Para Sandro Testinha, o Trip Transformadores vai além de eventos, é um movimento real que une pessoas e projetos que, juntos, podem mudar a realidade do Brasil
Que o Trip Transformadores é um movimento contínuo, que nos últimos dez anos já evidenciou mais de cem pessoas que ajudam a mudar o Brasil, todo mundo aqui já sabe ou deveria saber. Porém, talvez não fique claro que, a cada ano, as 11 pessoas homenageadas automaticamente formam uma rede em que todos acompanham mutuamente a ação do outro. Isso causa uma inspiração diária, eu mesmo faço questão de ir ao evento todo ano para recarregar a minha bateria com as histórias de cada homenageado, e ainda aproveito para trocar e estreitar contatos.
Escrevi, neste ano mesmo, sobre a visita que tivemos do mega-atleta Fernando Fernandes, homenageado em 2016 pelo prêmio. Nossa amizade estreitou e ele trouxe, diretamente do instituto dele, uma ajuda para a ONG Social Skate, que vai ser utilizada em 2018. O esporte foi um elo de ligação entre nós e o Trip Transformadores, a ferramenta que nos conectou.
Em 2009, Ana Moser, homenageada, jogadora de vôlei e presidente do instituto Esporte e Educação (IEE), também teve de forma indireta responsabilidade pelo que vou contar ainda neste texto. Foi trabalhando em um projeto dela, a Caravana de Esportes, que conheci um dos investidores de ações sociais e esportivas. Então, utilizei a cara e a coragem para abordá-lo em um evento da Caravana para apresentar a Social Skate. Para a minha felicidade, ele sinalizou positivamente, porém, disse que de início não seria um apoio para um projeto esportivo em si, mas para a alimentação saudável de quem fazia parte dele. Quase recusei, afinal, nunca mexi com alimentação. Mas como não somos de fugir de desafios, como o skate nos ensinou, resolvi ouvir a proposta.
Pra minha surpresa, tratava-se de um projeto de hortas comunitárias e orgânicas, em terrenos abaixo de torres de redes elétricas que ficavam obsoletos e acabavam servindo de descarte irregular de lixo e entulho, algo configurado como crime ambiental. Fiquei um tanto quanto preocupado, pois, como disse, nunca mexi com agricultura, mas a empresa patrocinadora disse que receberíamos toda consultoria de uma ONG especializada no assunto. A Cidades sem Fome.
Na mesma hora me lembrei de que já tinha ouvido falar dessa ONG. Mas foi quando ouvi o nome de Hans Dieter Temp, homenageado na edição de 2016 do Trip Transformadores, que tive certeza de que não era desconhecido. Esse fato me deu toda a segurança que eu precisava para aceitar o desafio de talvez ser o primeiro skatista responsável por uma horta comunitária da história.
Desafio aceito, recebemos a equipe do Cidades sem Fome para um intensivo no local de nossa horta. Trabalhamos a terra, adubamos tudo de maneira orgânica e sem produtos químicos, plantamos e já está quase na hora da primeira colheita, que será feita pelas crianças da ONG Social Skate. Elas vão poder levar um pouco de cada hortaliça para casa. Agora, além do esporte, educação, boa convivência social e familiar, também trabalhamos o eixo da alimentação saudável para nossos jovens e crianças. O excedente das colheitas será vendido a preços populares para a comunidade, a fim de financiar novos plantios e tornar a ação autossustentável.
Por fim, deixo claro o quão incrível é o movimento Trip Transformadores, que vai além de eventos e páginas da revista, sites e blogs. É um movimento real, que através dessa rede não planejada, mas espontânea, une pessoas, ações e projetos que juntos podem mudar a realidade às vezes catastrófica que vivemos no Brasil e no mundo.
Que venham mais dez, 20 ou quantos anos forem possíveis para o Trip Transformadores existir!
Sandro Testinha foi homenageado pelo Trip Transformadores 2013. Assista aqui a sua história.
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