Planos de saúde

por Gustavo Angimahtz

O Prêmio Trip Transformadores é apoiado por marcas com princípios alinhados à iniciativa e a seus homenageados.

Está chegando. Em novembro, no Auditório Ibirapuera, acontece a cerimônia para celebrar os homenageados do movimento Trip Transformadores edição 2015. O prêmio, que completa nove anos, carrega em seu DNA a missão de revelar histórias e iniciativas inspiradoras, que nos colocam frente a novas maneiras de ver e pensar o mundo. Como aquecimento, nas páginas a seguir, vamos conhecer mais três homenageados, todos ligados a um dos temas mais urgentes e relevantes para todos: a saúde. Primeiro, a história de Katiele Fischer, com sua luta pela liberação da importação de um medicamento derivado de maconha para o tratamento de uma rara síndrome de sua filha. Depois, a democrática rede de clínicas médicas de atendimento a preços populares idealizada pelo empresário Thomaz Srougi, e a saga de Caio Guimarães, estudante que criou um equipamento capaz de eliminar infecções por meio de feixes de luz.

O Prêmio Trip Transformadores é apoiado por marcas com princípios alinhados à iniciativa e a seus homenageados. Este ano o prêmio tem o patrocínio do Grupo Boticário, nosso parceiro desde 2008, copatrocínio de Ambev, Apex-­Brasil e Hyundai i30 além do apoio de Suzano Papel e Celulose, Gol Linhas Aéreas Inteligentes, Academia de Filmes, Almap BBDO e Update or Die.

Katiele Fischer

Legal ou ilegal?

Aos 45 dias de vida, Anny Fischer, filha da paisagista Katiele de Bortolli Fischer e do gestor de fundos sociais Norberto Fischer, teve sua primeira convulsão. Era o primeiro indício de um quadro que seria diagnosticado, quatro anos depois, como uma síndrome rara, crônica e degenerativa chamada CDKL5, que afeta o desenvolvimento neurológico e psicomotor. Começava ali uma longa jornada que Katiele enfrentaria, quebrando preconceitos para trazer ao país, legalmente, o único remédio capaz de melhorar a qualidade de vida de sua filha: um componente da maconha.

Após trazer o CBD (canabidiol, componente com fortes propriedades anticonvulsivas) ilegalmente para o Brasil, iniciou uma batalha contra o conceito de certo e errado, cujo objetivo é garantir mais qualidade de vida a pessoas como Anny Fischer. “O grande objetivo desta luta é que as pessoas tenham liberdade de escolher com que tipo de medicamento desejam se tratar”, diz Katiele.

Olhar por outro ângulo

Hoje, Katiele conseguiu não apenas uma liminar que permite a importação de CBD para sua filha, mas também fez com que a substância passasse da lista de proibidas para a lista de controladas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Também conquistou para os cidadãos brasileiros a isenção do pagamento do imposto de importação de 60% não apenas para o canabidiol, mas para qualquer medicamento.

O caso fez com que o Conselho Federal de Medicina do Brasil fosse pioneiro a se manifestar sobre o tema, ainda que num parecer restrito a crianças e à epilepsia. Mesmo atuando dentro do âmbito da maconha medicinal, a paisagista contribuiu para uma das discussões mais atuais (e polêmicas) da nossa sociedade, a legalização da maconha. “Como uma planta vista como tão maldita poderia ser boa?”, indaga Katiele. “Precisamos nos livrar desse preconceito.”

“Precisamos nos livrar do precon­ceito. A maconha pode ser boa”

No caso de sua filha, a substância só trazia benefícios. A medicação diminuía as crises e mantinha Anny acordada, resultados notadamente mais satisfatórios se comparado a outros tratamentos. 
Isso durou até que, um dia, no lugar do pacote da importação, chegou uma carta da Anvisa pedindo explicações. Foi o estopim para o processo judicial que permitiria a importação e desencadearia seguidas vitórias de Katiele. “Tudo tem um lado bom”, fala Katiele. “É preciso olhar por um outro ângulo, sempre.”

A vontade, hoje, é de um dia poder produzir nacionalmente a substância e mostrar para a sociedade que os problemas são, na verdade, uma grande oportunidade. “Hoje, com 7 anos, a Anny ainda é extremamente comprometida, mas se comparar com o que era antes, ela teve uma melhora exorbitante. Controle cervical, dedinho na boca, perninha que muda de posição, apetite melhor, fica acordada e tem até umas gordurinhas”, sorri Katiele. “Ela tem a oportunidade de ver o mundo e de sentir o cheiro das pessoas. Esse tipo de estímulo é um direito dela também”, conclui, com a leveza de quem sabe que está no caminho certo.

Thomaz Srougi

Prazer, Dr. Consulta

O empresário Thomaz Srougi se intitula o patinho feio da família. Ao contrário do irmão e do pai, não se tornou médico e sim analista financeiro. No entanto logo se cansou da relação “perde-ganha” das negociações. Queria mais.

Com a enorme demanda negligenciada pelo sistema público de saúde, Srougi teve a ideia de oferecer um serviço médico de atendimento básico particular a preços populares. Nascia, em agosto de 2011, o embrião do empreen­dimento social Dr. Consulta, clínica particular que oferece serviços básicos, como exames e consultas em diversas especialidades médicas, com o diferencial de adotar preços muito abaixo da média do mercado. “Empresas sociais impactam a sociedade na medida em que trazem soluções que o governo ou que as ongs não foram capazes de prover”, diz Srougi.

No Sistema Único de Saúde (SUS) – avaliado como péssimo por 51% dos usuários em pesquisa do Datafolha e única opção para 150 milhões de brasileiros e para mais da metade da população de São Paulo –, o tempo médio de espera para uma consulta é de 230 dias. Para um exame, o tempo chega a 135 dias. “Qual é o custo de esperar quase um ano por um diagnóstico?”, indaga o empresário.

No sistema particular, o valor de uma consulta, em São Paulo, é de R$ 350 em média, muito além dos R$ 90 cobrados no Dr. Consulta hoje em dia. “Fiz cerca de 17 exames, paguei R$ 420 e tive a oportunidade de parcelar sem juros. Os exames ficaram prontos em cinco dias”, conta Álvaro, paciente da unidade Jardins, que conheceu o empreendimento pela internet.

Não é pegadinha

A comunidade de Heliópolis foi o primeiro laboratório da iniciativa. “Não perdi muito tempo fazendo planilhas. Fui pesquisar, achamos um ponto e abrimos.” Demorou três anos até que as arestas fossem  aparadas e o negócio pudesse se expandir. “Primeiro, éramos muito diferentes do que estavam acostumados por lá, alguns pensavam que era pegadinha”, fala Thomaz, que encontrou o problema ao verificar, com pesquisas, que menos de 5% da população do entorno sabia da existência da clínica. 

“Oferecer um tratamento particular de qualidade com custo baixo. esse é o desafio aqui”

Mas como é possível oferecer um tratamento particular de qualidade com custo tão baixo? Thomaz diz que o habitual conforto das clínicas particulares foi substituído pela agilidade no atendimento, liberando o paciente, em média, 35 minutos após a entrada na clínica. “A pessoa está pagando pelo serviço, não pode esperar muito”, diz.

O próximo passo do Dr. Consulta é o lançamento de um aplicativo para consultas ao conteúdo médico da Harvard Medical School, uma das maiores referências médicas do mundo, e que ainda lembrará o paciente de suas consultas e exames. “Será o principal canal de comunicação com o paciente”, orgulha-se o empresário, que hoje comemora dia após dia a saúde de seu negócio. 

Caio Guimarães

Fez-se a luz

Hoje, no Brasil, morrem, em média, 100 mil pessoas por ano vítimas de infecção hospitalar, segundo a Organização Mundial de Saúde. Também conhecida como septicemia, trata-se de uma enfermidade causada, na maioria dos casos, por falta de higiene nos hospitais. Pacientes internados pelos mais diversos motivos acabam contraindo alguma superbactéria que os levam a óbito rapidamente.

Caio Guimarães, estudante de engenharia da Universidade Federal de Pernambuco, aos 24 anos, acredita que pode reduzir esse número em 70% com sua invenção: um equipamento capaz de incidir certa frequência de luz em tecidos contaminados e destruir a parede celular das bactérias, matando-as e eliminando a infecção. “Existem bactérias resistentes à maioria dos antibióticos, e usando luz temos resultados rápidos, praticamente em uma hora”, revela o estudante.

A ideia começou em Harvard, nos Estados Unidos, onde Caio chegou através do programa Ciências sem Fronteiras, ganhando uma concorrida bolsa de estudos. Após enviar “mais de 2 mil e-mails” para laboratórios de pesquisa de Harvard, do MIT e da NASA, acabou conseguindo vaga num laboratório em Boston, onde poderia integrar uma das equipes de pesquisa.

Lanterna mágica

Lá, Caio acabou se interessando por uma pesquisa de fototerapia. A equipe desenvolvia tratamentos para infecções usando uma frequência de luz que se manifesta na cor azul, e uma das principais barreiras era a difícil penetração no tecido. Caio desenvolveu uma forma de entregar a exata frequência de luz de forma simples e com baixo custo; o que antes era obtido por um equipamento a laser de grandes dimensões, agora poderia ser feito por um aparelho portátil.

"A invenção promete combater infecções hospitalares, que matam 100 mil pessoas por ano no Brasil"

O pulo do gato foi quando Caio e a Universidade Federal de Pernambuco trouxeram uma parte da pesquisa para o Brasil. Com seis pessoas, a equipe desenvolve equipamentos para a aplicação das teorias trabalhadas nos Estados Unidos. “Eles continuam com a parte teórica e a gente ficou com a parte mais divertida, que é desenvolver equipamentos e levá-los para a sociedade”, diz o jovem.

A invenção de Caio promete trazer diversas aplicações para a medicina, além do combate às infecções. Hemodiálise, pacientes em UTI e até mesmo produtos estéticos são alguns dos nichos que o estudante pretende abranger com a tecnologia da “lanterna antisséptica” que desenvolveu. Ela ainda está em fase de testes e não há previsão para o início de comercialização, mas a transformação que o jovem está promovendo já começou.

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