A paixão e a Incompletude

por Luiz Alberto Mendes

PAIXÃO

As paixões nunca são completas. Vivi grandes amores por mulheres e objetivos. Nada jamais me completou de verdade. Ninguém e nenhum projeto provou-se suficiente.

Creio que a única paixão de verdade, que jamais nos frustrara, é a vida. Assim fizeram homens gigantes, como Martim Luther King, Gandhi, Albert Shweitzer, Madre Tereza de Calcutá e outros poucos. Mas, pequeno que sou não consegui essa plenitude de sentimentos. Então a vida é muito para mim.

O que fazer? Sinceramente não sei. Mal sei por meus pés em cima dos meus passos, como poderia responder? O problema é que alguma coisa é sempre pouco e o todo sou pequeno demais para abraçar tudo.

Tento lidar com isso. Não me prendo a nichos. Querem me tornar especialista sobre prisão e crime. Há quem queira que eu seja palestrante, professor ou até ator. Entrei de sola na TV, teatro e cinema. Invadi roteiros, textos, enredos, telas de TV e cinema. Provavelmente há quem aponte para essa direção. Faço tudo isso, mas só quero ser escritor...

A velocidade do ritmo da vida vai tornando tudo obsoleto. Estamos em terreno pantanoso em que não podemos fincar raízes. Vou fazendo tudo o que aparece e que me sinta competente. Claro, chego inseguro, tateando. Assim que sinto que poso, expando. Sigo curioso, voraz, como uma esponja a absorver tanto quanto possa.

É outra paixão. Conhecer, envolver, admirar e então, apaixonar. A cada nova paixão, as anteriores continuam vivas. Apenas adormecem no coração. Ando muito envolvido com poesia e histórias em quadrinhos. Tento me esforçar em absorver tudo o que possa. Confesso-me um aprendiz apaixonado.

É sério: a educação, alimentação e cuidado com algumas pessoas dependem disso. Não é apaixonante saber que o fruto de seu esforço vai possibilitar pessoas a desenvolverem suas vidas? É mais que isso, é poético. E qualquer trabalhador, por mais humilde, pode viver essa paixão.

Viver, muitas vezes, é revolver. Mexer nos escombros e reconstruir. Cerro os punhos, travo os dentes e sigo em frente em busca de algo que me comova suficiente. No fundo, tudo o que quero é compreender, gostar e fazer durar.

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