, A professora começou a me falar sobre seu desejo de realizar uma oficina de leitura e escrita em uma penitenciária feminina de Salvador. E aquela conversa foi evoluindo com a adesão de alguns de seus alunos da faculdade de Literatura a seu projeto. Eu havia juntado minhas poesias em uma pasta e foi Denise quem disse que aquilo daria um livro de poesias. Relacionei todas e mandei para ela escolher as que podiam participar do livro sugerido por ela. Foi quando ela surgiu com um projeto em que havia um novo desafio para mim: montar uma oficina de 10 horas, duas horas por dia, via SKIPE. Nessa oficina virtual eu passaria a seu grupo a experiência que adquiri em realizar oficinas de leitura e texto dentro da prisões. E foi assim instantâneo; pensamos e já fomos nos conectando da sala de Denise na UFBA aqui em casa. Houve alguns momentos em que a coisa pegou, com explosões emocionais, lágrimas e tudo. Foi emocionante. Superamos todas as dificuldades técnicas, limitações de meus conhecimentos como agente ensinante e, em grupo, produzimos algo para valer. Viajei para Salvador logo em seguida para fazer palestra para a Defensoria Pública e pude jantar com os participantes da oficina. Um deles me levou até para assistir um show de Caetano Veloso na Concha Acústica.

Foi então que comecei a conversar no facebook com Marcelo Nocelli. Eu já gostava e seguia muitas coisas e textos que ele postava. Vi nascer a Reformatório, até dei minha opinião sobre a escolha do nome da editora. Começamos a conversar sobre a edição de um possível livro de poesias meu. Denise devolveu o livro apontando suas escolhas. Estudei, revisei tudo durante um período até rápido, a ansiedade do escritor por seu livro começou a pegar. Já era um livro e necessitava de um nome. Com muita coragem, tomei a decisão de mandar para Marcelo ver; a sorte do livro estava lançada.

Em Salvador, Denise e seus alunos adentraram à penitenciária feminina de Salvador e produziram a oficina com as internas ao presídio. Ouvi relatos de Denise, vi fotos das pessoas que participaram da oficina e fiquei muito satisfeito. Depois, com os textos das meninas (como a professora as chama) e das pessoas que compuseram a oficina, a professora montou um livro e me pediu um texto para que eu participasse da publicação. Aqui, Marcelo e seu sócio, aprovaram meu livro e decidiram publicar, foi emocionante saber. Pedi a Denise, com aprovação dos editores, que escrevesse o prefácio do meu livro. São anos de amizade sem falhas, agora ela já é Doutora em Literatura e goza de alto conceito. Mandei a ela o texto que escrevi para o livro das meninas. Logo em seguida veio a magnífica apresentação de meu livro de poesias que ela me presenteou. Tem uma formatação acadêmica, mas o conteúdo é pura poesia da poesia.

O meu livro de poesias foi lançado dia 09/12/2013, o livro das meninas chegou-me hoje, eu já o espero ansiosamente. Eu e a professora entrelaçamos nossas capacidades e temos nossos produtos a oferecer. Denise me disse recente que o mundo atual era construído por redes de pessoas e que a nossa rede é ainda mais forte por ser feita de boa vontade e amizade verdadeira. Concordo; e isso é tudo o que posso dizer.

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