Academia Brasileira

por Redação

A Academia Brasileira de Letras deveria simplesmente mudar de nome

Ouço toda hora falarem mal do Paulo Coelho. Eu mesmo, gosto às vezes de falar contra o mago Coelho. Ele não é exatamente, digamos, um exímio representante do mundo literário. Nunca foi. Mas Coelho é um grande businessman. Um excelente homem de negócios, ou, se quiserem, de marketing, travestido de entidade metafísica.

Qual o problema? Nenhum. Mas todo o mundo fica ultrajado pelo fato de Paulo Coelho ter ido para a Academia Brasileira de Letras, esquecendo-se que Ivo Pitangui, isso mesmo, o cirurgião plástico, é também um imortal.

Acho que há um problema conceitual aí. Fico lembrando uma comparação, que ouvi outro dia, que dizia que os biólogos britânicos do século XIX ficaram chocados quando descobriram a existência do ornitorrinco. O tal do ornitorrinco desafiara todos os parâmetros estabelecidos, pois na biologia clássica dizia-se, lá em compêndios de caneta de pena, que os mamíferos dão de mamar aos seus bebezinhos e, em hipótese alguma, botam ovos. De jeito maneira! Pois não é que o tal do ornitorrinco fazia as duas coisas?! "Mas como pode"?, diziam o biólogos.

Ora, o problema não era do ornitorrinco em botar ovos, pois ele sempre fez isso, antes mesmo de os biólogos serem biólogos, ou antes mesmo de a biologia ser uma ciência, na verdade antes até da palavra ciência, ou talvez antes mesmo da própria palavra. O problema, pois, era o de nomenclatura. Um problema apenas técnico, de enquadramento.

Pois a celeuma toda em torno da tal da Academia Brasileira de Letras está talvez mal colocada. É apenas uma questão semântica, de nomenclatura, a rigor. Pitangui não tem problema, Paulo Coelho não tem problema, Zélia Gattai não tem problema, quem tem problema é a Academia Brasileira de Letras, que deveria se chamar apenas Academia Brasileira.

Um pequeno ajuste resolveria a questão e pouparia debates e insultos e, de quebra, salvaria a própria honra da Academia. Ivo Pitangui seria um notável cirurgião plástico, Zélia Gattai uma notável esposa de um famoso escritor, José Sarney, em categoria encomendada, um notável coronel de moustache e, Paulo Coelho, um notável charlatão, ou, pra evitar agressões, um notável marqueteiro.

E a Academia Brasileira de Letras, em vez de ser uma notável piada, seria apenas uma casa de notáveis.

Não é notável que não tenham feito isso até hoje?

Visite o Amarar

fechar