Design e a transformação social

por Milly Lacombe

Um papo na galeria Espasso sobre como o design pode ser instrumento de transformação social

No dia seguinte ao encontro com Stephen Ritz, Paula e Edgard juntaram-se ao designer Zanini de Zanine para um papo na galeria Espasso sobre como o design pode ser instrumento de transformação social

No dia seguinte a nossa ida a South Bronx, Paula e Edgard foram à galeria Espasso, fundada há 11 anos em Nova York pelo brasileiro Carlos Junqueira, para participar de um bate-papo com Paulo Lima, publisher da Trip, e com o designer Zanini de Zanine sobre o design e o urbanismo usados como instrumentos de transformação social – ainda parte do ciclo de encontros promovidos pelo Prêmio Trip Transformadores durante o ano.

Zanini, 35 anos, inaugurava naquela noite uma exposição na Espasso, mostrando sua obra ao lado da do pai (o arquiteto Zanine Caldas, morto em 2001 aos 82 anos) e de algumas peças de Sergio Rodrigues, com quem trabalhou. Ele cresceu atento ao que esses mestres diziam sobre sustentabilidade e engajamento social. Herdou a preocupação em trabalhar com madeiras remanejadas, de demolição ou alternativas, e diz buscar em seus clientes o mesmo tipo de alinhamento. Um dos trabalhos que faz com madeira maciça acontece dentro de uma comunidade no Rio de Janeiro, que ganha com a produção.

O evento acontecia em Tribeca, uma das regiões mais badaladas e ricas de Manhattan. E, embora estivéssemos já bastante longe da aridez de South Bronx, sendo agora servidos de água com gás, prosecco e canapés de camarão e pão de queijo por garçons sofisticados, bem-vestidos e simpáticos, que se esforçavam para falar português dentro de um dos espaços mais elegantes da cidade, o espírito transgressor era rigorosamente o mesmo que experimentamos no dia anterior – e do qual ainda nos alimentávamos: o desejo de criar uma ética nova, que valha até, e especialmente, para a arte.

“Acho que todo artista se pergunta cedo ou tarde: como minha profissão pode contribuir para o mundo?”, disse Paula, 36 anos, antes de contar que recentemente trabalhou na região do Cariri, no Ceará, e encontrou uma comunidade de mestres sapateiros de enorme talento, mas sem os meios para criar suas peças. “Trabalhos como os que a gente faz”, disse Edgard, “eliminam a figura do herói, do líder, e todos passam a ser iguais”, disse, mostrando mais uma forma de como o design, seja de peças ou de jogos comunitários, pode ser usado como instrumento de transformação social. “Minha timidez se transforma em observação, que é um elemento fundamental para que eu crie”, falou Zanini. “Muitas vezes eu me perguntei: por que produzir coisas num mundo já tão cheio de coisas?”, emendou Paula. “E a resposta só faz sentido, para mim, se aquilo que crio servir como agente de algum tipo de transformação social.”

Paula, Edgard e Zanini, três jovens que, movidos por uma abençoada mistura de indignação, desejo de justiça e talento, vão, de peça em peça, de conexão em conexão, transformando a dura realidade ao nosso redor.

 

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