Artista plástico buscou na poluição de SP inspiração para seu trabalho
Uma metrópole como São Paulo está ai, implantada. Suas ruas, seus prédios, sua arquitetura. Claro que não é definitiva, mexe a cada segundo, modifica-se, surpreende ou não. Disruptive by design é provocar mudanças, conceber o novo, o surpreendente. De onde vem a criação? O que pode acontecer dentro de uma cidade que provoque olhares surpresos?
Alexandre Orion, 35 anos, pai do Guilherme e da Luiza, não sabe o que ele é. Prefere que os outros digam. Não gosta de rótulos, mas nós vamos dar. Desenhista, fotógrafo, artista, criador, aquele que gosta de um desafio. Já foi tatuador, ilustrador, grafiteiro. Sempre que surge uma ideia na sua cabeça, quer levá-la adiante, por mais difícil que seja a execução. Sofre com isso. Acha que deixar de seguir sua fórmula é parte da busca do seu desafio. Para Orion, quando a ideia está pronta, o sofrimento – entre aspas - começa quando parte para a concepção. Nunca pensa no produto final e sim nas etapas, nos degraus que precisa subir, um a um, até chegar lá.
O seu pensamento está sempre voltado para o derrubar conceitos pré-estabelecidos, barreiras. Inventar até mesmo o inventável. Aos 13 anos de idade, quando saiu de casa com um tubo de spray nas mãos para grafitar São Paulo, trombou com um muro chamado realidade. A cidade não era só aquilo que imaginava, era outra coisa, maior. Eram as pessoas que estavam dentro dela, prontas para absorver novas atitudes, novas ideias, suas invenções. Sua relação com o que faz hoje sempre esteve ligado a cultura urbana, o hip hop, o grafite, o skate. Orion é fascinado com São Paulo e adora criar problemas para si mesmo, arrumar um desafio. Primeiro, teve uma ideia que batizou de Metabiótica: Fazer desenhos em paredes da cidade e depois captar as pessoas interagindo.
Passou meses com uma câmera fixa e gastou quilos de filmes para flagrar, com naturalidade e sem nenhuma intervenção, uma nova realidade para aquele pedacinho de cidade. Tudo em preto e branco para não filtrar a verdade nua e crua. Isso foi há dez anos. Tem 26 obras completas. Um dia, passando por um túnel de São Paulo, surgiu a segunda grande ideia. O túnel, que viu amarelo na inauguração, estava completamente preto. Curioso, parou e passou o dedo. Percebeu que aquilo era poluição pura. Começou a limpar, criando imagens de crânios, que para ele tem o significado do coletivo. Crânios igualam todas as pessoas.
Foi um trabalho braçal que durou várias madrugadas e algumas indagações de policiais que paravam a todo momento. Tudo documentado. Dos 600 metros de túnel, 300 viraram o que chama de ossário, um sítio arqueológico do futuro. A prefeitura foi lá e limpou apenas o espaço onde estava sua obra. Como Orion não lambe cria, sentiu-se realizado. Seu trabalho nasceu e morreu num túnel da cidade. Seu trabalho é assim, um gatilho e sua especialidade é percorrer um caminho que não é o já explorado.
Ai veio mais uma ideia inusitada, a Polugrafia. Quatro anos de trabalho para realizá-la. Fez o desenho – mais uma vez de crânio humano - numa estrutura metálica forrada com um tecido. Essa estrutura foi instalada na saída do cano de escapamento de um caminhão. Durante sete dias, sem mudar a rotina do veículo, chegou ao resultado final. Uma obra feita a partir de gás carbônico, fuligem. Ninguém tinha pensado nisso antes.
O próximo passo chama-se Lampoonist. É o nome que deu a sua arte de transformar a linguagem da rua em grandes painéis de neon ou plástico, unir o marginal – entre aspas – e o institucional. Quer fazer desses escritos, painéis como os dos postos de gasolina, dos bancos espalhados pela metrópole, sua grande paixão.