Metamorfose Ambulante

por Rodrigo Vergara

Prêmio Trip Transformadores chega à quinta edição buscando a própria transformação

O Prêmio Trip Transformadores é apoiado por marcas com princípios alinhados à iniciativa e a seus indicados. Este ano o prêmio é patrocinado por Itaú e O Boticário, nosso parceiro desde 2008, e apoiado por Audi, Grupo Ink, Suzano Papel e Celulose, Instituto Ecofuturo, H2OH! e Timberland. Transportadora oficial: Gol Linhas Aéreas Inteligentes. Rádio oficial: Rádio Eldorado FM

Prestigiado entre aqueles que constroem um futuro melhor, o Prêmio Trip Transformadores chega à quinta edição buscando a própria transformação.

O Prêmio Trip Transformadores nasceu como uma forma de homenagear e de reconhecer o trabalho de pessoas que se transformaram ajudando a transformar a realidade em que vivem. Foi um acerto. Em quatro anos, o prêmio já é reconhecido como um dos mais importantes do cenário editorial brasileiro.

Sinal verde para manter a rota? Pelo contrário. Hora de ajustar o rumo e aplicar na prática o princípio budista da impermanência, tantas vezes apregoado nas páginas da revista, que nos lembra da verdade óbvia, mas muitas vezes esquecida: tudo muda o tempo todo, nada é para sempre. Além disso, seria impossível passar em branco pelo ano de 2011, que marca uma espécie de alinhamento de planetas no mapa astral da Trip. Em 2011, a revista Trip faz 25 anos. A Tpm, sua parceira nascida da costela da revista masculina, completa dez anos. E o prêmio Trip Transformadores chega à quinta edição.

Na linguagem dos velejadores, é a hora perfeita para dar o jibe (pronuncia-se “jaibe”), expressão eloquente que se refere àquele momento em que, tendo alcançado um ponto desejado, o timoneiro muda a posição do barco em relação ao vento, fazendo as velas varrerem o convés, e aponta nova direção. Na vida, como no mar, a distância entre a origem e o destino raramente é uma reta.

Para ajudar nessa correção de rota, ninguém melhor do que os principais tripulantes desse barco, a bordo desde o início da jornada do prêmio: os próprios homenageados. Queríamos saber deles em que medida o prêmio transformou suas histórias e, mais importante ainda, como ele poderia transformar mais.

Visibilidade

De cara, ficou claro que a maior contribuição do prêmio é valorizar e dar visibilidade aos projetos desses homens e mulheres de ação.  

Vejamos o que diz Dagmar Garroux, a Tia Dag, presidente da Casa do Zezinho, homenageada na primeira edição, em 2007. “Alguns empresários com os quais eu não tinha contato antes demonstraram interesse em se aproximar.” É verdade que a educadora estava preparada para colher os frutos da iniciativa. Tem uma área de marketing bem estruturada incluindo até uma assessoria de imprensa. “Mas, para muitos dos homenageados, que não têm essa estrutura, o efeito se esgota na cerimônia de premiação. Eles não colhem os mesmos frutos.”

Não mesmo. Alemberg Quindins, criador de uma casa de cultura em Nova Olinda, no Ceará, homenageado em 2010, reconhece o valor da homenagem. “Dar visibilidade é dar condições para a gente transformar a realidade”, diz ele. Mas a honraria não conseguiu trazer benefícios materiais para o projeto. “A visibilidade proporcionada não garante o mesmo retorno a uma instituição como a nossa, que está a 560 km de Fortaleza.”

É óbvio, ninguém faz nada sozinho. Uma transformação de verdade é movida a muitas mãos

Instalado em Piraporinha, bairro da zona sul de São Paulo, o poeta Sergio Vaz, premiado em 2010 pelos saraus poéticos que realiza, relata os mesmos pontos. “Conheci pessoas bacanas na festa de premiação e as reportagens publicadas renderam uma projeção legal. Saí da cerimônia com um punhado de cartões. Mas nenhum desses contatos vingou.”

“A Trip podia encontrar novos meios de ajudar ainda mais essa gente a tirar proveito da premiação”, resume generosamente Tia Dag.

 

Intercâmbio

A resposta pode estar no modo de ser e agir dos transformadores. Um olhar mais detido sobre as iniciativas dos homenageados revela que são todos pessoas de conexões. Gente que, alem de botar a mão na massa, inspira outros a participar. É óbvio, ninguém faz nada sozinho. Uma transformação de verdade é movida a muitas mãos.

Mais do que ver seus trabalhos reconhecidos, para eles é importante estabelecer e aprofundar relações. Daí nascem novos conhecimentos, novas práticas, novos voluntários, novos patrocinadores e novos parceiros que levam adiante seus projetos e ideais.

Foi o que aconteceu com o Dando, nascido Anderson Luiz Balbino de Souza, homenageado em 2009 por ter promovido uma revolução digital na favela de Antares, na zona oeste do Rio de Janeiro. Na cerimônia do prêmio, conheceu Paulo Sergio Kakinoff,
o presidente da Audi do Brasil, que lhe entregou o troféu. No fim da festa, combinaram de se encontrar. “Na real, achei que a promessa era só uma cortesia do cara. Mas um mês depois me liga a secretária para marcar uma visita dele na comunidade. Ele passou um dia inteiro aqui e a gente depois foi para São Paulo com ele.”

Do encontro nasceu um interesse mútuo que pode viabilizar o projeto social O Cria (Centro Revolucionário de Inovação e Arte), que visa construir uma sede para abrigar diversas atividades esparsas que hoje ocorrem em Antares, como escola de judô, grupo de balé, orquestra de jazz, núcleo de produção audiovisual, aula de reforço escolar, entre outros. “A gente quer ser igual ao AfroReggae, mas mais tecnológico. Antares vai ter a mesma projeção que tem hoje a Mangueira”, diz Dando.

Às vezes os homenageados se conectam entre si. Vanete de Almeida, premiada em 2009 por seu trabalho à frente da Rede LAC (Rede de Mulheres Rurais da América Latina e Caribe), foi a Nova Olinda, no Ceará, gravar um CD com as trabalhadoras rurais cantando. O estúdio pertencia ao projeto Casa Grande, no qual atua Alemberg Quindins. “Todo mundo se hospedou nas nossas pousadas comunitárias. Ou seja: a iniciativa gerou renda pra gente. Nós oferecemos a gravação do CD sem custo. Em troca, ganhamos um show que foi emocionante”, diz Quindins.

Para facilitar essa troca, desde 2009 a Trip promove encontros entre os homenageados. No ano passado, foi num desses encontros que o antropólogo Rubem César Fernandes, diretor-executivo do Viva Rio, conheceu o ambientalista Marcelo de Andrade, fundador do Instituto Pró-Natura. De cara, perceberam a sinergia que existia entre suas iniciativas e marcaram uma nova reunião de trabalho, dessa vez no Haiti, onde ambos têm trabalhos importantes e atuação destacada.

Todos os homenageados entrevistados demonstraram o desejo de estreitar relação com os outros premiados. “Eu adoraria trocar experiências com a Ana Moser, que faz um trabalho social com esporte, algo que poderia ser aplicado aqui, no ambiente rural. Gostaria também de conversar longamente com aquele economista [Ladislau Dowbor], que é um homem inteligentíssimo e deve ter muito a ensinar para gente como eu. Estivemos juntos na cerimônia de premiação, mas perdemos a chance de criar laços entre os homenageados. Isso sim seria um passo importante para criar uma grande rede de transformadores sociais”, diz Vanete.

Com sua peculiar sensibilidade, o designer e arquiteto Carlos Motta, membro do conselho editorial da Trip e criador do troféu entregue para os homenageados, resume em uma metáfora o desejo de união expressado pelos homenageados: “É como se fosse um cardume, uma multidão de indivíduos com o mesmo objetivo, que nesse caso é o bem comum. Os premiados são os expoentes, mas o bacana é que todo mundo, no evento de premiação, está vibrando de uma maneira parecida, em função de um bem maior”.

O que é transformar?

“É reconhecer talentos e criar oportunidades para que eles desabrochem.”

Alemberg Quindins, homenageado em 2010 pela criação de um centro cultural em Nova Olinda (CE)

“Transformar é não aceitar e admitir injustiça. Primeiro, tem de se debruçar sobre a injustiça. Depois, se concentrar na transformação da mentalidade, do jeito de pensar. Eu penso como Vanete. Outra pensa como Luzia, como Maria... Quando a gente junta todos esses jeitos diferentes de pensar, nasce um pensamento social, baseado na igualdade, no respeito pelo outro, na ética. Tenho uma certeza: quando a gente consegue modificar a vida de alguém para melhor, mesmo que seja aqui no meio do mato, está ajudando a transformar o mundo. Comecei meu trabalho reunindo duas ou três mulheres assustadas. Hoje faço parte de um grande movimento.”

Vanete de Almeida, líder da Rede LAC (Rede de Mulheres Rurais da America Latina e Caribe), homenageada em 2009

“Transformar é não ter medo nem preguiça de arregaçar as mangas e meter a mão na massa. Eu lavo o chão do cinema do mesmo jeito que subo ao palco pra receber um prêmio da Trip. É despertar o sonho em quem não sabia o que era sonhar. É acender uma luz para iluminar o seu entorno, para que outro também acenda, e outro, e mais outro... Assim, a gente ilumina o bairro, depois a cidade, depois o país. Transformar é colocar em prática em vez de ficar pagando de coitadinho. É fazer na marra. Reclamar como sempre e agir como nunca.”

Sergio Vaz, organizador cultural na periferia de São Paulo

 

“Transformar é trocar experiências e crescer com essa troca, ouvir, aprender e multiplicar ações que modifiquem a vida das pessoas para melhor. Descobrindo soluções e encontrando uma maneira de viabilizá-las. Como eu convenço uma criança a se afastar do traficante, que lhe paga R$ 600 por semana, e virar um aprendiz numa instituição que só vai lhe pagar R$ 600 por mês? Seduzindo com inteligência e tocando seu coração. O importante é manter-se indignado o tempo todo e sair cutucando todo mundo.”

Tia Dag, educadora, presidente da Casa do Zezinho, homenageada em 2007

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