Não é possível falar sobre educação para o século XXI sem considerar a importância de discussões sobre a igualdade de gênero
Como quem pensa educação, credito à escola parte da responsabilidade de propiciar essa transformação. Não é possível falar sobre educação para o século XXI sem considerar a importância de discussões sobre a igualdade de gênero e o desenvolvimento de habilidades – como argumentação crítica, pensamento lógico, resolução de problemas – sobretudo envolvendo meninas. São elas que sofrem com os vieses da sociedade desde que nascem.
As expectativas de aprendizagem compõem uma outra face do sexismo. Enquanto há ausência de mulheres nas áreas de exatas – já que as garotas não são estimuladas a desenvolver o raciocínio lógico e matemático – os meninos são constantemente preparados para assumir e incorporar essas habilidades. E nada há de natural nesse padrão. O professor de Stanford Paulo Blikstein defende que homens e mulheres são igualmente capazes de aprender. A escolha por tolher a participação feminina na área de exatas é uma decisão da família que, ao longo do processo de escolarização, separa as profissões "de homens" e "de mulheres". Na fala dele, uma fictícia falta de capacidade é atribuída às mulheres quando o tema versa por áreas de exatas.
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Muitas escolas acolhem esse modelo equivocado baseado em uma espécie de acordo tácito. As meninas são incentivadas a ter um comportamento reservado e os garotos a ter mais iniciativa. Como resultado, temos dados como o revelado pela pesquisa conduzida pela ÉNóis – agência de jornalismo que fez um levantamento com mais de 2 mil jovens de 14 a 24 anos, sendo a maioria estudantes da Educação Básica. De acordo com o mapeamento, 77% das meninas apontam que o machismo impacta diretamente no próprio desenvolvimento.
Já na Geekie, muito puxado pelo protagonismo das próprias mulheres que trabalham aqui, temos empreendido um esforço consciente em recrutar mais mulheres para ocupar posições em engenharia, programação e desenvolvimento de produtos, por exemplo. É claro que as contratações são feitas com base no mérito e competência, mas o simples ato de divulgar as oportunidades de trabalho em grupos femininos nos levou de um cenário onde contávamos com apenas uma desenvolvedora para uma realidade onde hoje elas representam 30% do nosso time de programação.
Acredito muito no papel do empreendedorismo na construção de uma nova sociedade, e gosto de pensar que na Geekie estamos criando um ambiente de trabalho no qual as mulheres têm iguais oportunidades.
É o que quero para todas as filhas, não só as minhas.
Claudio Sassaki foi homenageado pelo Trip Transformadores de 2014. Assista aqui sua história.
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