Entrevista com o artista plástico Stephan Doitchinoff, que inaugura sua primeira expo individual sábado, dia 1º, na galeria Choque Cultural
As ruas da cidade estão com saudade. As pessoas também. Stephan Doitschinoff, 30 anos, conhecido nos muros como Calma, anda sumido na terra da garoa. Stephan não foi despejado, mas desde 2004 anda sem residência fixa. E tem andado bastante. Londres, Manchester, Madri, Berlim e... Chapada Diamantina. Culpa da necessidade de reclusão criativa, com algumas pitadas de exposições por aí. Sem pressa. Stephan dá tempo aos lugares que visita. Planta frutos. E com calma espera a hora de colher. O ano que passou de banda pelo Velho Continente lhe rendeu uma exposição individual na Subaquatica, em Madri. Death is a Holiday estampou as paredes da galeria por dois meses; e vendeu bem. Sem atropelo. Na volta, de São Paulo, agitou mais uma individual, dessa vez na galeria La Luz de Jesus, em Los Angeles. Não custou muito e Stephan partiu de novo. Seis meses de Chapada Diamantina. Nada de descanso; mas também sem stress. Stephan voltou da Bahia. E trouxe junto boa parte do que compõe sua primeira exposição individual na São Paulo Natal, com a qual propõe uma decida ao purgatório com as telas da série “A Divina Comédia”. É aquilo: a calma faz a hora, pra quem sabe acontecer.
por Endrigo Chiri retrato Cia. de Foto
O que preparou pra exposição de São Paulo? Vai ter a série nova de pintura e desenhos, mais uma instalação. E a série de dez quadros A Divina Comédia, comissionada pelo Sepultura, numa sala. Nas outras duas ficam a série nova e a instalação, que ocupa toda a sala maior.
Você tem viajado bastante, andava sumido... Fiquei o ano passado inteiro entre Inglaterra, Alemanha e Espanha, mas mais tempo em Londres e Manchester. E os últimos seis meses passei na Bahia, na Chapada Diamantina. Fiz uma série de murais nuns antigos quilombos de lá e um trabalho grande para a Corbis, maior agencia de fotografia do mundo, que é do Bill Gates. Eles lançaram um projeto de ilustração com curadoria, batizado de Thunderdog Collective, que é mais a representação de um time internacional de 20 artistas. Eles lançam as séries de ilustrações, além de imprimir para uma exposição de lançamento.
A Chapada Diamantina foi uma espécie de retiro produtivo então... Estava precisando me retirar para fazer um monte de quadros e essas ilustras. Entreguei 106 ilustrações pra Corbis. Mas sempre de fazer isso. Já tinha ido pra Bahia uma outra vez, já fiz em Ubatuba, e na Inglaterra mesmo, ia para o sítio de uma amiga. Pra ficar focado.
Não sente saudade da cidade? Quanto estou lá, não, mas quando volto pra São Paulo, curto pra caramba. E lá não é morto. Às vezes rola um turismo internacional, umas festas.
E o Calma está na ativa? Médio né. Mas estou na produção insana.
Lá fora rolou de pintar na rua? Pintei em Barcelona e Manchester, e em Londres eu fiz uma paradinha. Estou pirando mais em fazer mural, em lugares diversos, do que ficar no ataque nas ruas.
E pensa diferente quando vai criar pra galeria? Não. É tudo um corpo de trabalho só. Na verdade, o que muda são as fases, no que estou pirando mais na época, aí aplico em tudo, mural, ilustração, graffiti, tela.
É sua primeira exposição aqui, mas lá fora já rolou. Vende bem? Acha que é muito diferente daqui? Lá sempre vende. Dificilmente não vende nada. Em Madri vendeu pra caramba. Aqui é minha primeira exposição. Vamos ver. O que vejo como diferença principal é que lá fora a galera mais jovem tem grana pra isso, para colecionar arte. Aqui não. E não é nem o preço, que é meio parecido, no meu caso. É uma parada internacional, tem comprador vindo pra cá, gente que compra pela internet, em Los Angeles ou na Choque Cultural, então tem uns preço que são parecidos.
Está com viagem marcada? No começo do ano que vem tenho uma exposição solo nos EUA, numa galeria chamada Anno Domini, na Califórnia.
E vai rolar retiro? Acho que vou pra Bahia mesmo. Eu sou nômade e é bom. Aqui, por exemplo, eu trabalho X horas e vou fazer outras coisas, um monte de correria. Lá, as coisas tem começo e fim. Pinto 14 horas seguidas. Pinto e só. Depois saio, dou rolê na floresta, durmo e no dia seguinte começo de novo. Aí eu volto pra cá e ficam falando que tirei seis meses de férias...Nem imaginam. É produção insana mesmo. Vou pra trampar. Só que lá o clima é mais leve e consigo trabalhar muitas horas seguidas, e no seguinte acordar bem.
Temporal, exposição individual de Stephan Doitschinoff
onde: Galeria Choque Cultural, rua João Moura, 994, Pinheiros, 3061 4051
quando: abertura, sábado, 1º de setembro, sábado, às 16 h. Até 20/10