A educadora e fundadora da Casa do Zezinho garante: para olhar uma criança nos olhos e entendê-la, é preciso resgatar em si próprio o dom de sonhar.
“Quando uma criatura humana desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força de sua alma, todo o universo conspira a seu favor.” – Johann Goethe, escritor
Não sei sobre você mas eu penso que toda realização merece o seu momento de reflexão. É comum a gente usar as datas comemorativas de fim de ano, como Natal e Ano-Novo, para isso, mas eu gosto de provocar o meu estado de consciência diariamente. A Casa do Zezinho puxa muito isso em mim porque estou sempre em busca de novos parceiros, oportunidades e ideias para que tudo cresça e se desenvolva da melhor maneira possível. Posso dizer que subo uma montanha todos os dias. Pessoas, projetos, as crianças e os jovens, todo esse universo em eterna transformação vêm ao meu encontro no momento que passo pela porta com desafios, dificuldades, histórias sempre interessantes de vida e olhares diversos. Aí eu penso, “como é que eu vim parar aqui, no meio de tudo isso?”.
Aí eu penso no sonho.
Eu penso no sonho de cada um que ousou sonhar. Naqueles que me inspiram e continuam a inspirar. Eu penso em Martin Luther King e o sonho de uma sociedade sem segregação racial, na Madre Teresa e sua luta contra a fome, no Paulo Freire e a Pedagogia do Oprimido, no Bill Gates e no Steve Jobs e suas contribuições para tecnologia e inovação. Olha só minha cabeça, eu penso em todo mundo que ousou pela mudança, que insistiu em trilhar (muitas vezes, sozinho) caminhos que ninguém pensava. Já contei pra vocês que adoro ler biografias porque ajudam a entender como a pessoa atingiu um ponto de realização. E, mais ainda, como era a infância dessas pessoas que cresceram e que conhecemos apenas no seu brilho maior, no sucesso. Todos eles já foram crianças. Todos eles já foram adolescentes. Todos eles já sonharam alto, apostaram alto, ganharam e perderam.
Todos eles já foram crianças que empinaram sonhos.
Quem de vocês já fez a sua própria pipa ou papagaio? Quem já brincou de fazer aqueles barquinhos de papel? Eu sou da geração da brincadeira inventada, da imaginação criativa em que um cabo de vassoura vira cavalinho e algumas almofadas, um castelo. Claro que hoje é diferente, mais recursos, games e tal. Essa nova geração é surpreendente e tem seus próprios mecanismos para criar.
O que eu sinto um pouco de falta é do sonhar, sabe?
Eu insisto no sonhar aqui na Casa do Zezinho. A realização depende do sonhar como uma ferramenta que aumenta a coragem e o desempenho. Eu puxo o sonhar nos meus educadores e parceiros para que eles vibrem as possibilidades que estão enterradas lá no fundo de uma vida adulta de eternas batalhas pela sobrevivência financeira, social e amorosa. Eu vou buscar a criança perdida em cada um, aquela que guarda zilhões de caminhos criativos e soluções para questões do mundo adulto.
É esse espírito infantil que faz com que você se ajoelhe para olhar um Zezinho nos olhos, se coloque no mesmo espaço visual dele, entenda o que ele está passando por dentro. Afinal, o nome da minha ONG é o nome de uma criança, um nome para todas as crianças de qualquer idade.
Todos nós somos crianças empinando nossos sonhos de vida e realização. Você tem os seus e eu os meus. Realizar-se é um processo evolutivo. Para evolução, a realidade é apenas um passo antes do próximo, é seguir em frente. Para cada momento difícil na realidade de uma pessoa (como daqueles que falei acima), existiu outro de felicidade porque eles não ficaram parados no seu pior momento. Eles continuaram subindo a montanha, empinando seus sonhos. E, vou te contar, as surpresas no caminho podem superar e ir além do que você jamais imaginou. Eu comecei com duas crianças. Hoje tenho mais de mil, fora os adultos e todas as famílias. Isso que é sonhar alto.
Abra as janelas da sua consciência, as portas da sua percepção. Tem um céu inteiro de possibilidades esperando seus sonhos e um mundo concreto para realizá-los. Se vai ser fácil? Não sei dizer, cada um tem o seu próprio destino. Mas posso afirmar com certeza que, se você acreditar, uma aventura maravilhosa aguarda pelas suas realizações.
E como eu vim parar no meio de tudo isso? Acreditando no meu sonho, é claro!
A educadora Tia Dag foi homenageada pelo Trip Transformadores 2008. Assista a sua história aqui.
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